Em meio à densidade da Floresta Amazônica existem clareiras misteriosas que contrastam com a diversidade da vegetação, pois neles só cresce praticamente uma única espécie de árvore. São os chamados "jardins do diabo", onde, segundo reza a lenda na região, habitariam espíritos malignos da floresta.
O Jardim do Diabo é um livro do autor Luís Fernando Veríssimo, publicado em 1988, porém a matéria não é sobre o romance.
A PAISAGISTA
Na Amazônia peruana, há uma formiga que é uma impressionante paisagista. Elimina todas as espécies de árvores da área da floresta tropical, menos uma. Esta é a descoberta de Megan Frederickson, da Universidade de Stanford (EUA), que estudou o que na região é conhecido como "jardins do diabo", áreas onde cerca de um terço é dominado quase totalmente por um tipo de árvore, Duroia hirsuta. Reza a lenda que tais áreas são trabalho de um espírito da floresta. Os cientistas tinham duas teorias: a própria D. hirsuta seria responsável, ao produzir um solo tóxico para outras espécies, ou a culpada seria uma formiga que vive em cavidades nas árvores, a Myrmelachista schumanni. As observações de Frederickson mostraram que a responsabilidade é das formigas, que atacam os brotos das outras espécies de árvores, injetando ácido fórmico nas folhas. Outras formigas usam essa substância para matar parasitas ou predadores. Mas a formiga é a primeira a usar o ácido como herbicida. "Elas atacam as plantas da mesma forma que outras formigas da sua família atacariam outro inseto", explica. "Elas agarram o tecido com as mandíbulas, fazem um buraco, enfiam o abdome e soltam algumas gotas." Os brotos perdem a maior parte das folhas em cinco dias e morrem em semanas. Segundo Frederickson, elas parecem usar sinais químicos para determinar quais espécies atacar. O comportamento beneficia tanto a árvore quanto a formiga. Sem concorrentes, a árvore consegue mais luz e nutrientes. E quanto mais o "jardim do diabo" se expande, mais espaço têm as formigas. As colônias podem ser imensas, com 1 milhão ou mais de trabalhadoras e cerca de 15 mil rainhas, e podem existir por séculos. Uma área com 351 árvores é cuidada pela mesma colônia há mais de 800 anos.
FENÔMENO SOBRENATURAL
Nativos evitam clarões misteriosos na mata, onde ocorre curiosa simbiose de árvore com inseto.
A árvore duroia (Duroia hirsuta),
considerada a favorita dos seres sobrenaturais, de acordo com os
nativos. À noite, segundo as lendas, eles limpariam as ervas daninhas do
jardim e evitariam que qualquer outra planta no local cresça. Assim,
ninguém se atreve a entrar nessas áreas após o pôr-do-sol. Mas, os cientistas encontraram, no entanto, outra explicação para o fenômeno
inusitado, quase tão fascinante quanto a versão dos habitantes da
floresta.
REALIDADE ALTERNATIVA
As hastes das folhas das árvores têm inchaços por onde entram e saem pequenas formigas Myrmelachista schumanni . Essas câmaras são seu habitat, desenvolvido especialmente para elas pelas árvores. A salvo de predadores, as formigas guardam nelas seus ovos e larvas. Elas contam ainda com um armário de mantimentos: se alimentam do líquido doce de outros pequenos insetos.
A oferta de hospedagem também beneficia a árvore nessa curiosa simbiose,
uma vez que as formigas oferecem um serviço valioso: protegê-la de seus
inimigos.
Os insetos se alimentam de maneira geral de folhas de plantas, se têm
oportunidade... mas no caso das duroias, protegidas por um exército
peculiar, eles não têm vez.
Isso também vale para os insetos de grande porte - alguns chegam a ser
milhares de vezes maior do que as formigas. Diante do 'invasor', esses
soldados minúsculos adotam uma estratégia: identificam seu ponto fraco e
atacam, até que ele se renda.
Regularmente, pelotões de formigas deixam seus quartéis para patrulhar a vizinhança. Quando se deparam com um broto novo, fazem uma inspeção. Se descobrem que é da família de seu hospedeiro, deixam-no em paz. Se é um intruso, o ataque começa mordendo seus ramos. Quando chegam os reforços, centenas de pequenas garras ferem a planta constantemente, até que ela comece a murchar.
Mas a mordida não é a única arma das formigas. Elas também injetam ácido fórmico nas feridas da vítima.
O ácido fórmico é um herbicida orgânico que os seres humanos usam para conservar alimentos, enquanto as urtigas e formigas o utilizam como urticante. O sabor deste ácido inspirou o nome popular das aguerridas Myrmelachista schumanni : formigas-limão.
O veneno se espalha por meio dos tecidos, acelerando a morte. A formiga poupa só uma árvore no jardim do diabo. Em questão de dias, com a morte dos intrusos, as formigas ampliam seu jardim.
Essa técnica drástica de jardinagem traz benefícios tanto para a árvore quanto para as formigas. Ao assegurar a seu anfitrião mais espaço para expandir sem competição,
as formigas garantem também mais moradias para que possam se reproduzir e
aumentar seus exércitos.
Referências
https://pib.socioambiental.org/en/noticias?id=34365
http://es.rfi.fr/ciencia/20161125-el-arbol-y-la-hormiga
https://pt.wikipedia.org/wiki
http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/02/1856593-jardins-do-diabo-a-arvore-amazonica-que-abriga-um-exercito-assassino.shtml?cmpid=fbciencia
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