UMA MORNA ETAPA DE NEGOCIAÇÕES SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL. O QUE PODEMOS E DEVEMOS ESPERAR DA COP-19?
Desde o desfecho da COP-15, todas as conferências falharam
na principal missão de definir ações, meios e metas de mitigação das causas e
equacionamento dos impactos de mudanças de clima, com chances de limitar o
aquecimento médio da temperatura do planeta abaixo dos dois graus centígrados.
Não importa o que Ban Ki-moon, Christiana Figueres ou a rainha da Inglaterra
venham a dizer. A verdade nua e crua é que temos colhido um fracasso atrás do
outro, quando consideramos aquilo que a ciência diz ser necessário. O simples passar do tempo reduz nossas chances de ação e
eleva o tamanho da conta - tanto em custos financeiros, quanto ambientais e
humanos. Mas nem tudo são perdas: estes quase 20 anos de negociações foram
cruciais para a gênese de uma ainda incipiente noção de cidadania planetária. É
ela que orienta muitas das ações das ONGs ambientais e sociais que acompanham
as negociações climáticas, como o Vitae Civilis, de conscientização sobre o
fato básico de que habitamos um mesmo planeta e que é dele e de seus habitantes
como um todo que temos de cuidar - e não do interesse setorial desta ou daquela
atividade econômica, deste ou daquele país.
A lenta gestação de
uma cidadania planetária tem-se dado em debates turbulentos que favorecem a
polarização e o embate: quase tudo no regime da COP pode ser usado para gerar
embates, da justa classificação entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento
ao princípio da convenção de responsabilidades comuns, porém diferenciadas.
Poderá um novo trilho de negociações, a Plataforma Durban, aproximar países e
eliminar o atual clima de desconfiança e ceticismo entre as partes?
Essa resposta depende mais do que será feito efetivamente,
do que daquilo que for colocado na mesa de negociações. Porque as delegações
dos países em desenvolvimento chegarão à COP-19 com um histórico consistente de
promessas não cumpridas pelos países desenvolvidos. Sem opção e totalmente
dependentes de uma liderança por parte dos países desenvolvidos que nunca se
efetivou, salvo para manter o ritmo dos trabalhos em banho-maria, os
negociadores das pequenas nações insulares, dos países menos desenvolvidos e do
grupo africano, apenas para citar alguns, precisam de ações concretas para
superar o justificado ceticismo que mina a flexibilidade necessária em um
processo tão amplo e complexo. E se o restabelecimento da confiança está
diretamente ligado ao aumento do comprometimento e ambição em todos os tópicos
da negociação - níveis de mitigação, recursos financeiros, transferência de
tecnologia, capacitação etc. - estes, por sua vez, dependem de parâmetros
aceitos pelas partes para mensuração, avaliação e relato, tanto das iniciativas
de mitigação nas emissões, como da parte financeira.
Negociação
A falta de tais
critérios tem aberto espaço a práticas questionáveis tanto por parte dos países
desenvolvidos, quanto pelas nações em desenvolvimento, e é um fator com alto
potencial de alavancar desconfiança. Em algum momento, a questão da exportação
da poluição terá de ser enfrentada porque o crescimento das emissões em países
como China, Índia e Brasil reflete, em parte, a produção destinada a nações
desenvolvidas, que transferiram seus parques fabris obsoletos e atividades
produtivas de alta intensidade no uso de recursos naturais e degradação
socioambiental para alcançar suas metas de mitigação. Princípios e métricas que
ajudem a definir o conceito de equidade serão igualmente fundamentais para
gerar confiança no médio e longo prazos.
A exemplo de Cancún, em 2011, Varsóvia também receberá o
desafio de criar um clima favorável às negociações. Nesse sentido, o primeiro
passo deve ser em relação à própria condição de presidência da COP-19: o
radicalismo da delegação polonesa em relação à continuidade do "hot
air" foi um dos principais problemas enfrentados pelo trilho de
negociações sobre o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto e
suscitou muitas dúvidas sobre o real comprometimento do país com o combate às
mudanças climáticas.
Mitigação
A COP-19 deve buscar
a definição de um trilho claro para os compromissos financeiros antes de 2020,
quando deve vigorar o novo acordo global. Os chamados "bunkers"
(setores altamente poluidores, como aviação e navegação) devem ser endereçados
em 2013 de forma mais concreta. A operacionalização do Fundo Verde de Clima não
pode passar de 2013. A COP-19 deve também perseguir as metas de mitigação
necessárias para que as emissões dos gases de efeito estufa comecem a declinar
de 2015 - data-limite, segundo os cientistas, para manter a temperatura
terrestre em limites suportáveis. Consultas em relação aos Planos Nacionais de
Mitigação devem ser conduzidas para favorecer a implementação e tornar
operacionais os mecanismos tecnológicos de 2013 em diante.
