O futebol é um elemento importante para a população e está presente no cotidiano escolar. Esse esporte influencia a vida da população e as paisagens das cidades. Considerando isso, busca-se, novas formas de trabalhar a Geografia na escola e trazer elementos do cotidiano dos alunos para a sala de aula.
Introdução
Falar de futebol como parte efetiva da vida urbana é um desafio. Desafio de buscar dentro do cotidiano de uma população, tratar deste esporte, não como uma mera diversão, mas como um transformador de espaço e por que não dizer, um gerador de nova espacialização. O Futebol, ainda é o mais popular esporte no Brasil. Todos os anos, o Campeonato Brasileiro de Futebol, organizado pela CBF, consagra o melhor clube de futebol do país. Além de ser um campeonato que instiga grandes rivalidades, o Brasileirão está impregnado de “geografices”. Estas podem enaltecer aspectos importantes acerca da organização espacial do futebol e do esporte brasileiro, bem como podem evidenciar as desigualdades do espaço quanto a esta prática esportiva.
1- Origem do futebol
Voltando um pouco no tempo, em busca da origem deste esporte, percebemos que a primeira dificuldade é estabelecer com clareza a sua origem. Historiadores descobriram que culturas antigas já praticavam esportes semelhantes ao futebol, pois tinham a bola como parte efetiva do jogo, mesmo que sem as regras e formato que o futebol tem na atualidade. A simplicidade e as regras fáceis de assimilação podem ter sido a principal razão para que, ao longo do tempo despertasse tanto interesse e chegasse a ser hoje uma paixão não só brasileira, como também em cantos mais longínquos do planeta.
Não existe um espaço rígido para se praticar este esporte, nem mesmo equipamentos especializados ou vestes exclusivas para o futebol. Uma pequena área, uma bola de meia e pelo menos dois atletas e aí está um ambiente propício a prática deste esporte.
- Na China Antiga, cerca de 3 mil anos antes de Cristo, os chineses jogavam um esporte onde a “bola” era a cabeça de inimigos derrotados nas guerras. Com o tempo, substituíram por bolas de couro com revestimento de cabelos e jogava-se entre equipes formadas por oito pessoas onde o objetivo era passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão até uma trave formada por duas estacas ligadas por um fio de cera.
- Ainda no oriente, o Japão Antigo foi palco de um esporte também muito semelhante ao futebol, que levava o nome de Kemari. A bola era feita de broto de bambu e o campo tinha aproximadamente duzentos m², também com equipes de oito jogadores.
- Na Grécia existiu o Episkiros, datado do século I a.C. com equipes de nove jogadores e num terreno retangular e com bola confeccionada de bexiga de boi. Em Esparta, os campos eram maiores e as equipes tinham quinze jogadores cada.
- Na Idade Média estes esportes tomaram uma conotação violenta e normalmente eram praticados por militares divididos em duas equipes, uma de atacantes e outra de defensores, sendo permitido usarem socos, pontapés, rasteiras e outros golpes violentos, com equipes de vinte e sete jogadores. Eram comuns as mortes dentro de campo. A regra era do vale tudo.
- No século XVII o futebol propriamente dito surge a partir da criação de regras para o esporte praticado em outros países, especialmente na Itália, sendo as principais a delimitação do tamanho do campo, do número de atletas, e passou a ser praticado por nobres e estudantes. Surgem as traves e a bola de couro. Foi ganhando espaço entre a população, tendo suas regras estabelecidas em 1848, em conferência realizada na cidade de Cambridge. Em 1871 surge o goleiro, então chamado de guarda-redes. Quatro anos mais tarde foi estabelecido o tempo de 90 minutos e em 1891 criado o pênalti, para punir falta dentro da área. Em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento.
- Criada em 1904, a FIFA (Federação Internacional de Futebol Association) é a entidade que até hoje organiza o futebol mundial.
