O Pantanal Mato-Grossense é considerado a maior planície alagada contínua do mundo, uma imensa área de sedimentação e inundação cuja fonte provém do planalto que o circunda.
NASCIMENTO
Segundo o grande geógrafo, professor Aziz Ab’Saber, o pantanal é resultado de um processo geológico
progressivo de afundamento (subsidência) do que antes era uma grande saliência, por conta de
falhamentos de blocos, culminando com
uma gigantesca movimentação da placa tectônica (orogênese andina – ou seja, o
surgimento abrupto e violento da cordilheira dos Andes), há milhões de anos,
provavelmente no chamado período terciário. Posteriormente, o terreno passou
por dissecação intensa em condições climáticas ainda mais úmidas que a atual,
sendo individualizado no período Pleistoceno,
resultando na depressão para onde foram e ainda são carreados
sedimentos. Divide-se em várias sub-bacias hidrográficas, considerando as
diferenças de sedimentos, tipo de solo, drenagem, altimetria e vegetação.
Por sofrer assoreamento constante, a drenagem das águas na depressão sedimentar
é lenta, gerando alagamentos.
Ademais, as águas superficiais ficam
retidas, estranguladas no seu curso por
um gargalo geológico formado por elevações à jusante, chamadas “Fecho dos Morros do Sul”, no
Paraguai.
A depressão está localizada no alto curso do Rio Paraguai,
que integra a grande bacia do Prata, um complexo sistema hídrico alimentado por
águas vertidas “de fora para dentro” –
das beiradas dos planaltos à leste (do planalto central e desde a Serra do
Mar), da cordilheira andina à oeste e do
planalto amazônico ao norte – para o
interior do continente, em direção ao
sul, até a foz do Rio da Prata, onde irá
alimentar o frio Oceano Atlântico – Sul com enorme volume de água doce provinda
da quente região equatorial. Esse
incrível “sistema invertido” banha cinco países e forma a segunda maior
bacia hídrica da América do Sul, a qual reponde
por 60% da geração de energia por hidrelétricas no continente. O
pantanal recebe, portanto, influência direta de três importantes biomas:
Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Não fosse, portanto, pelo grande fluxo de
água na região e pelo fato de resultar em um grande reservatório, que armazena
as águas que escoam dos planaltos circundantes, o pantanal seria tão seco
quanto a caatinga.
VIDA
Sobre essa formação
hidro-geológica desenvolveu-se todo um bioma, o Complexo do Pantanal,
coberto por uma formação de cerrado com a região alagada coberta de vegetação
rasteira, de planície – formando uma “savana estépica”, com 250 mil km² de extensão, e altitude entre 90 a 200 metros acima do
nível do mar. O pantanal, por todas
essas peculiaridades, se assemelha a área subtropical próxima ao mar, em pleno
centro do continente. Não por outro motivo, animais similares aos que se encontram
no oceano e regiões costeiras, existem no pantanal.
Já foram catalogadas ali cerca de 263 espécies de peixes, 41
espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132
espécies de mamíferos – sendo 2
endêmicas (ou seja, só existem ali). Foram também catalogadas quase duas mil
espécies de plantas – identificadas e classificadas inclusive de acordo com seu
potencial medicinal. Seres humanos também compõe a fauna local, e formam uma
grande riqueza cultural, pelas comunidades tradicionais indígenas, de quilombolas e de pantaneiros. Tamanha é sua biodiversidade,
que o Pantanal foi considerado pela UNESCO, Patrimônio Natural Mundial e
Reserva da Biosfera. O governo
brasileiro instituiu na região o Parque Nacional do Pantanal. Porém, segundo o
Ministério do Meio Ambiente, apenas 4,6% do Pantanal encontram-se protegidos
por unidades de conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de proteção
integral e 1,7% a UCs de uso sustentável.
No Brasil, a região abrange o oeste do estado do Mato Grosso
e o noroeste do estado do Mato Grosso do Sul (140.000 km2 em território
brasileiro). Engloba o norte do Paraguai e o leste da Bolívia – nesses países é
chamado de chaco. As ações governamentais de preservação, no entanto,
constituem forma de retardar um processo de degradação natural previsível, hoje
acelerada pela poluição. Ocorre que o
bioma não perdeu sua característica sedimentar. Continua a ser assoreado e
está, a cada dia, sofrendo impactos decorrentes não apenas das alterações
climáticas, como também das ações humanas.
PROVÁVEL MORTE (PRÓXIMA?)
A morte do pantanal é certa. O problema é que este momento
se aproxima e pode ocorrer ainda neste século. Um estudo recentemente publicado
no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South America – “Climate Change
Scenarios in the Pantanal” – aponta que as planícies alagadas do pantanal
correm o risco de “sumir” até 2100. A obra é fruto de pesquisas organizadas
pelos cientístas do CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais e do CCST – INPE – Centro de Ciência do Sistema Terrestre,
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ambos do MCT (Ministério de
Ciência e Tecnologia). Seus autores são os professores Jose A. Marengo , Gilvan
S. Oliveira e Lincoln M. Alves.em Cachoeira Paulista. Eles tiveram o apoio da
Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) e do INCT (Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas).
Segundo a obra, as principais causas de risco são o aumento
da temperatura na região em até 7% e a diminuição das chuvas em até 40%. Hoje,
durante os meses de cheia – novembro a março – os rios transbordam em até 70%.
Nos meses restantes, de seca, quando as águas baixam, formam-se camadas de
sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das pastagens. Todo esse rico ciclo hidrológico corre o risco de ser extinto, de
acordo com o estudo realizado pela equipe do hidrologista e meteorologista José
Antonio Marengo Orsini, do CEMADEN. “Um aumento da temperatura média de 5º C a
6 °C implicaria em deficiência hídrica,
o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo. “Isso porque o
aumento da temperatura e diminuição das chuvas provocará o aumento da evaporação
das águas do pantanal e comprometerá drasticamente toda a sua biodiversidade”,
completa o cientista.
O estudo ressalta o aumento da temperatura mundial e projeta
para a região pantaneira um aumento em torno de 10° C, até 2100, chegando aos
50°C nos dias mais quentes (hoje, a média já chega a ultrapassar os 40°C). Estamos próximos de uma temperatura de
deserto. O fato compromete a fauna e a flora do bioma. Embora as questões
climáticas sejam uma realidade que comprometem todo o planeta, há outro perigo:
a falta de controle territorial dos governos atingidos pelo Bioma. Também
aponta o “descaso com o avanço da agropecuária e do turismo sem a devida
fiscalização”. Critica o acesso descontrolado às poucas áreas de preservação e,
também, aponta a multiplicação de atividades ilegais na região pantaneira. De
fato, o fator humano é um componente sinistro na tragédia que naturalmente se
avizinha.
Referência
http://www.theeagleview.com.br
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