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quinta-feira, 30 de março de 2017

POR QUE A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO É TÃO POLÊMICA?

O SERTÃO VAI VIRAR MAR - Porque, apesar de estar sendo discutida há mais de 150 anos (a primeira vez que alguém teve a ideia de transpor o terceiro maior rio do país foi em 1847, no governo de Dom Pedro II), não há consenso sobre se ela é a melhor maneira de acabar com a seca no Nordeste.




A MODERNA "INDÚSTRIA DA SECA"

De um lado, defensores lembram que a quantidade de água disponível por habitante no semi-árido nordestino é menos da metade do que a ONU estabelece como mínima para a vida humana. Além disso, a escassez já ameaça cidades de médio e grande porte (estima-se que, se nenhuma medida for tomada, Fortaleza entrará em colapso hídrico – uma espécie de apagão de águas – daqui a 20 anos). Já os críticos acham que o maior problema da região é o mau uso da água existente e apontam diversos erros no projeto proposto. Conheça os principais pontos de discordância entre defensores e críticos da transposição.

  • Energia
95% da energia do Nordeste é gerada pelas hidrelétricas localizadas no São Francisco. Qualquer retirada de água causa queda nessa produção.
A defesa: A queda é irrelevante já que o que sairá diariamente equivale ao volume que evapora na represa de Itaparica a cada 10 horas, em períodos de cheia. Também há épocas em que é preciso abrir as comportas das usinas, desperdiçando água.
A crítica: Ao propor a retirada de uma porcentagem da vazão média, o governo ignora as peculiaridades do rio que, na seca, tem vazão bem menor. Nesses períodos, a retirada de 1,4% pode equivaler a quase toda a água do rio.

  • Meio ambiente
O rio sofre degradação ambiental há 500 anos e a água está poluída em diversos trechos.
A defesa: Os pontos de captação foram avaliados e têm água de excelente qualidade. Para o Ibama, os benefícios do empreendimento superam os impactos negativos na natureza. Além disso, está trabalhando na revitalização dos trechos poluídos.
A crítica: Águas poluídas serão levadas aos açudes. Além disso, há risco de salinização e erosão dos rios receptores e também de interferência nos ecossistemas aquáticos e terrestres.
  • Água existente
A maioria dos açudes da região é subutilizada porque a população teme a escassez nos períodos de seca. A água parada faz com que a evaporação seja maior. Outros, que abastecem cidades de médio porte (como Campina Grande), estão trabalhando acima do limite que garante a oferta constante de água.
A defesa: Os açudes ficarão sempre cheios atendendo à demanda e acabando com o medo.
A crítica: Usada de forma correta, a quantidade de água de todos os açudes atenderia à demanda na região até 2012.

  • Uso da água
Cerca de 80% das águas da região vão para a agricultura – e não para o consumo humano, como diz a lei.
A defesa: Só a água excedente – que sobrar após o abastecimento humano e de animais – será aplicada na irrigação, agricultura ou indústria.
A crítica: Como o uso comercial da água dá mais retorno financeiro, a situação atual não deve mudar. Pequenas localidades, em situação crítica, correm o risco de continuar sem água, já que têm pouco dinheiro e poder político.
  • Água nas cidades
O projeto vai viabilizar o fornecimento constante de água bruta (sem tratamento). Os estados serão responsáveis pelo tratamento e distribuição.
A defesa: Os estados se comprometeram a pagar pelo fornecimento de água às cidades. Até 2025, 12 milhões de pessoas em 390 municípios de 4 estados estarão sendo beneficiadas.
A crítica: Os governos estaduais não têm um planejamento real de como será o tratamento e o transporte da água.

  • Custos
Fato: Fazer a transposição e manter a estrutura funcionando têm custos altos. Isso encarecerá a água para o consumidor.
A defesa: O custo final da água será R$ 0,13 por 1000 litros (m3). Isso significa um aumento de 5% a 7% na conta (o que seria pouco, comparado ao que se paga hoje nos períodos de seca, quando o preço do m3 no carro-pipa chega a 7 reais).
A crítica: O aumento na conta será maior do que o previsto – pode chegar a US$ 0,30 por m3. Também há risco de inadimplência, já que boa parte da população da região vive na miséria.


Para cima, ninguém ajuda
Levar a água do rio São Francisco para o Nordeste não é fácil. A água tem que vencer 722 km de terreno árido e íngreme e ser elevada a cerca de 300 metros de altura (no Eixo Leste) e 180 metros (no Norte). Para isso serão usadas, ao todo, 8 estações de bombeamento, 591 km de canais e 12 túneis. Os canais suportam até 127 m3/s de água, mas o governo garante que só serão retirados 26,4 m3/s do rio (1,4% da vazão média). As usinas de Jati e Atalho servem para recuperar dois terços da energia gasta nas estações de bombeamento.

Entenda o projeto
Para tirar 1,4% de água da vazão média do rio São Francisco e levar aos rios temporários (que ficam secos por até 9 meses no ano) de 4 estados do semi-árido nordestino, serão construídos dois eixos: o norte, que abastece Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará; e o leste, que chega a Paraíba e Pernambuco. O governo prevê gasto de bilhões de reais e dois anos de trabalho. (Tratando de obras do governo, os custos vão  ser estratosféricos por  causa do "Jeitinho Brasileiro" de ser - a corrupção - . Já no quesito tempo, é melhor nem comentar....)

A FALÁCIA AMBIENTAL

Euclides da Cunha denunciava no século 19 a inútil grandiosidade dos projetos de irrigação para o Nordeste.