2 - Futebol no Brasil
No Brasil, consta que o principal responsável pela chegada do futebol é o inglês Charles Miller, que após retornar da Inglaterra onde foi para estudar, trouxe uma bola em sua bagagem e as regras para a prática deste esporte. O registro da primeira partida de futebol no país consta de 15 de abril de 1895 num jogo entre funcionários de empresas inglesas do Funcionários da Companhia de Gás x Cia. Ferroviaria São Paulo Railway. Inicialmente funcionando como apenas mais um modismo importado dos ingleses, prática restrita aos poucos jovens da elite republicana, o futebol se popularizou rapidamente. Sua difusão espacial expressiva permitiu que se tornasse uma poderosa instituição nacional.
O primeiro time criado no Brasil foi o São Paulo Athletic, fundado em 13 de maio de 1888. Foi um esporte criado para atender apenas a elite, sendo excluídos os negros. O Vasco da Gama foi o primeiro time a admitir em seus quadros um jogador de cor negra, no ano de 1918 e com isso abriu caminho para que os outros clubes seguissem esse caminho. O Fluminense chegou a ter em seus quadros um jogador negro que pintava seu rosto de pó de arroz para atuar sem ser discriminado, daí o apelido que se dá aos torcedores do clube das Laranjeiras.
3- O futebol e as transformações do espaço local
O esporte futebol não é um mero coadjuvante na realidade atual. Além de ser um dos esportes mais praticados em todo o planeta, trás em si aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos, que, de uma maneira ou de outra repercutem no espaço. Além de divertir, ele transforma-se em uma fonte de geração de renda, não só para o clube através de seus patrocinadores e torcedores, mas, para todos os que exercem atividades relacionadas com o mesmo. Ele pode ser inclusive fonte turística.
Segundo o Professor José Alberto Afonso Alexandre, da Universidade de Aveiro (Portugal), [...] a evolução do fenômeno futebolístico anda a par com a evolução das práticas turísticas e de lazer que cada vez mais caracterizam as sociedades modernas. O futebol considerado o desporto "rei", arrasta multidões para os estádios, provoca calorosos debates, além da sua importância econômica, social e espacial, pois gera fontes de riqueza e altera o ordenamento dos espaços. O futebol é espacial por natureza, pois cria uma identidade territorial, cobrindo de forma organizada todo o país, apresentando uma desigual implantação geográfica.
3.a - O comércio
Tomando como referência o o Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, é um estádio de futebol localizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Como a principal praça esportiva utilizada para a prática do futebol profissional na cidade, existe um comércio variado e com geração de renda.
- É grande o número de vendedores ambulantes dentro e fora do estádio. A maioria deles contrata pelo menos mais um ajudante para trabalho temporário. Do lado de fora do estádio, centenas de ambulantes com suas barracas ou bancas improvisadas, aproveitam para vender bebidas, alimentos, souvenirs, camisas, flâmulas bandeiras e outros produtos.
- A mobilidade de torcedores que se dirigem ao estádio é outro ponto que merece destaque. Pessoas de todas as idades, se dirigem rumo à praça esportiva; de cidades vizinhas, dos bairros da capital, até mesmo de outros estados, São milhares de pessoas, que se deslocam, a pé ou através das linhas fixas do transporte publico, ou ainda as linhas de transporte coletivo que são colocadas à disposição nos dias de jogos, saindo direto dos bairros para o estádio e no sentido contrário ao final das partidas. Veículos particulares, táxis e outros meios de transporte por aplicativos são usados, gerando um livre comércio.
- Outra forma de geração de renda em torno desse novo lugar dentro do cotidiano da cidade é com os estacionamentos. Não só nos estacionamentos da própria praça esportiva, onde dezenas de pessoas trabalham. Mas os próprios moradores da região, muitas vezes colocam “à disposição” terrenos e garagens para os torcedores guardarem seus veículos a valores exorbitantes. Nas ruas e avenidas adjacentes ao estádio aparecem “flanelinhas” (“guardadores” de veículos) de todos os lados como “praga urbana”.
