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sábado, 18 de abril de 2020

EUGENIA, O QUE É ISTO?

Não vou falar da pitangueira(Eugenia uniflora ), mas sim do movimento social cujo objetivo era "melhorar" a raça humana.  Reivindica melhorar as características genéticas de populações humanas através de mistura seletiva de pessoas e esterilização obrigatória. O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a adotar as ideias de eugenia. Ela baseava-se no racismo e na justificativa do fim à imigração como meio de garantir uma raça superior. Com esse pensamento, o Rio de Janeiro sediou em 1929 o Primeiro Congresso de Eugenia do Brasil e a discussão permeou questões biológicas e sociais.

A busca pela “raça pura” não é só coisa de nazista: foi um fenômeno mundial. E o seu fantasma ainda ronda a sociedade


COMO A EUGENIA NASCEU 

A ideia foi disseminada por Francis Galton, em 1883. Ele imaginava que o conceito de seleção natural de Charles Darwin – que, por sinal, era seu primo – também se aplicava aos seres humanos. Seu projeto pretendia comprovar que a capacidade intelectual era hereditária, ou seja, passava de membro para membro da família e, assim, justificar a exclusão dos negros, imigrantes e deficientes de todos os tipos. A palavra eugenia deriva do grego e significa "bom em sua origem ou bem nascido".

O QUE É EUGENIA 

A eugenia defende que raças superiores e de melhores estirpes conseguem prevalecer de maneira mais adequada ao ambiente. O projeto da eugenia foi apresentado ao mundo pela Grã-Bretanha e colocado em prática pela primeira vez nos Estados Unidos. 

HISTÓRICO 

  • A prática da eugenia é antiga. Por exemplo, Platão, em "A República", defendia o método como forma de melhorar os seres humanos por meio da permissão seletiva à vida. Para o filósofo, a reprodução humana deveria ser controlada e monitorada pelo Estado. 
  • Antes da Primeira Guerra Mundial, essa teoria recebia apoio irrestrito de políticos e cientistas e compôs a legislação de 30 estados norte-americanos até metade do século 20. 
  • Os questionamentos só ocorreram ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas foram acusados de esterilizar 140 mil judeus compulsoriamente e matar 6 milhões nos campos de concentração. 
  • Thomas Robert Malthus publica a Teoria populacional malthusiana no fim do século 18- Ensaio sobre o Princípio da População.

ESTUDOS 

  • A eugenia foi objeto de estudo de muitos cientistas e pesadores. Como ciência, a eugenia ocupou o centro do debate e das pesquisas científicas no início de 1900. O objetivo era determinar como as características humanas eram herdadas e como influenciavam o meio social. Por exemplo, Francis Galton propõe um sistema de casamentos arranjados em que o resultado seria uma raça melhor dotada, uma ação denominada de eugenia positiva. 
  • Enquanto isso, a eugenia negativa consiste na eliminação do indivíduo inadequado. As ideias de perfeição genética se basearam nas teorias de Charles Darwin (1809 - 1882), sobre a origem e evolução das espécies e seleção natural pelo ambiente. 
  • Os estudos voltaram a ganharam força com a redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel (1822 - 1884), que conseguiu provar a transmissão das características entre as gerações. 
  • Outro entusiasta da eugenia era o matemático Karl Pearson (1857 - 1936), que criou a biometria e aperfeiçoou os estudos que embasam a estatística em biologia. Ele ainda acreditava que as elevadas taxas de natalidade de pessoas pobres era uma ameaça à civilização e, para evitar um colapso, as raças superiores deveriam suplantar as inferiores. 
  • Assim nasceu o Darwinismo social, da junção das ideias de Malthus, Darwin e Spencer. O Darwinismo social serviria, então, como uma espécie de “base filosófica” para a futura pseudo-ciência da Eugenia.
  • Spencer, dizia dos incapazes: ”Todo o esforço da natureza é para se livrar desses e criar espaço para os melhores... Se eles não são suficientemente completos para viver , morrem, e é melhor que morram... Toda imperfeição deve desaparecer” (Spencer, Herbert, Social Statics).

