Aproveitando a chegada do Halloween , vamos conhecer um pouco mais sobre nossa mitologia tupiniquim. As criaturas fantásticas do folclore brasileiro trazem em seus corpos as marcas de sua origem na junção das culturas europeia, africana e indígena. Normalmente vinculados a regiões específicas do Brasil, muitos destes seres monstruosos ultrapassaram suas fronteiras geográficas graças a obras de Monteiro Lobato - O Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Todavia, se por um lado essa exposição apresentou Saci-Pererê, Cuca, Mula-sem-cabeça, Curupira, boitatá e Iara, dentre outros, por outro ela provocou uma diluição e infantilização destes seres enquanto agentes do medo. O fato, porém, é que o folclore brasileiro é repleto de seres que poderiam (e deveriam) ser explorados em produções além das relacionadas ao público infantil. Como o Terror e o Horror, que não fariam feio em filmes.
BRADADOR
Região: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina
Imagina você na madruga dormindo e de repente começa a ouvir gritos assustadores! O Bradador é um espectro que solta gritos e uivos tenebrosos ao redor das casas ou nos caminhos frequentados por ele/ela. Apesar de não possuir uma forma definida, o que distingue este fantasma da noite dos demais espíritos são os berros de lamúria pela sua penitência, que deixam os ouvintes da região assombrada de cabelos em pé. O Bradador é uma alma que cometeu pecados em demasia e não encontra o descanso divino.
CAPELOBO
Região: Pará, Maranhão(Cupelobo)
Habitando a região do rio Xingu, o Capelobo causa muito medo nas populações indígenas. Possuindo forma humana coberta de pelos negros e patas redondas, esta criatura é apresentada possuindo ora cabeça de anta, ora cabeça de tamanduá. O Capelobo sai a noite, sempre anunciando sua chegada por meio de urros e gritos, e percorre barracões e acampamentos carregando cães, gatos e crianças recém-nascidas com ele. Também é chamado de “Lobisomem dos índios”. Quando pega um homem ou animal a criatura aperta a vitima em um abraço mortal, abre um orifício em sua cabeça para enfiar a ponta de seu focinho nela e suga toda a massa encefálica do infeliz. Enquanto agente do medo, o Capelobo só perde em popularidade na região do Pará para o Mapinguari e, semelhante a ele, só pode ser morto com um tiro no umbigo.
CORPO-SECO
Região: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Nordeste do Brasil
Esse aí nem o Diabo quis. Quando a pessoa passa pela vida semeando o mal, principalmente contra o pai e a mãe, pratica incesto e é avarenta, ao morrer a sua alma não é acolhida nem pelo céu e nem pelo inferno, levando a terra a jogar o corpo para fora do túmulo. O Corpo-seco tem o corpo magro, ressequido, semelhante a uma múmia e seu corpo é um aviso da perdição da alma. Repousando em seu tumulo de dia, esse esqueleto coberto de pele percorre, durante a noite, os lugares que frequentou em vida. É nosso zumbi brazuca. É costume que a família da criatura tente acabar com sua penitência promovendo missas e distribuindo esmolas, além de encher o caixão com cal, na esperança de que o corpo se dissolva.
CURACANGA/ CUMACANGA
Região: Maranhão e Pará
Quando qualquer mulher tem sete filhas, a última vira Curacanga, ou seja, a cabeça solta do corpo e, em forma de bola de fogo, percorre os campos e caminhos apavorando os viajantes. Esta criatura tem sua origem na Europa medieval na crença de que a sétima filha seria uma seguidora de Satanás. Não apenas na Europa, mas também na Ásia, há a tradição de cabeças humanas que voam destacadas do corpo espalhando o terror.
LABATUT
Região: Rio Grande do Norte, Ceará
O Labatut é um ser enorme, de pés redondos, corpo coberto de pelos ásperos, dentes que saem da boca com aparência de presas de elefante e dono de um só olho no meio da testa. Monstro canibal, guardando semelhança com os ciclopes da mitologia grega, ele prefere comer meninos porque são menos duros que os adultos. Costuma parar nas portas das casas para ouvir quem está falando alto ou cantando. Essas são as suas vitimas preferidas. Sua origem está relacionada a um general francês do século dezenove de nome Pedro Labatut, cuja violência e crueldade deixaram marcas nas lembranças dos moradores do Ceará na década de 1830, levando-o a assumir forma monstruosa nos relatos do povo.
