Metade do ano inundado, um paraíso gigantesco que
fica no meio do Brasil. Banhado periodicamente pelo rio Paraguai e seus
afluentes – Cuiabá, Aquidauana, Miranda e Negro –, o Pantanal é um dos lugares
mais animadores para aventureiros que adoram ver animais selvagens.
Não é difícil, porém, perder o horizonte de vista na maior planície inundável do mundo: a luz vem de todos os lados e parece que o sol se põe devagar. As águas caudalosas movem-se calmamente e os milhares de jacarés parecem viver em extrema tranquilidade. Tanta facilidade para estar no meio do bioma é uma porta aberta para ecoturistas, mas pode ser um pesadelo para os preocupados com a preservação do local, ainda em estado bastante selvagem.
O Pantanal é situado 35% no estado do Mato Grosso e
65% no Mato Grosso do Sul. Tem duas estações distintas: a de seca e a de chuva.
Por mais que a paisagem se altere em cada uma delas, o visual é eminentemente
plano. Como está localizado no centro da América do Sul, a região não sofre
influência direta dos oceanos. Se o clima tropical se altera além do normal é
por massas de ar que podem vir dos pampas e do chaco. Geralmente, faz muito
calor no Pantanal mas a temperatura pode chegar próxima a 0° C. De qualquer
forma, são as águas doces dos rios alimentados pela chuva que vão determinar o
funcionamento dos ecossistemas desse lugar. Os ecologistas chamam o processo
anual de enchente e seca no Pantanal de “processo ecológico essencial”.
Traduzindo, é o processo que comanda a abundância e distribuição de vida nesse
lugar.
Entre novembro e março, quando os rios transbordam
– as terras arenosas e as gramíneas não dão conta de absorver toda a água –,
depressões se transformam em grandes lagos. Parte da vegetação alagada morre e
a matéria orgânica serve de alimento para peixes e substrato para a formação de algas e micro-organismos. Os alagamentos não são tão rápidos. Dá tempo de os bichos fugirem em busca de terrenos mais elevados. Isso se eles não forem os jacarés, animal presente em grande quantidade na região, que adora a volta das águas.
Quando vem a época de seca no Pantanal, a vegetação
terrestre cresce de novo nas áreas que eram alagadas e as regiões mais baixas
viram ótimas pastagens para o gado. Mais altas que os rios, as árvores perdem
suas folhas para proteger-se. Agora para se defender do calor e da falta de
água, muitos jacarés se enterram na lama, entre as folhagens ou debaixo dos
galhos perto de poças d’água. Estudos comprovaram que os jacarés não se
movimentam só na água, mas em distâncias de mais de 10 quilômetros por terra,
mesmo que em procura de locais mais úmidos.
Os jacarés estão espalhados por toda a planície
pantaneira: jacaré-do-pantanal, jacaré-do-papo-amarelo e jacaré-paguá. É comum
vê-los aglomerados: milhares podem estar em apenas centenas de metros
quadrados, um em cima do outro. A aparência nada amigável, no entanto, assusta
mais do que deve. Eles geralmente não atacam humanos, só quando são molestados.
E andam em bandos.
O animal mais simbólico na região é a onça-pintada.
Bem mais difícil de ser vista – quem a encontrar na beira de um lago tomando
água, deve parar, observar e agradecer a sorte de ter contemplado um bicho
selvagem tão encantador. Não faz parte de sua natureza atacar
as pessoas, mas é bom tomar cuidado. Andam sozinhas, atacam répteis, mamíferos
e até peixes. Num só salto conseguem capturar a presa. Sobem em árvores se for
necessário. Apesar de ágeis, são espécie ameaçada pelo homem.
Mansa mesmo, e espalhada aos montes pelo Pantanal,
é a capivara. Um dos maiores roedores do mundo, esse animal está presente em
toda a América do Sul, mas, no Brasil,
principalmente nessas terras centrais onde há água, campo de pastagem e mata.
Circulam livremente perto de humanos. Entram na água para se refrescar nos
picos de calor e passeiam pelos campos nos fins de tarde. Mas os reis da
paisagem são as aves. Há mais de 400 espécies de cores e tamanhos diversos.
Habitam o Pantanal cerca de 5 mil pássaros. São garças, araras, maguaris e
outros. A ave-símbolo é o tuiuiú. Espetáculo mais procurado entre pesquisadores
e turistas são os grandes ninhais que as aves formam nas árvores para se
procriar juntas. O aspecto selvagem está tão presente e tão acessível que a
preocupação com essa área deveria ser redobrada.
- Área total - 210 000 km²
- Área intacta - 80%
- Área protegida - 2,7%
O maior desafio à preservação da região do Pantanal
é controlar as atividades econômicas e suas modificações. A pecuária, o turismo
e a pesca são práticas tradicionais dessa região e, até agora, não causaram
impactos muito significativos ao bioma. O Ministério do Meio
Ambiente, no entanto, concluiu recentemente que a forma como essas
atividades têm sido desenvolvidas pode mudar o quadro da relativa estabilidade.
E para pior. A pecuária está mais competitiva: os fazendeiros estão desmatando
as partes mais altas das planícies para o gado fugir para lá na época da
enchente. O turismo, praticado geralmente sem grandes preocupações com a
conservação, atrai cada vez mais novos visitantes por causa da divulgação das
belezas do Pantanal. A pesca artesanal, que sempre foi praticada pela população
local de forma inofensiva tem sofrido concorrência com a pesca recreativa. Uma
competição injusta, já que uma é para a alimentação e a outra apenas para a
diversão. Tendo em vista esses problemas, o governo federal montou o Programa
de Desenvolvimento Sustentável do Pantanal, que prevê gestão dos recursos
hídricos e solos, proteção dos ecossistemas e melhoria das condições ambientais
das áreas indígenas. Paralelamente ao governo há ação de ONGs e iniciativas
privadas. Há13 reservas particulares do patrimônio natural que protegem mais de
200 mil hectares. Uma dessas é a Fazenda Rio Negro, adquirida pela Conservação
Internacional, que tem feito pesquisas, workshops e projetos de conservação no
Pantanal.
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