EUGENIA NAZISTA 


As ideias americanas seduziram os integrantes do Partido Nazista que a partir de 1930 iniciaram o trabalho para eliminar os indivíduos considerados inferiores e se utilizaram da esterilização. A higiene racial nazista ultrapassou a prevenção aos nascimentos e embasou a construção dos campos de concentração onde judeus, ciganos e qualquer pessoa ou grupo considerados inferiores aos ideias nazistas, eram eliminados industrialmente.  Somente durante os julgamentos de Nuremberg a eugenia foi estigmatizada e os EUA retiraram a prática de sua política oficial, mudando nomes de institutos e condenando as atividades de esterilização. As leis que apoiavam a eugenia foram revogadas nos EUA a partir de 1973.

EUGENIA NO BRASIL 


O Brasil não só ‘exportou’ a ideia como criou um movimento interno de eugenia. A elite intelectual da época viu na eugenia a ‘solução’ para o desenvolvimento do país. Eles buscavam, portanto, respaldo na biogenética (ou seja, nos estudos e resultados de pesquisa de Galton) para excluir negros, imigrantes asiáticos e deficientes de todos os tipos. Assim, apenas os brancos de descendência europeia povoariam o que eles entendiam como “nação do futuro”.  A eugenia oficialmente veio ao país em 1914, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, com uma tese orientada por Miguel Couto, que publicou diversos livros sobre educação e saúde pública no país. Couto via com maus olhos a imigração japonesa e anos mais tarde, em 1934, seria um dos responsáveis por implementar um artigo na Constituição da época que controlava a entrada de imigrantes no Brasil. Nos primeiros anos do século XX, porém, havia no Rio, então capital brasileira, a ideia de que as epidemias brasileiras eram culpa do negro, recém-liberto com a abolição da escravatura (1889). Parte da elite intelectual da época, enxergava a eugenia como uma forma de ‘higiene social’ do país. O médico e sanitarista Renato Kehl (1889-1974), considerado o pai da eugenia no Brasil, achou que a comunidade científica tinha que se esforçar mais. Algumas das ideias de Kehl: 
  • A melhoria racial só seria possível com um amplo projeto que favorecesse o predomínio da raça branca no país,
  • Segregação de deficientes, 
  • Esterilização dos “anormais e criminosos”, 
  • Regulamentação do casamento com exame pré-nupcial obrigatório,
  • Educação eugênica obrigatória nas escolas, 
  • Testes mentais em crianças de 8 a 14 anos, 
  • Regulamentação de filhos ilegítimos, 
  • Exames que assegurassem o divórcio, caso comprovado “defeitos hereditários” em uma família. 
Nesse congresso, que reuniu dezenas de médicos e biólogos favoráveis à ideia de eugenia, classificaram pessoas com deficiência; como cegos, surdos-mudos e deficiência mental, por exemplo, de “tarados” – ou seja, um mal a ser combatido para que a ‘raça superior’ prevalecesse. Mulheres eram tidas como ‘procriadoras’. Na mesma época, chegou a ser organizado um “Concurso de Eugenia” que serviria para premiar as 3 crianças que “mais se aproximassem do tipo eugênico ideal”, conforme anunciava o cartaz. As ‘vencedoras’ do concurso eram todas garotas, brancas, que foram classificadas como “boas procriadoras”.  
Em escala nacional e política a eugenia era um “superprojeto”, porque permitia identificar as características raciais e físicas consideradas ‘ruins’ pelos mais ricos da época e “cortar o mau” para desenvolver apenas as boas características em cada pessoa. 
De qualquer forma, esse pensamento persiste, em nossa sociedade. Se hoje não existe uma eugenia institucionalizada, existe um pensamento eugenista incrustado na mente do brasileiro. Não nos damos conta porque ele é tão naturalizado, que a gente vê sempre como uma piada ou uma justificativa de diferenciar o seu lugar em relação ao outro. O termo eugenia pode ter desaparecido, mas as perguntas, o pensamento e a preocupação permaneceram.


3 comentários:

  1. EXCELENTE PESQUISA. Esclarecedora de assunto hoje considerável muito sensível.
    Animais e plantas estão nessa jogada. Parabéns pela clareza e objetividade.

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  2. li uma reportagem onde um ator da globo citou a eugenia nem sabia q existia.

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