MAPINGUARI
Região: Amazônica
Esta é a criatura folclórica com mais registros de avistamentos na região amazônica. O mais popular monstro da Amazônia, o Mapinguari é o terror de caçadores e trabalhadores que atuam na floresta, pois ele mata e devora quem encontrar pela frente. É descrito por testemunhas como um homem agigantado, coberto de pelos negros, unhas em garras, apenas um olho e com uma gigantesca boca vertical que vai do nariz até o estomago. O ponto fraco da criatura é o umbigo. Ao pegar um homem, enfia a cabeça da pessoa na bocarra e masca a cabeça de forma lenta, depois arranca a carne da vitima em pedaços. Diferente de outras criaturas fantásticas, o mapinguari dorme a noite e anda de dia, sempre anunciando sua chegada com gritos e uivos. Tendo o nome derivado possivelmente de mbaé-pi-guari (a coisa que tem o pé torto) o mapinguari é considerado uma possibilidade real por alguns estudiosos. David Oren, ornitólogo americano naturalizado brasileiro, acredita que o monstro possa ser um exemplar sobrevivente de um megatério – uma preguiça gigante que habitou a região há 10.000 anos.
MÃO PELUDA/CABELUDA
Região: Minas Gerais
Vai um mãozinha aí? Espantalho das crianças, este espectro vai até a cama dessas para verificar se elas urinaram no leito. Para isso, o Mão Peluda usa suas mãos macias, sedosas e feita de pelos para tocar o sexo dos meninos e meninas. Fantasma pedófilo? É um fantasma magro, de forma humana e roupa branca. O folclorista Luiz Câmara Cascudo registra em Geografia dos mitos brasileiros que no Sul de Minas é comum a frase caipira: “Óia, si nêném mijá na cama, Mão Peluda vem ti pegá e corta a minhoquinha de nêném…”
PAPA-FIGO/HOMEM DO SACO
Região: Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Minas gerais
Câmara Cascudo chama o Papa-figo de “O lobisomem das cidades”. É um negro velho, alto, sujo, pálido, vestindo farrapos e com um saco nas costas no qual coloca crianças raptadas para comer-lhes o fígado ou vender o órgão para leprosos ricos. A imagem do Papa-figo parte de um episódio real ocorrido em Natal no ano de 1938 quando dois negros adoentados foram presos após levarem duas crianças com eles. A repetição da ocorrência no Ceará e em Pernambuco acabou criando a imagem do ser folclórico. Quando crianças, cristãos desapareciam na Idade Média, eram costume acusar leprosos e judeus pelo sumiço. Percebe-se nesta lenda a sobrevivência da crença, ligada a Grécia e a Roma antiga, no simbolismo do fígado como responsável absoluto pelo equilíbrio da saúde humana. A partir dai, já na Idade Média, ocorriam relatos de leprosos que, para se livrarem do sofrimento da doença, matavam crianças para beber o sangue e comer o fígado. Hoje a Hanseníase, nome que substituiu a Lepra, é uma doença perfeitamente tratável, o que ajuda a diminuir a crença nesta lenda e o preconceito contra as pessoas acometidas pela doença.
PISADEIRA
Região: São Paulo, fronteira de Minas Gerais
Criatura de presença universal que assume faces diferentes. Ela é descrita como uma velha muito magra, cabelos compridos e secos, unhas grandes semelhantes a garras, pernas curtas, nariz fino e olhos vermelhos. A Pisadeira chegou ao Brasil via Portugal, onde a criatura ataca durante o sono descendo pelas chaminés e pisando no peito das pessoas para provocar pesadelos.Em português e espanhol (pesadilla) deriva de “peso”, “pesado”. Todas as culturas tem em um íncubo, demônio ou outro espírito maléfico a explicação para os pesadelos noturnos.
QUIBUNGO
Região: Bahia
Ele é o Bicho Papão negro. Devorador de crianças, o Quibungo pertence aos pavores noturnos infantis e traz elementos do Papa-figo pela cor negra do personagem e pela grande boca nas costas onde ele enfia as crianças descuidadas. É apresentado como um ser meio homem, meio animal que tem uma cabeça muito grande e uma bocarra nas costas, que se abre quando ele abaixa a cabeça e se fecha quando ele levanta. O monstro pode ser morto por tiro, faca e paulada. Pertencente a tradição oral afro-brasileira, ele come as crianças abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando dentro os pequenos. Seu nome está ligado ao Congo e Angola, onde a palavra n’bundo significa “Lobo”. Posteriormente o termo virou qui-n’bungo.
