Como julgar se é planta ou se é mato? Já parou para pensar? É muito comum, tanto na cidade como no campo, as pessoas acreditarem que a existência de “mato” no jardim, na horta, pomar ou lavoura é sinal de desleixo. Mas não é bem assim. Onde há mato, há planta, há vida!
- Planta é planta, não tem muito o que explicar, refere-se sempre as espécies vegetais (e não à planta de uma casa ou a planta do pé).
- Mato é carregado de significados. De forma pejorativa é uma vegetação constituída de plantas não cultivadas, sem qualquer serventia. É um terreno que não foi cuidado e onde cresceram plantas espontâneas. Um lugar “desocupado”, esperando por ser transformado.
Não estamos acostumados a pensar em mato como um terreno que está ocupado por plantas, que se desenvolveram espontaneamente, sem o envolvimento direto do ser humano, e que estão seguindo seu fluxo natural: sementes depositadas pelo vento ou pelas fezes de animais, ou ainda estavam dormentes naquele solo. A relação que a maioria das pessoas tem com o mato reflete o modo de pensar da nossa sociedade atual, que separa tudo: Natureza e cultura, dentro e o fora, o bem e o mal, a luz e a sombra, introvertido e o extrovertido, o belo e o feio. Isto, sem falar de sexualidade, porque inventaram tantos termos que fica até difícil de classificar masculino e feminino.
Na natureza tudo está integrado, essa separação é própria do tempo e do tipo de sociedade em que se vive. Para maioria, mato é a planta indesejada, a erva daninha, que não foi escolhida para fazer parte do jardim ou quintal. Uma casa com mato é vista como descuidada, feia.
Observando as plantas de um jardim/quintal de sua casa, vê-se uma grande quantidade de “mato”. Mas que mato será esse? Capim, picão, beldroega, quebra-pedra, tiririca, erva daninha, dente de leão, maria-fecha-a-porta, chanana, vassourinha, etc..? Quanta coisa estamos perdendo quando classificamos essas plantas como sendo de menor importância que as que escolhemos. Elas estão ali para ajudar a saúde do solo e seus microrganismos. Mas costumamos dar mais valor àquilo que podemos controlar. A espontaneidade da natureza ou do ser humano nos incomoda.
Aproximar o olhar para as características singulares de cada planta aprimora a percepção e aumenta a intimidade com a mesma. Assim, o que era visto como mato passa a ser visto com outra perspectiva, gerada pela empatia e o afeto despertados pela observação. Retomar o convívio com a natureza do jeito que ela é, sem o controle, significa uma mudança cultural, significa reorganizar o olhar, re-educar os sentidos. Ao nos “renaturalizarmos”, estaremos aceitando o fluxo da vida que nos anima, permitindo que ele se expresse em toda sua plenitude, trazendo assim a sensação de bem estar, paz e harmonia.
MEU CANTEIRO ESTÁ CHEIO DE MATO
É bem verdade, que as plantas espontâneas competem com as espécies cultivadas por luz, água e nutrientes. É uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições do Brasil, onde predomina o clima tropical e subtropical, a competição do “mato” com os cultivos é menos problemática do que a falta de cobertura do solo. Não são ervas daninhas, mas sim consideradas "plantas amigas" devido à uma série de benefícios:
- Cobertura do solo - as plantas espontâneas ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial. Contribuindo para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes.
- Melhoria das características física, química e biológica do solo - contribuem para aumentar a densidade e a diversidade radicular, favorecendo a reciclagem de nutrientes e melhorando as características físicas, químicas e biológicas do solo e, ainda servindo como fonte de biomassa.
- Diversificação e equilíbrio ecológico - servir para atrair insetos predadores e até como alimento preferencial das pragas das culturas e também como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas.
- Indicadoras de problemas no solo - ao mesmo tempo que indica um problema, também ajuda a solucioná-lo.
Muitos desses matos, não é só mato, são as PANC's - plantas alimentícias não-convencionais.
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