ANIMAIS FICAM DE LUTO?

Entre os cientistas, ainda existe um preconceito contra a ideia de que os animais sentem um luto ou respondem de forma complexa à morte. Apenas alguns estudiosos têm explorado como a multidão de criaturas com quem os seres humanos compartilham o planeta pensam e se sentem sobre a morte, seja a sua própria ou de outros seres. A questão não é "Os animais sofrem?", mas "Como os animais sofrem?"

A consciência da mortalidade permaneceu, para muitos cientistas e filósofos, uma referência da singularidade percebida pelo ser humano. No entanto, uma crescente coleção de relatos de luto e outros comportamentos relacionados à morte em uma ampla gama de espécies está ajudando os pesquisadores a formularem questões sobre a percepção da morte em animais e a descobrir como estudar melhor esses comportamentos. Embora o luto seja uma realidade entre os animais, a ciência está longe de desvendar totalmente o grau de compreensão deles sobre o fim da vida. Nem toda a resposta à morte significa luto. Alguns bichos reagem com curiosidade, cutucando o cadáver. Outros parecem indiferentes à perda de um companheiro. Tem ainda o grupo que pratica canibalismo. 

A antropóloga e pesquisadora norte americana Barbara King, em seu livro “How Animals Grieve” (Como os Animais Ficam de Luto), comprova que bichos selvagens e domésticos sofrem e demonstram tristeza após a perda de companheiros. Essa empatia, que pode ser vista na tristeza demonstrada após a morte, está vinculada também à necessidade de alianças dentro de um bando. Indivíduos dominantes sofrem mais com a morte de outro animal do grupo do que os submissos. 

O luto deles é diferente do nosso. Pessoas sofrem por estranhos e conseguem canalizar esse sentimento de várias formas. No entanto, a comprovação de que alguns bichos sentem a perda de seus semelhantes mostra que as emoções não são, definitivamente, exclusividade do ser humano. 

De acordo com o holandês Frans de Waal, primatologista e etólogo (estuda comportamento animal), explica como os animais se comportam após a perda de um ente querido. Enquanto algumas espécies parecem reagir apenas fisiologicamente à morte de um companheiro, outras ficam de luto por um longo tempo, e alguns, como certos macacos, aparentam saber até mesmo que a morte não tem volta. 

Não é um luto como do ser humano. Os animais ficam transtornados. Com primatas, como chimpanzés, não é incomum que, se um do grupo morre, os outros parem de comer por alguns dias. Eles ficam completamente silenciosos, olham para o cadáver por um longo tempo, tentam reanimar o corpo. Isso é tipicamente humano – nós não fazemos mais isso, mas nos tempos passados as pessoas faziam.

Em outro exemplo, cientistas documentaram um chimpanzé usando uma ferramenta para limpar um cadáver. Em 2017, uma equipe de pesquisadores de primatas na Zâmbia filmou uma mãe usando um pedaço de grama seca para limpar detritos dos dentes de seu falecido filho. A implicação, segundo os cientistas envolvidos, é que os chimpanzés continuam a sentir laços sociais, mesmo após a morte, e sentem alguma sensibilidade em relação aos cadáveres.

O luto típico acontece muito com as mães e filhos. Normalmente, encontra-se luto entre animais que têm relações individuais, e não apenas cresceram ou voaram juntos, mas que têm amigos. Todos os mamíferos têm esses laços em algum grau, todas as aves também, já que muito frequentemente vivem em pares. Se o parceiro morre, elas são muito afetadas por isso. É usual observar em cães que perdem o parceio(a), o luto e a depressão. O sobrevivente vira sombra do dono, quer sempre estar junto, dorme e alimenta se o dono estiver ao lado. Onde o dono estiver ele vai estar "colado". Muito uivos de choro e solidão, caso fique sozinho.

É também, usual observar o luto do companheiro entre espécies diferentes. Quando o cão perde seu dono é comum o animal ficar sem fome, repetir os mesmos gestos e horários, esperando seu dono. Pode ficar deitado silencioso em algum lugar onde sempre houve interação entre eles. Sempre que você tem ligações, seja entre um cão e um ser humano ou um gato e um ser humano, você pode ter luto. 

Alguns pássaros que ficam juntos por toda a vida às vezes até param de comer e morrem se o parceiro morrer. Isso é verdade no caso dos gansos, mas também de muitas aves da ordem Passeri [que cantam], as quais têm laços de longo prazo. Pegas [aves da família corvidade] foram observadas enterrando seus mortos sob galhos de grama. O etólogo Marc Bekoff, que observou esse comportamento, descreveu-o como um “funeral pega”.

Os elefantes são conhecidos por terem uma relação ritual com os ossos de seus falecidos e por lamentar a morte de parentes. Eles voltam para os ossos daqueles que perderam. Se um elefante morre os outros elefantes inspecionam os ossos do animal morto se conseguem encontrá-los. Eles voltam para os ossos um pouco como nós, quando vamos a um cemitério. 

E, julho de 2018, foi registrado uma baleia orca chamada J35 carregando seu filhote morto, empurrando-o com a cabeça, por mais de uma semana na costa Noroeste dos Estados Unidos. O triste espetáculo é um exemplo e uma confirmação de que esses animais têm emoções muito mais complexas do que imaginávamos. As orcas, assim como os golfinhos, são conhecidas por velarem seus filhotes mortos por até uma semana. A vigília de J35 começou em 24 de julho. É o maior período de luto já registrado em qualquer orca, dizem os especialistas. J35 carregou o filhote por pelo menos 17 dias e quase 1,6 mil km.

Tudo o que percebemos sobre os animais em termos de suas vidas emocionais ou cognição sobre a morte, pode mudar a forma como vemos o tratamento.Todo esse conhecimento contribui para a forma como vemos os animais. Concordo que um grau de cautela é apropriado quando se trata de atribuir aos animais emoções e comportamentos como o luto. Nós humanos temos muito a aprender sobre outros animais. A ciência pode observar um determinado estímulo, mas é muito difícil saber qual sentimento motivou esse comportamento.