TAU E KERANA - OS 7 MONSTROS LENDÁRIOS
A história de Tau e Kerana é uma das mais conhecidas na mitologia guarani,. Kerana era filha de Marangatu e neta de Rupave e Sypave, que foram os primeiros humanos criados por Tupã. Tau era o espírito do mal, que se apaixonou por Kerana e vivia assumindo várias formas para tentar conquistá-la, mas sem sucesso. Tau resolveu então capturá-la. . Contudo, Angatupyry resolveu interferir. Ele era o espírito do bem e o o porto de Tau. Os dois lutaram por 7 dias e 7 noites, até que Tau foi finalmente derrotado. Mas de alguma forma ele conseguiu ainda voltar e fugir com Kerana. A história não deixa claro se o amor era ou não correspondido, porém, como castigo pelo amor proibido, a deusa Araci amaldiçoou o casal para que seus filhos nascessem como terríveis monstros. Apenas o quarto filho, entre sete, nasceu com aparência humana. Esses filhos passariam a ser conhecidos como bestas lendárias, sendo espíritos ou deuses protetores, cada um no seu domínio. São eles:
1 - Teju Jagua -
O primogênito. Possui um grande corpo réptil e cabeças de cachorro(em algumas versões sete cabeças ou apenas uma cabeça de lobo em outras). Era considerado o deus das cavernas, grutas, lagos subterrâneos e protetor das frutas. Apesar de seu tamanho e aparência assustadora, costumava alimentar-se apenas de frutas e mel. Porém, caso avistasse algum humano roubando suas frutas, o arrastava até sua caverna, onde seria devorado. Também é contado que em sua caverna existiria um grandioso tesouro. E por deitar e rolar por tanto tempo sobre ele, sua pele ficou dourada e coberta de pedras preciosas. Aos entardeceres, durante o verão, contam ainda que possível ver Teju e seu irmão Jaci indo beber água em alguns lagos localizados no Paraguai.
2 - Mboi Tu'i
Segundo filho de Tau e Kerana, considerado deus das águas e criaturas marinhas. Possui um corpo de serpente, cabeça de papagaio e a língua furada e com a cor do sangue. Mesmo sem asas, contam que era capaz de voar, apesar de não se afastar muito do chão. Subia em montanhas e grandes rochas para procurar seu alimento, frutas e neblina. Contudo, sua moradia fica mesmo nos desertos. Não se alimenta nem ataca humanos, mas cruzar os olhares com essa criatura, além de aterrorizante, trás má sorte. Mas para proteger os animais de seus domínios, Mboi Tu'i é capaz de soltar um grito que se espalhas pelos 4 pontos e afugenta qualquer ser com más intenções.
3 - Moñai
Terceiro filho, é o protetor da terra e do vento, também chamado de senhor dos campos. Possui um corpo de serpente e um par de chifre que funcionam com antenas e podem ser usadas para hipnotizar outros seres. Além disso, possui dentes tão afiados quanto agulhas. Apesar de sua aparência, não ataca humanos ou animais, com exceção de pássaros, que são sua fonte de alimento. Pelo contrário, atua como protetor de todo tipo de ser vivente. Existe ainda uma história sobre o fim dos irmãos, que conta que ele gostava de roubar algumas coisas nas vilas próximas, até o ponto em que todo objeto que sumia, a culpa era atribuída a Moñai. Um dia, os moradores resolveram armar um plano para lidar com a criatura e uma jovem chamada Porací fingiu se apaixonar por Moñai. Quando estava com ele e seus irmãos dentro de uma caverna, ela sairia para que os moradores incendiassem o local. Porém, como saída foi fechada, ela ficou presa lá dentro. E apesar da resistência dos outros, ela insistiu que incendiassem assim mesmo, e assim foi feito, sendo ela queimada junto com Moñai e seus irmãos. Como recompensa pelo sacrifício, os deuses transformaram Porací na estrela que surgiria na aurora, a estrela d'alva.
