A questão é principalmente cultural
As árvores frutíferas são comuns em nossas
matas e campos, mas raramente plantadas nas áreas públicas das
cidades como calçadas e praças. Muitas das frutíferas nativas apresentam frutos
pequenos que não atrapalham a infraestrutura urbana e são capazes de
aumentar a biodiversidade com a atração de pássaros e outros animais de
ambientes naturais, que ajudam a reequilibrar o meio ambiente urbano através do
controle de pragas e o plantio de novas árvores trazidas de suas refeições
nas matas. Muitas árvores da Mata Atlântica e do cerrado surgem nas cidades e metrópoles
através das fezes de aves e morcegos que
moram nas florestas e visitam a cidade para complementar seu “cardápio”. Outro
aspecto importante é a humanização das cidades. Árvores frutíferas reconectam a
população com prazeres simples como colher frutas silvestres no pé e a
descoberta de novos sabores, incentivam o uso de espaços públicos
e, em tempos de internet, as crianças a subirem e brincarem em
árvores.
O outro lado da moeda, ou melhor, da árvore urbana
A função de árvores em paisagismo não é alimentar
pessoas. Mas é claro que se pode pensar em espaços especiais onde esta função
possa ser conciliada. Descobrir novos sabores é sempre bom. Para
urbanização urbana não se deve utilizar espécies que formam frutos grandes e/ou
pesados, principalmente nas vias de circulação, porém, o tamanho do fruto não é
o único critério a ser observado:
- Considerando a probabilidade de contaminação dos frutos por conta de poluentes atmosféricos (principalmente da combustão de combustível), ou por poluentes no solo (metais pesados, dioxinas, etc.), não é recomendado ingestão de frutos direto do pé nas áreas urbanas. O mais adequado é que se faça um pomar específico para isso.
- A educação e valores altruísta são inegavelmente essenciais para uma boa convivência, uma vez que já testemunhei disputas territorialistas por conta de frutos que levaram à agressões (imagina, matar por conta de uma manga…). Pessoas quebrando galhos (inclusive de grosso calibre) das poucas árvores existentes em nossas calçadas e praças, grupos com até seis pessoas em uma única árvore envergando os galhos e disputando frutos…
- Outro fator peculiar a observar é a integridade das árvores na cidade. É muito importante, não só esteticamente, mas por conta da fitossanidade e da segurança das pessoas e estruturas no entorno.
Antes de sair plantando nas praças e ruas,
lembre-se que toda cidade tem sua Lei Orgânica
(A lei orgânica age como uma Constituição Municipal). A secretaria de meio
ambiente é o setor responsável de verificar quais plantas nativas podem se
adaptar ao clima da sua região e quais não estão aptas. Assim, os espaços
verdes ou áreas verdes, incluindo-se aí as árvores que ladeiam as vias públicas
fruto da arborização urbana, também por serem seus acessórios que devem
acompanhar o principal, são bens públicos de uso comum do povo, nos termos do
art. 66 do Código Civil, estando à disposição da coletividade, o que implica na
obrigação municipal de gestão, devendo o poder público local cuidar destes bens
públicos de forma a manter a sua condição de utilização.
Além disso, a legislação urbanística municipal pode
e deve incentivar ao particular a conservação de áreas verdes em sua
propriedade, assim como incentivar a sua criação e manutenção, possibilitando
inclusive desconto no IPTU ao proprietário que constitui ou mantém áreas verdes
no seu imóvel, como já ocorrem em algumas cidades.
Por sua vez, quem destrói ou danifica, lesa ou
maltrata, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros
públicos ou em propriedades privadas alheias, comete crime ambiental penalizado
nos termos do art.49, da Lei 9.605/98.
Portanto, pela condição jurídica de bem comum do povo as
áreas verdes naturais ou arborizadas podem e devem ser protegidas legalmente
pela coletividade através das associações de bairro por meio da ação civil
pública (Lei 7347/85), ou pelo Ministério Público, ou ainda pelo cidadão
através da ação popular (Lei 4717/65).
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