Portanto, o plano do lugar pode ser entendido como a base da reprodução da vida e espaço da constituição da identidade criada na relação entre os usos, pois é através do uso que o cidadão se relaciona com o lugar e com o outro, , tecendo uma rede de relações que sustentam a vida, conferindo-lhes sentido. É assim, por exemplo, que a cidade – enquanto articulação de lugares – produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo, criando identificações. (CARLOS, 2004)
3.b - Concentração Espacial
É notável a concentração dos clubes na elite do futebol brasileiro em estados com costa litorânea. O interior do país, com exceção de Minas Gerais e Goiás, apresentam as menores participações (notadamente as regiões Norte e Centro-Oeste). Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins e Acre, todos estados da Região Norte, nunca tiveram um clube na elite nacional.
Quando o assunto são os títulos da primeira divisão nacional, o estado de São Paulo se destaca perante os demais. Palmeiras (9), Santos (8), Corinthians (6), São Paulo (6) e Guarani (1) conquistaram 30 títulos ao todo para o estado. Também é em São Paulo onde encontramos os únicos campeões nacionais sediados fora de uma capital estadual: o Santos, do município homônimo, e o Guarani, de Campinas. Flamengo (5), Fluminense (4), Vasco (4) e Botafogo (2) colocam o RJ em segundo lugar no ranking de títulos, com 15 ao todo, a metade dos vizinhos. A dupla Gre-nal acumula 5 títulos para o estado do Rio Grande do Sul, 3 para o Inter e 2 para o Grêmio, mesmo número de canecos levantados por Minas Gerais com Cruzeiro (4) e Atlético (1). Completando a lista, Bahia e Paraná apresentam 2 títulos, enquanto o Pernambuco, 1.
Em uma análise mais específica sobre o Brasileirão de 2017, podemos notar uma predominância dos processos de centralização espacial dos clubes apresentados anteriormente.
- Sudeste apresenta 11 participantes (5 de SP, 4 do RJ e 2 de MG),
- Sul, 5 (2 do PR, 2 de SC e 1 do RS),
- Nordeste, 3 (2 da BA e 1 de PE),
- Centro-Oeste terá apenas um representante.
- Norte - nenhum
Assim, podemos entender que, apesar de sermos reconhecidos como o país do futebol, apenas uma parte do país apresenta de fato clubes de repercussão nacional. Notadamente, o leste brasileiro e as grandes cidades concentram este tipo de futebol. Obviamente, a espacialização deste esporte não pode ser medida apenas pela existência de grandes clubes, pois ele está deveras inserido na realidade brasileira, ilustrado em campos de várzea e de “peladas” no futebol amador Brasil afora. Tal diferenciação do espaço futebolístico deve ser analisada e questionada para de fato entendermos os fatores condicionantes para a concentração dos fluxos de capital, de investimento e de mídia deste esporte em apenas uma parcela do país.
Conclusão
Uma associação entre o futebol e a Geografia pode gerar uma análise de como os aspectos culturais podem agir sobre a paisagem, podem modificá-la conforme as necessidades envolvidas. A análise das transformações espaciais relacionadas ao futebol é uma possibilidade importante para se desenvolver atividades com os alunos. Isso representa uma possibilidade de criar práticas pedagógicas que estão mais envolvidas com dia a dia dos alunos.
Referências Bibliográficas
http://www.fluminense.com.br/site/futebol/2015/05/13/conheca-a-verdadeira-historia-sobre-a-origem-do-po-de-arroz/
http://monografias.brasilescola.uol.com.br/geografia/geografia-futebolesporte-como-produtor-novosespacos-.htm
http://www.geografiaopinativa.com.br/2017/03/geografia-campeonato-brasileiro-futebol.html
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/62792/Ensino2011_Resumo_17694.pdf?sequence=1
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