4 - Jaci Jaterê
O quarto filho, foi o único a nascer em formas humanas, um pequeno homem ou uma criança loira de olhos azuis, carregando um cajado mágico. Seu nome significa "pedaço da lua". Ele é considerado o senhor da sesta, que é o descanso após o almoço. E as crianças que desrespeitavam esse momento, eram enfeitiçadas por seu cajado e levadas até um local secreto da floresta, onde brincavam até o fim da sesta, recebendo um beijo mágico, que as devolvia para suas camas, sem lembrar do que havia acontecido. Outras versões contam que ele também poderia levá-las até seu irmão mais novo, Ao Ao, para serem devoradas. Como seu poder vem de seu cajado, caso alguém o tire dele, Jaci se joga no chão e esperneia igual criança. Nesse momento, se alguém lhe perguntar sobre tesouros escondidos, ele poderá dar uma recompensa em troca do cajado. Alguns dizem que Jaci Jaterê possa ser a versão original do Saci Pererê, alterada por influências africanas e europeias.
5 - Kurupi
Quinto filho, talvez seja o mais asqueroso entre os irmãos. É considerado o senhor da sexualidade e fertilidade. Um pequeno homúnculo de cor amarelada ou esverdeada, dentes afiados, cabelo bagunçado e um pênis extremamente longo, enrolado no corpo. Conta-se que se alimenta de filhotes e crianças recém nascidas e solta gargalhadas odiosas enquanto as come, além de soltar gritos que apavorariam até o mais corajoso dos homens. Seu longo membro é usando para se pendurar em árvores, atacar e estuprar caçadores e índios perdidos na floresta, além de estuprar e engravidar virgens, fazendo nascer seres híbridos que atormentariam as vilas. Por outro lado, como senhor da fertilidade, ajudava as pessoas a terem seus filhos, sendo também protetor dos animais e das frutas.
6 - Ao Ao
O sexto filho, é uma criatura selvagem, descrita como um carneiro com longas presas e garras afiadas. Seu nome viria do som que ele faz ao perseguir suas presas. Seu alimento são seres humanos e, por isso, é considerado canibal. Afinal, apesar de sua aparência, assim como seus irmãos, ele é meio humano. Quando avista sua presa ele corre a distância que for e para apenas depois de alcançar sua vítima. Caso o alvo suba em uma árvore, ele cava as raízes até ela cair. A única forma de escapar é subindo em uma palmeira, que tem propriedades mágicas que o repelem, o fazendo desistir e procurar outra presa. Além de um caçador feroz, era conhecido também por sua potência sexual, de forma que chegou a ser considerado deus da fertilidade. Teve vários filhos iguais a ele e juntos são senhores das colinas e montanhas.
7 - Luison
O sétimo e último filho de Tau e Kerana, possuía uma aparência humanoide, mas extremamente feio, com um longo cabelo que cobria parte de sua face e corpo, além de feder como a podridão de um cadáver. Sua mera presença era tão repugnante que causava terror e maldição para quem o encontrasse. Era considerado o senhor da noite e da morte, habitando os cemitérios e locais com solo manchado pela morte de pessoas. Se alimenta da carne dos mortos e se conta que aparece apenas nas noites de segunda, quarta e sexta. Se tocasse em alguém com suas mãos frias, significava que os dias dessa pessoa estavam contados. Com o tempo, por conta de influências europeias, passou a ser descritos com características mais próximas a de um lobisomem, que é inclusive a origem do nome Luison. Seu nome original, antes dessas influências, acabou se perdendo.
Cascudo, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro
É bom ver que tem pessoas que valorizam a nossa rica cultura brasileira, ótimo post 👍🏼
ResponderExcluirartigo magnifico... valoriza nossa cultura, parabens prof omar.
ResponderExcluirPesquisando sobre folclore e lendas urbanas, descobri seu blog.. excelente material. Obrigado por difundir nossa cultura, o país precisa de mais pessoas como vc.
ResponderExcluirbrasileiro tem uma uma ideia de que tudo q é bom vem de fora , esquece que aqui tem muita coisa interessante, bonita, valorizada pelos estrangeiros e não reconhecida por nós. parabéns pelo artigo
ResponderExcluirvdd os jovens são capazes de reconhecer os super-heróis americanos, japoneses, mangá, pokemons, interessam pelo mitologia grega, romana, nórdica, etc. mas são incapazes de ler a nossa mitologia, conhecer nossos deuses
ResponderExcluirmuito bom.. parabéns por mostrar nossa cultura para o mundo
ResponderExcluirnossa mitologia é vasta, rica, interessante e deve ser mostrada para o mundo
ResponderExcluirmuito interessante, não conhecia a maioria dessas lendas
ResponderExcluirNo Brasil tudo é copiado, em nossa cultura não tem halloween, não entendo o porquê de querer enfiar goela adentro essa cultura norte americana. Só falta querer comemorar El día de los muertos.
ResponderExcluir