A Transposição do Rio São Francisco – apresentada como uma política de governo voltada para solucionar a problemática da seca em nosso país e que remonta à época do Império – é apropriada para resgatar-se o grande humanista Euclides da Cunha. Há 100 anos, em sua extraordinária obra Os Sertões, na parte inicial que trata da Terra, o autor discutiu com profundidade a problemática do Semiárido brasileiro, segundo aspectos do relevo, do solo, da fauna e flora e do clima da região nordestina. Fez, inclusive, uma abordagem propositiva com relação à seca, desenvolvendo o tema “como se extingue um deserto”. Euclides reportou a experiência do norte da África, relembrando o que os romanos fizeram após vencerem Cartago, atual Tunísia: construíram numa região semidesértica uma nova civilização com base na água.
“Quem atravessa as planícies elevadas da Tunísia, entre Beja e Biserta, à ourela do Saara, encontra ainda, no desembocar dos vales, atravessando normalmente o curso caprichoso e em torcicolos dos oueds, restos de antigas construções romanas. Velhos muradais derruídos, embrechados de silhares e blocos rolados, cobertos em parte pelos detritos de enxurros de vinte séculos, aqueles legados dos grandes colonizadores delatam a um tempo a sua atividade inteligente e o desleixo bárbaro dos árabes que os substituíram. Os romanos depois da tarefa da destruição de Cartago tinham posto ombros à empresa incomparavelmente mais séria de vencer a natureza antagonista. E ali deixaram belíssimo traço de sua expansão histórica.”  Os romanos transformaram Cartago num grande celeiro de produção de alimentos. Por mais de 700 anos, Cartago produziu alimentos para Roma com base num sistema integrado de armazenamento de água em pequenos e médios açudes, com distribuição às áreas de irrigação via canais laterais. Essa experiência, que Euclides da Cunha deve ter conhecido, porque foi retomada pelos franceses no século 19, foi apresentada como exemplo que poderia ter sido reproduzido no Semiárido brasileiro. Ao contrário do projeto “grandioso” que começava naquela época a ser desenvolvido no Brasil, e cujo exemplo mais marcante é o açude do Cedro, em Quixadá Ceará, citado por Euclides como “único, monumental e inútil”. Mal projetado, as obras do Cedro iniciadas no império só terminariam no início do século 20, durante o qual sangrou poucas vezes e apresentou baixíssima eficiência de utilização das suas águas. O senso crítico de Euclides da Cunha aflora ao reportar um acontecimento ocorrido em 1877, no Rio de Janeiro, época de uma grande seca na região Nordeste. O Governo Imperial promoveu na Escola Politécnica do Rio de Janeiro um evento para discutir a questão, trazendo um consultor francês para discorrer sobre a experiência da França na Tunísia. Antevendo o nascimento da indústria das secas no Brasil, Euclides grafou: “Idearam-se, naquela ocasião, luxuosas cisternas de alvenarias, miríades de poços artesianos perfurando as chapadas, depósitos colossais, armazéns desmedidos para as reservas acumuladas, açudes vastos, feitos Cáspios artificiais e, por fim, como para caracterizar bem o desbarate completo da engenharia ante a enormidade dos problemas, estupendos lambiques para a destilação das águas do Atlântico!…”.  E a experiência da Tunísia, obra bem mais prática e mais modesta, que poderia ter sido adotada no Nordeste brasileiro, infelizmente não o foi naquela ocasião nem nos últimos 100 anos. Prevaleceu a política hidráulica como um fim em si mesma. Uma obra descolada do projeto de desenvolvimento regional, que resultou no maior programa de açudagem do mundo e numa extraordinária infraestrutura ociosa de projetos hídricos inconclusos, e em grande parte inviáveis em todos os estados da região. A propósito: em nenhuma das páginas de seu Os Sertões Euclides da Cunha citou a obra de transposição do rio São Francisco, apesar de atualmente ser a mesma decantada pelo governo como uma obra em evidência desde a época do Império.
  (*adaptado de João Abner Guimarães Jr)

O Sertão Vai Virar Mar

O homem chega já desfaz a natureza
Tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia, vai subir bem devagar
E passo a passo, vai cumprindo a profecia 
Do beato que dizia que o sertão ia alagar 
O sertão vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
O sertão vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
Adeus Remanso, Casanova, Sentisé 
Adeus Pilão Arcado veio o rio te engolir 
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira 
Por cima da cachoeira, o Gaiola vai subir 
Vai ter barragem no Satu do Sobradinho 
O povo vai se embora com medo de se afogar 
O sertão vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
Vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
Adeus Remanso, Casanova, Sentisé 
Adeus Pilão Arcado veio o rio te engolir 
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira 
Por cima da cachoeira, o Gaiola vai subir 
Vai ter barragem no Satu do Sobradinho 
O povo vai se embora com medo de se afogar 
O sertão vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
Vai virar mar 
Dói no coração 
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão 
Remanso, Casanova, Sentisé 
Pilão Arcado, Sobradinho, adeus, adeus 
Remanso, Casanova, Sentisé 
Sobradinho, adeus, adeus 
Remanso, Casanova, Sentisé 
Sobradinho, adeus, adeus



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Referências 
superinteressante.
opovo.com.br 
mma.gov.br

Um comentário:

  1. Coitado do VELHO CHICO.... cada dia mais seco..
    São Bilhões de Reais indo " pro ralo", e a natureza bela desaparecendo, esvaindo pela ambição das propinas e estudos mal feitos.

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