Diamante brasileiro revela que interior da Terra tem reservatório de água. O mineral é procedente de Juína/ Mato Grosso. Nele, foram encontradas moléculas de água absorvidas por mineral.
Há 150 anos, em "Viagem ao Centro da Terra", o escritor francês de ficção científica Júlio Verne descreveu um amplo oceano existente nas profundezas da superfície terrestre. Hoje, essa estranha e assombrosa imagem encontrou eco inesperado em um estudo científico. Em artigo publicado na conceituada revista "Nature" em 2014, cientistas disseram ter encontrado um pequeno diamante que aponta para a existência de um vasto reservatório abaixo do manto da Terra, cerca de 400 a 600 quilômetros abaixo dos nossos pés.
Pesquisadores descobriram um pequeno diamante que aponta para a existência de um grande depósito de água sob o manto da Terra. Seu volume poderia preencher três vezes os oceanos que conhecemos. A descoberta ocorreu por acidente, pois a equipe que estava, na realidade, à procura de outro mineral, ter comprado o diamante de alguns garimpeiros que o tinham encontrado através de uma coleta de cascalho realizada em um rio raso. Ao analisar a pedra detalhadamente um estudante descobriu, um ano depois, que o diamante, de apenas três milímetros de diâmetro e de pouco valor comercial, continha em sua composição um mineral chamado ringwoodite, que até agora só tinha sido encontrado em rochas de meteoritos e que contém significativa quantidade de água. No entanto, a confirmação final da presença deste mineral levou muitos anos, pois foi necessária a realização de vários testes e análises científicas.
"Essa amostra fornece, de fato, confirmações extremamente fortes de que há pontos locais úmidos profundos na Terra nessa área", declarou o principal autor do estudo, Graham Pearson, da Universidade de Alberta, no Canadá."Essa zona particular da Terra, a zona de transição, pode conter tanta água quanto todos os oceanos juntos", explicou Pearson."Uma das razões, pelas quais a Terra é um planeta tão dinâmico, é a presença de água em seu interior. A água muda tudo sobre a maneira como o planeta funciona", completou.
A prova vem de um mineral raro que absorve água chamado ringwoodite, procedente da zona de transição espremida entre as camadas superior e inferior do manto terrestre, explicam os especialistas. A análise do material revelou que a rocha contém uma quantidade significativa de moléculas de água, da ordem de 1,5% de seu peso.
O manto se situa sob a crosta terrestre, até o núcleo da Terra, a uma profundidade de 2.900 quilômetros. Entre as duas grandes partes do manto - o superior e o inferior -, encontra-se uma zona chamada de "transição", entre 410 km e 660 km de profundidade.
O principal mineral do manto superior é a olivina. Quando a profundidade e, consequentemente, a pressão aumentam, a olivina se transforma, mudando de estado. Entre 410 km e 520 km, ela vira wadsleyite e, entre 520 km e 660 km, chega a ringwoodite, um mineral que contém água.
Essa variedade de olivina já foi encontrada em meteoritos, mas nunca oriunda da Terra, justamente por se encontrar a uma profundidade inacessível.
"Até hoje, ninguém nunca viu ringwoodite do manto da Terra, ainda que os geólogos estejam convencidos de sua existência", destacou o geólogo Hans Keppler, da Universidade de Bayreuth, na Alemanha, no editorial publicado na "Nature".
O mineral ringwoodite foi descoberto pela equipe de Graham Pearson quase por acaso, em 2009, quando os pesquisadores examinavam um diamante marrom sem valor comercial, de apenas três milímetros, procedente da cidade brasileira de Juína, no estado do Mato Grosso. A amostra foi submetida à análise por espectroscopia e difração por raio-X durante vários anos até ser oficialmente confirmada como ringwoodite, tornando-se a primeira prova terrestre dessa rocha super-rara.
O grupo acredita que o diamante tenha chegado à superfície da Terra durante uma erupção vulcânica. A equipe de Graham Pearson não fala, porém, em água na forma líquida, e sim, contida nesse mineral bem particular.
Ainda falta determinar, como ressaltou Hans Keppler, se a amostra de ringwoodite analisada é representativa do conjunto da zona de transição do manto terrestre.
O nome Ringwoodite vem do geólogo australiano Ted Ringwood, segundo o qual um mineral especial criaria uma zona de transição devido às altas pressões e temperaturas nessa área.
Pearson defendeu que as implicações dessa descoberta são profundas. Se existe água, em grande volume, abaixo da crosta terrestre, isso implica um possível impacto significativo nos mecanismos dos vulcões e no movimento das placas tectônicas.
Esta descoberta é, sem dúvida, uma das mais importantes realizadas no campo da geologia nos últimos anos, e forçará os peritos a modificarem, até certo ponto, a abordagem que se tem utilizado até agora para analisar fenômenos como vulcanismo, placas tectônicas e muitos outros processos de importância na compreensão da dinâmica da Terra – cujo nome, depois dessa descoberta, se tornou ainda mais paradoxal.
A peculiaridade desta descoberta é que esta água não existe em qualquer um dos três estados que conhecemos: líquido, sólido ou gasoso. A água foi encontrada em estruturas moleculares de formações rochosas no interior da Terra.Uma concentração tão importante de água trás uma mudança significativa nas teorias relacionadas com a origem da água na superfície da Terra.Esta descoberta é a prova de que nas partes mais profundas do nosso planeta, a água pode ser armazenada. Fato este que poderá colocar fim em uma polêmica de 25 anos, sobre se o centro da terra é seco ou úmido em algumas áreas. A capacidade de armazenar água em seu interior não é exclusiva da Terra. Outros planetas, como Marte, podem conter grandes quantidades de água, algo que nos faz pensar se o planeta vermelho poderia abrigar vida.
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Referencia:
g1 / midianews.com.br/
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