BRASIL É ALVO DE "TRÁFICO DE ÁGUA DOCE"
A denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro 2011, num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água.A revista denuncia: “Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”.....
Empresas internacionais até já criarem novas tecnologias para a
captação da água. Uma delas, a Nordic Water Supply Co., empresa da Noruega, já
firmou contrato de exportação de água com essa técnica para a Grécia, Oriente
Médio, Madeira e Caribe.
Conforme a revista, a captação geralmente é feito no ponto que o
rio deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida
com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente
Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil,
considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico)
do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50).
Há anos atrás , a Agência
Amazônia também denunciou a prática nefasta. Até agora, ao que se sabe nada de
concreto foi feito para coibir o crime batizado de hidropirataria. Para a revista Consulex,
“essa prática ilegal, no então, não pode ser negligenciada pelas autoridades
brasileiras, tendo em vida que são considerados bens da União os lagos, os rios
e quaisquer correntes de água em terrenos de seus domínio (CF, art. 20, III).
Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui
à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização
dos recursos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de
outorga de utilização desse direito. Assinado pela advogada Ilma de Camargos
Pereira Barcellos, o artigo ainda destaca que a água é um bem ambiental de uso
comum da humanidade. “É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso
mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses
econômicos ou políticos internacionais”, defende a autora.
Segundo Ilma Barcellos, o transporte internacional de água já é
realizado através de grandes petroleiros. Eles saem de seu país de origem
carregados de petróleo e retornam com água. Por exemplo, os navios-tanque
partem do Alaska, Estados Unidos – primeira jurisdição a permitir a exportação
de água – com destino à China e ao Oriente Médio carregando milhões de litros
de água.
Nesse comércio, até uma nova tecnologia já foi introduzida no
transporte transatlântico de água: as bolsas de água. A técnica já é utilizada
no Reino Unido, Noruega ou Califórnia. O tamanho dessas bolsas excede ao de
muitos navios juntos, destaca a revista Consulex. “Sua capacidade [a dos
navios] é muito superior à dos superpetroleiros”. Ainda de acordo com a
revista, as bolsas podem ser projetadas de acordo com necessidade e a
quantidade de água e puxadas por embarcações rebocadoras convencionais.
Biopirataria e roubo de
minérios
Em 2005, o jornalista Erick Von Farfan também denunciou o
caso. Numa reportagem no site eco21 lembrava que, depois de sofrer com a
biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está
enfrentando o tráfico de água doce.
A nova modalidade de saque aos recursos
naturais foi identificada por Farfan de hidropirataria. Segundo ele, os cientistas
e autoridades brasileiras foram informadas que navios petroleiros estão
reabastecendo seus reservatórios no Rio Amazonas antes de sair das águas
nacionais. Farfan ouviu Ivo Brasil, Diretor de Outorga, Cobrança e
Fiscalização da Agência Nacional de Águas. O dirigente disse saber desta ação
ilegal. Contudo, ele aguarda uma denúncia oficial chegar à entidade para poder
tomar as providências necessárias. “Só assim teremos condições legais para agir
contra essa apropriação indevida”, afirmou. O dirigente está preocupado com a situação. Precisa, porém, dos
amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que
necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz
dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido
comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, observa.
Águas amazônicas
Segundo Farfan, o tráfico pode ter ligações diretas com empresas
multinacionais, pesquisadores estrangeiros autônomos ou missões religiosas
internacionais. Também lembra que até agora nem mesmo com o Sistema de
Vigilância da Amazônia (Sivam) foi possível conter os contrabandos e a
interferência externa dentro da região. A hidropirataria também é conhecida dos pesquisadores da Petrobrás
e de órgãos públicos estaduais do Amazonas. A informação deste novo crime
chegou, de maneira não oficial, ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
(IPAAM), órgão do governo local. “Uma mobilização até o local seria
extremamente dispendiosa e necessitaríamos do auxílio tanto de outros órgãos
como da comunidade para coibir essa prática”, reafirmou Ivo Brasil. A captação é feita pelos petroleiros na foz do rio ou já dentro do
curso de água doce. Somente o local do deságue do Amazonas no Atlântico tem 320
km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a
profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande
navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na
área. Essa água, apesar de conter uma gama residual imensa e a maior
parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas
engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água
mesmo no estado bruto representaria uma grande economia. O custo por litro
tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas
ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das
águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus. Abaixo,
alguns trechos da reportagem de Erick Von Farfan:
Hidro ou biopirataria?
