Falar em seca no Nordeste não é novidade para o sertanejo. Nesses mais de 500 anos de Brasil descoberto por portugueses, o semiárido nordestino chegou a 72ª grande estiagem, segundo relatos históricos da ASA (Articulação do Semiárido).
O sofrimento do nordestino não é novidade, como denuncia o trânsito intenso de caminhões-pipa pelas estradas de terra da região. Mas nos últimos anos, a discussão sobre a redução dos impactos causados pelo fenômeno natural vem passando por uma mudança de conceito.
A
ideia agora é desenvolver projetos de convivência com o clima do semiárido, o
que é apontado como a solução para o drama sertanejo.
Além do erro no conceito usado por décadas, muitos argumentos são usados por
especialistas para explicar o fracasso nas políticas de enfrentamento à seca. A
falta de obras, o uso político, os “pacotes milagrosos” e a corrupção nos
órgãos criados para atuar no combate aos efeitos da seca são algumas das
explicações.
Para
o professor de sociologia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Paulo
Decio de Arruda Mello, erros históricos e direcionamentos de investimentos
fazem com que o sertanejo ainda seja vítima das previsíveis secas.O que ainda
prevalece é o descaso, pois a seca é fenômeno bastante conhecido. O estado
brasileiro reconhece isso desde o início do século 20, quando criou o Instituto
Federal de Obras Contra a Seca, que é percursor do Dnocs (Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas). O problema é que esses órgãos foram aparelhados
pelas oligarquias. O discurso da seca rendeu muitos privilégios para poucos,
fazendo açudes em propriedades particulares, com favorecimento de carro-pipa.
Ou seja, uma longa incompetência em atenuar os problemas do fenômeno.
O coronelismo no sertão nordestino é outro fator responsável pela manutenção do
problema. O coronelismo tem sobrevivido justamente onde há baixo grau de
cidadania. São normalmente áreas pobres, dependentes de políticas
assistencialistas, onde as pessoas dependem de provedores, de programas
emergenciais, onde esses ‘coronéis’ se valem da falta de ações mais efetivas. Mas o principal problema é a falta de obras estruturais,
ao longo de décadas, como a construção de adutoras para abastecimento, açudes,
cisternas e poços que garantam a captação e armazenamento da água durante as
estiagens. A oligarquia e os políticos dela oriundos e a ela [seca] ligados
sempre explicaram este fenômeno como algo de responsabilidade da natureza,
esquecendo-se, intencionalmente, das decisões políticas deles próprios e dos
governantes. Creditam, assim, à natureza, aquilo que é responsabilidade e resultado
das decisões políticas.
Por
conta da falta de chuvas, boa parte das terras do semiárido é formada por
agricultura de subsistência, pequena
propriedades, pertencentes a agricultores que vivem produção de alimentos e
criação de gado para sobreviver. Nas pequenas comunidades, a dependência do
carro-pipa é quase que total, já que a grande maioria não tem sistemas de
abastecimento. E mais grave: menos de 5% dos sertanejos têm água para irrigação
de plantações, seja por tubulações ou por cisternas especiais. Assim, em secas,
toda a plantação é perdida.
A
mudança do semiárido nordestino passa por três coisas: irrigação, assistência
técnica e refinanciamento das dívidas dos pequenos agricultores. Com esse tripé,
o nordestino fará dessa terra um lugar desenvolvido.
Medidas
No
dia 23/04/2012, o governo federal anunciou um investimento de R$ 2,7 bilhões em
ações de combate aos efeitos da seca. Entre as medidas previstas estão a
antecipação de R$ 799 milhões do programa Água para Todos, já previstos no
Orçamento Geral da União, para a construção de cisternas e a instalação dos
sistemas de abastecimento simplificado. Os recursos também deverão ser usados
para a construção de mananciais e pequenos barreiros destinados à agricultura
familiar. Apesar do elogio ao investimento recorde em obras para captação e
armazenamento de água no sertão, as organizações também questionam porque as
ações não foram anunciadas antes da estiagem.
fonte: uol.com.br/ portalsaofrancisco/mma/
fonte: uol.com.br/ portalsaofrancisco/mma/
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