É no próximo ano que teremos uma ideia mais clara do que a
Plataforma Durban poderá nos entregar: ações efetivas ou apenas mais conversa e
postergação. Cumpre destacar que o mundo não aguentará mais essa gradual e
lenta busca de processos de negociação para um dia estabelecer futuras ações.
Em vez da diplomacia processual, precisamos de diplomacia de resultados, o que
sinalizaria vontade política e empenho de resolver os grandes dilemas
humanitários, inclusive os de ordem ambiental e econômica.
Varsóvia - Negociadores da conferência de clima da
Organização das Nações Unidas (ONU) , a COP 19, concordaram nesta sexta-feira
22/11/2014 com normas sobre financiamento de projetos para florestas em nações
em desenvolvimento, abrindo caminho para investimentos multibilionários de
governos, órgãos de fomento e empresas privadas em esquemas para deter o
desmatamento. O acordo com "base em resultados" para financiamento da
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (Redd) foi um
raro avanço nas conversações sobre o clima em Varsóvia, onde negociadores estão
enfrentado dificuldades para obter algum progresso nas discussões sobre cortes
de emissões e concessão de ajuda relacionada a mudanças climáticas. O acordo
foi "um outro grande passo à frente", disse o ministro britânico de
Energia e Mudança Climática, Ed Davey.
Pelas novas regras, o incipiente Fundo Verde para o Clima
terá papel fundamental na canalização de recursos para projetos a governos,
que, por sua vez, terão de criar agências nacionais para supervisionar o uso do
dinheiro. Os fundos irão para os países recebedores quando eles puderem provar
ter reduzido emissões de carbono sem prejudicar comunidades locais ou a
biodiversidade. Os países também concordaram com normas sobre como medir e
verificar os cortes de emissões de projetos florestais. O desmatamento
desempenha crescente papel nas negociações sobre o clima porque a perda de
florestas representa aproximadamente um quinto das emissões de gases do efeito
estufa, que os cientistas responsabilizam pelo aquecimento global. O governo
norueguês já pagou 1,4 bilhão de dólares em acordos bilaterais com alguns
países, como Brasil, República Democrática do Congo, Guiana e Indonésia. O
Banco Mundial, o Global Environment Facility e um crescente numero de empresas
do setor privado também lançaram projetos.
Principais ONGs
abandonam a COP 19 um dia antes do encerramento
Para organizações como WWF e Greenpeace, encontro 'não leva
a nada'.
As principais Organizações não governamentais de proteção do
meio ambiente, como o WWF e o Greenpeace, anunciaram nesta quinta-feira (21)
que se iam se retirar da conferência sobre o clima realizada em Varsóvia porque
a discussão 'não leva a nada'. De acordo com a agência France Presse, essa é
uma decisão sem precedentes na história das grandes negociações promovidas pela
ONU na luta contra a mudança climática. "Organizações e movimentos que
representam a sociedade civil em todos os lugares do mundo decidiram aproveitar
melhor seu tempo e se retirar das negociações de Varsóvia", declararam
seis organizações em um comunicado publicado um dia antes do encerramento
oficial da conferência. "Esta conferência de Varsóvia, que deveria ter
representado uma etapa importante na transição para um futuro sustentável, não
leva a nada", afirmam Greenpeace, Oxfam, WWF, Amigos da Terra Europa,
Confederação Internacional de Sindicatos e ActionAid International.
'Falta segurança climática'
André Nahur, coordenador do programa de Mudanças Climáticas
e energia da organização ambiental WWF, disse direto de Varsóvia que a
sociedade civil estava empenhada em conseguir fechar pontos importantes nas
negociações, como a questão do financiamento de países ricos aos países pobres
no combate às mudanças climáticas.
No entanto, segundo ele “há uma clara falta de liderança do
governo polonês”, que estaria prejudicando a conferência. Nesta quarta, a
Polônia anunciou a demissão do então ministro do Meio Ambiente, Marcin Korolec,
em meio a COP 19. Apesar da destituição do cargo, ele permaneceria na
presidência da conferência da ONU, que está na fase da discussão ministerial.
“Diante desta complexidade, não é esperado um resultado
grande desta conferência, que tem a influência de grandes poluidores. É a
primeira vez que fazemos isso, uma retirada de um processo, porque acreditamos
que não haverá segurança climática [nas discussões]”, explicou André. A saída
oficial deve acontecer quando os representantes das ONGs começarem a deixar o
local onde acontece a conferência da ONU, no Estádio Nacional de Varsóvia.
PARA SABER MAIS clique aqui , aqui , aqui
fonte: g1/terra/ greenpeace
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