O diretor de operações da empresa Águas do Amazonas, o engenheiro
Paulo Edgard Fiamenghi, trata as águas do Rio Negro, que abastece Manaus, por
processos convencionais. E reconhece que esse procedimento seria de baixo custo
para países com grandes dificuldades em obter água potável. “Levar água para se
tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose
reversa”, comenta. O avanço sobre as reservas hídricas do maior complexo ambiental do
mundo, segundo os especialistas, pode ser o começo de um processo desastroso
para a Amazônia. E isto surge num momento crítico, cujos esforços estão
concentrados em reduzir a destruição da flora e da fauna, abrandando também a
pressão internacional pela conservação dos ecossistemas locais. Entretanto, no meio científico ninguém poderia supor que o
manancial hídrico seria a próxima vítima da pirataria ambiental. Porém os
pesquisadores brasileiros questionam o real interesse em se levar as águas
amazônicas para outros continentes. O que suscita novamente o maior drama
amazônico, o roubo de seus organismos vivos. “Podem estar levando água, peixes
ou outras espécies e isto envolve diretamente a soberania dos países na
região”, argumentou Martini.
A mesma linha de raciocínio é utilizada pelo professor do
Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná, Ary
Haro. Para ele, o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso no
aspecto econômico. “Como ainda é desconhecido, só podemos formular teorias e
uma delas pode estar ligada ao contrabando de peixes ou mesmo de
microorganismos”, observou. Essa suposição também é tida como algo possível para Fiamenghi,
pois o volume levado na nova modalidade, denominada “hidropirataria” seria
relativamente pequeno. Um navio petroleiro armazenaria o equivalente a meio dia
de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes.
“Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se
levar apenas água doce”, comentou. Segundo o pesquisador do Inpe, a saturação dos recursos hídricos
utilizáveis vem numa progressão mundial e a Amazônia é considerada a grande
reserva do Planeta para os próximos mil anos. Pelos seus cálculos, 12% da água
doce de superfície se encontram no território amazônico. “Essa é uma estimativa
extremamente conservadora, há os que defendem 26% como o número mais preciso”,
explicou. Em todo o Planeta, dois terços são ocupados por oceanos, mares e
rios. Porém, somente 3% desse volume são de água doce. Um índice baixo, que se
torna ainda menor se for excluído o percentual encontrado no estado sólido,
como nas geleiras polares e nos cumes das grandes cordilheiras. Contando ainda
com as águas subterrâneas. Atualmente, na superfície do Planeta, a água em estado
líquido, representa menos de 1% deste total disponível.
Água será motivo de
guerra
A previsão é que num período entre 100 e 150 anos, as guerras
sejam motivadas pela detenção dos recursos hídricos utilizáveis no consumo
humano e em suas diversas atividades, com a agricultura. Muito disto se daria
pela quebra dos regimes de chuvas, causada pelo aquecimento global. Isto
alteraria profundamente o cenário hidrológico mundial, trazendo estiagem mais
longas, menores índices pluviométricos, além do degelo das reservas polares e
das neves permanentes. Sob esse aspecto, a Amazônia se transforma num local estratégico.
Muito devido às suas características particulares, como o fato de ser a maior
bacia existente na Terra e deter a mais complexa rede hidrográfica do planeta,
com mais de mil afluentes. Diante deste quadro, a conclusão é óbvia: a
sobrevivência da biodiversidade mundial passa pela preservação desta reserva.
Mas a importância deste reduto natural poderá ser, num futuro
próximo, sinônimo de riscos à soberania dos territórios panamazônicos. O que
significa dizer que o Brasil seria um alvo prioritário numa eventual tentativa
de se internacionalizar esses recursos, como já ocorre no caso das patentes de
produtos derivados de espécies amazônicas. Pois 63,88% das águas que formam o
rio se encontram dentro dos limites nacionais. Esse potencial conflito é algo que projetos como o Sistema de
Vigilância da Amazônia procuram minimizar. Outro aspecto a ser contornado é a
falta de monitoramento da foz do rio. A cobertura de nuvens em toda Amazônia é
intensa e os satélites de sensoriamento remoto não conseguem obter imagens do
local. Já os satélites de captação de imagens via radar, que conseguiriam furar
o bloqueio das nuvens e detectar os navios, estão operando mais ao norte. As águas amazônicas representam 68% de todo volume hídrico
existente no Brasil. E sua importância para o futuro da humanidade é
fundamental. Entre 1970 e 1995 a quantidade de água disponível para cada
habitante do mundo caiu 37% em todo mundo, e atualmente cerca de 1,4 bilhão de
pessoas não têm acesso a água limpa. Segundo a Water World Vision, somente o
Rio Amazonas e o Congo podem ser qualificados como limpos.
O termo “biopirataria foi lançado em 1993, para alertar sobre o
fato que recursos biológicos e conhecimento indígena estavam sendo apanhados e
patenteados por empresas multinacionais e instituições cientificas e que as
comunidades que durante séculos usam estes recursos e geraram estes
conhecimentos, não estão participando nos lucros. De modo geral, biopirataria
significa a apropriação de conhecimento e de recursos genéticos de comunidades
de agricultores e comunidades indígenas por indivíduos ou por instituições que
procuram o controle exclusivo do monopólio sobre estes recursos e
conhecimentos. Por enquanto, ainda não existe uma definição padrão sobre o
termo biopirataria”.
fonte: http://www.agazeta.net / http://ambientes.ambientebrasil.com.br/
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