Tudo é superlativo na tragédia provocada pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas. Os títulos, porém, não são motivo de orgulho. O desastre ambiental é o pior da história do Brasil, superando com folga casos como o césio-137, em 1987, em Goiânia, e o vazamento de rejeitos químicos da Indústria Cataguases de Papel e Celulose Ltda, em 2003, na região da Zona da Mata mineira. Ele também é o maior do mundo em volume envolvendo outras barragens de mineração.
É um desastre impressionante em todos os aspectos. Com certeza está entre as dez piores tragédias ambientais da história, O cenário que foi visto após a passagem da onda de lama e rejeitos é comparável ao de grandes conflitos. É como se fosse a devastação de uma guerra. O dano é extenso e deverá ficar como uma cicatriz que marcará Minas Gerais para sempre a partir de agora.
O dia 5 de novembro de 2015 foi marcado por um evento de proporções catastróficas para o Brasil, quiça para o mundo. Foi no distrito de Bento Rodrigues, Mariana/ MG que duas barragens de rejeitos de mineração da Samarco, empresa controlada pela Vale e pela multinacional BHP, se rompeu, lançando uma avalanche de lama, seguiu pelo curso do Rio Doce até chegar ao Espírito Santo e se espalhar no Oceano Atlântico.
Situado na Região Sudeste do Brasil, o Rio Doce banha os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, essas águas foi sustento de muitas famílias na região, seja em forma de pesca e como meio de locomoção e até mesmo lazer, foi totalmente destruído e poderá levar séculos para voltar ao normal.
Com cerca de 853 km de extensão, desembocando no mar pode-se imaginar a magnitude desse desastre. De acordo com as estatísticas 19 pessoas foram mortas. Porém não teve como contabilizar as inúmeras outras vidas Nas semanas que se seguiram, algumas análises indicavam um apocalipse ambiental. A ressurreição do rio está longe da realidade. Dos 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos lançados no ambiente, pelo menos 40 milhões continuam lá, depositados nas margens e arredores do Rio Doce. As empresas responsáveis pelo desastre, em especial a Samarco, não realizam as obras necessárias de remoção. A chegada da temporada de chuva pode trazer mais danos para a região.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) fez duas operações de vistoria na região onde se concentra a maior parte da lama, entre Bento Gonçalves e a Barragem de Candonga, no Rio Doce. As operações tinham dois objetivos: fazer um balanço do dano e avaliar se a Samarco estava cumprindo com as ações de limpeza e restauração. A vistoria mais recente, de outubro/2016, mostra um quadro grave: em 75% dos pontos vistoriados, foram encontradas camadas de rejeitos com mais de 50 centímetros de espessura. O relatório faz uma descrição das “ilhas de lama” no meio do Rio Doce. Em alguns pontos, é possível observar esse acúmulo com deposição do rejeito no meio dos cursos de água, formando estruturas parecidas com ilhas ou bancos de areia.
O problema é a estrutura física do rejeito, composto de partículas finas. Na seca, fica duro como cimento. No período chuvoso, encharca e escorre novamente para o rio, causando assoreamento das margens e matando peixes. A primeira etapa de qualquer processo de restauração é conter o dano. Isso ainda não aconteceu. Em função da presença de elevados níveis de contaminação por metais tóxicos presente na lama do rejeito de minério, a vida no Rio Doce deteriora. A cada chuva que cai, aumenta a turbidez do rio. Com o rio mais turvo, a vida aquática é dizimada, o abastecimento humano nas cidades que dependem do rio fica prejudicado, falta águas nas torneiras.
Estudos iniciais revelaram que a chegada da lama aumentou os níveis de metais, como ferro, alumínio e manganês, reduzindo significativamente a quantidade de plânctons - organismos que vivem em suspensão na água e que são essenciais para o equilíbrio da cadeia alimentar. Já em dezembro de 2016, um novo estudo realizado em período de cheia, mostrou que com a chuva os níveis de contaminação voltaram a serem os mesmos registrados no início do desastre. A contaminação das águas subterrâneas é inevitável.
Mesmo maltratado já há muito tempo, o rio Doce era considerado de alta resiliência. Mas dessa vez, a sua resistência não foi suficiente para salvá-lo. Em alguns pontos, ele sempre foi turvo, já apresentava odores, características de contaminação, mas conseguia se manter. O desmatamento e a poluição já estavam cobrando seu preço para o meio ambiente do rio Doce. Mas, agora, com essa tragédia, ele morreu de vez.
O rio Doce já recebia, dentre outras coisas, agrotóxicos, esgoto, dejetos industriais que vinham do rio Piracicaba, que passa no Vale do Aço e é um dos mais poluídos do mundo. Não pode tratar dos efeitos do rompimento da barragem, que foram catastróficos, e ignorar todas essas outras questões.
Não tem como prever uma data. A recuperação do rio é de longuíssimo prazo, coisa para décadas ou século, pois será lenta e gradual. Qualquer iniciativa terá que passar pelo trato dos afluentes e dos outros rios da bacia hidrográfica. Tem que investir nos locais que foram menos afetados e que têm maior possibilidade de abrigar peixes e outros animais que poderão ser usados para repovoar o rio Doce. Um plano de recuperação ambiental que envolva a restauração florestal das matas ciliares e a descontaminação do solo de toda a área que garante o abastecimento da bacia. A recuperação de nascentes para que haja um aumento no volume de água e, em consequência, a revitalização do rio.
É possível recuperar o rio, basta querer promover ações que ajudem na conservação e recuperação da bacia hidrográfica. O maior problema percebido é a fragilidade do país em conseguir efetivamente punir os responsáveis. Os órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental são contundentes ao atribuírem a conta à Samarco, mas evitam falar em números fechados. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente informou que está realizando levantamentos para dimensionar os impactos e os valores necessários para a recuperação da bacia do rio Doce, ressaltando que a Samarco é a responsável por “sanar todos os danos”. A conta vai sobrar para os contribuintes. No Brasil é sempre assim no jeitinho brasileiro.
Referências Bibliográficas
http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente
http://www.otempo.com.br/
http://www.gazetaonline.com.brl
https://iema.es.gov.br/historico
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