O Brasil e mais de 190 países definirão, nas duas primeiras semanas
de dezembro/2015, medidas capazes de frear o aquecimento global. A 21ª
Conferência das Partes (COP21)
ocorrerá em Paris e reunirá negociadores de todo o mundo com o intuito
de validar um novo acordo internacional de corte de emissões de gases de
efeito estufa.
O desafio é promover mudanças estruturais nos modelos de
desenvolvimento a nível mundial e, com isso, limitar o aumento da
temperatura média da Terra a até 2°C. A expectativa é que o futuro pacto
comece a valer em 2020, quando substituirá o Protocolo de Kyoto, em
vigência atualmente. Confira, abaixo, as principais questões ligadas ao
assunto:
O que é efeito estufa?
Apesar de ser considerado um fenômeno natural, o efeito estufa tem
aumentado nas últimas décadas e gerado as mudanças do clima. Essas
alterações são fruto do aumento descontrolado das emissões de gases de
efeito estufa– como o dióxido de carbono e o metano. A liberação dessas
substâncias na atmosfera ocorre por conta de diversas atividades
humanas, entre elas o transporte, o desmatamento, a agricultura, a
pecuária e a geração e o consumo de energia.
Como surgiu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês)?
A UNFCCC foi criada no Rio de Janeiro em 1992, durante a Conferência
da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Atualmente, 193
países são signatários dessa Convenção. Regularmente, representantes de
todas essas nações trabalham em grupos de apoio técnico e administrativo
em diversas frentes de trabalho ligadas às mudanças do clima. Uma vez
por ano, equipes de alto nível desses países se reúnem na Conferência
das Partes (COP).
O que é a Conferência das Partes (COP)?
A COP é o órgão supremo da UNFCCC e tem como principal função a
elaboração de propostas de mitigação e adaptação às mudanças do clima.
Além disso, a COP tem como atribuição o acompanhamento das ações e dos
acordos estabelecidos anteriormente. Nas duas primeiras semanas de
dezembro de 2015, ocorrerá, em Paris, a 21ª edição dessa Conferência –
chamada de COP 21.
Qual é o objetivo do Protocolo de Kyoto?
Firmado em 1997 na cidade japonesa de Kyoto, o Protocolo estabelece
metas obrigatórias de redução de 5% das emissões com base nos dados de
1990 para os países desenvolvidos. O pacto teve, inicialmente, a adesão
de 37 países desenvolvidos, que assumiram diferentes compromissos dentro
da meta global de diminuição. Para os países em desenvolvimento,
incluindo o Brasil, foram estabelecidas medidas para que o crescimento
necessário de suas emissões fosse limitado pela introdução de medidas
apropriadas, contando, para isso, com recursos financeiros e acesso à
tecnologia dos países industrializados. O Brasil ratificou o Protocolo
em 23 de agosto de 2002.
O que levou o Brasil a assinar, voluntariamente, o Protocolo de Kyoto?
O Brasil teve um papel ativo no delineamento da estrutura do
Protocolo de Kyoto. Nesse quadro, cabe referência à chamada “proposta
brasileira” para determinação das metas de redução de emissões com base
na responsabilidade histórica de cada país pelo aumento da temperatura
do planeta. Além disso, a proposta brasileira para a criação de um Fundo
de Desenvolvimento Limpo evoluiu para o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL) do protocolo, de grande importância para os países em
desenvolvimento. A posição de destaque nas negociações de clima e o
compromisso ético com as futuras gerações levaram o Brasil a ratificar o
Protocolo de Kyoto.
Como essas metas voluntárias de redução de emissões estão sendo desenvolvidas do Brasil?
Após a adesão voluntária, na COP 15, em Copenhague, o Brasil
ratificou o compromisso em território nacional por meio da Lei federal
nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. A legislação institui a Política
Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e estabelece “ações de mitigação
das emissões de gases de efeito estufa, com vistas em reduzir entre
36,1% e 38,9% suas emissões projetadas até 2020”.
Quanto o Brasil já atingiu da meta até agora?
Entre 2005 e 2012, o país reduziu 41,1% das emissões, totalizando 1,2
bilhão de toneladas de carbono – contra as 2,04 bilhões registradas
anteriormente. A redução decorre, principalmente, da queda nas taxas de
desmatamento nos biomas brasileiros, em especial na Amazônia, cuja taxa
de desmatamento vem diminuindo desde 2004. O setor de uso da terra e
florestas apresentou, em 2012, a maior queda nos níveis de emissões do
período apresentado: mais de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono
equivalente (tCO2e) abaixo do que foi projetado para 2020. Embora os
demais setores tenham apresentado aumento de emissões absolutas de GEE
em relação a 1990, ainda assim em 2012 suas emissões apresentaram nível
abaixo do que foi projetado para 2020.
O que está em jogo na próxima Conferência das Partes, a COP 21, que ocorrerá no fim do ano, em Paris?
Tem como objetivo principal estabelecer um novo acordo global de
corte de emissões, o Acordo de Paris, com objetivo de limitar o aumento
da temperatura média da Terra a até 2°C, que passará a vigorar a partir
de 2020. Esse acordo consolidará as “contribuições nacionalmente
determinadas” (INDCs, na sigla em inglês), que representam o pretendido
aporte de cada país ao esforço global de combate à mudança do clima e
deverão ter papel central na implantação do novo acordo sob a Convenção.
Como funcionam as Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDCs)?
As INDCs representam o compromisso dos signatários da UNFCCC com a
redução de emissões de gases de efeito estufa em seus próprios
territórios. Antes da realização da COP 21, cada país apresentou a sua
INDC com percentuais de corte de carbono e ações para alcançá-los.
Juntas, as metas de cada nação devem ser capazes de limitar o aumento da
temperatura média global a até 2°C.
Qual é a INDC do Brasil?
A meta anunciada pelo Brasil é reduzir 37% das emissões de gases de
efeito estufa até 2025. O compromisso inclui a redução de 43% até 2030.
Ambas as metas são comparadas aos níveis registrados em 2005. Para
alcançar esse patamar, o governo federal adotará políticas e medidas em
diversas áreas. Na matriz energética, o país pretende assegurar 45% de
fontes renováveis, incluindo as hidrelétricas, enquanto a média global é
de apenas 13%. No setor de uso da terra, a previsão é restaurar e
reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação em território nacional,
além de acabar com o desmatamento ilegal.
Por que a INDC brasileira é mais ambiciosa do que a contribuição dos demais países signatários da UNFCCC?
Por que a INDC brasileira é mais ambiciosa do que a contribuição dos demais países signatários da UNFCCC?
O Brasil é um país em desenvolvimento com vários desafios
relacionados à erradicação da pobreza, educação, saúde pública, emprego,
habitação, infra-estruturar e acesso a energia. Apesar desses desafios,
as ações atuais do Brasil no combate global à mudança do clima
representam um dos maiores esforços de um único país até hoje, tendo
reduzido suas emissões em 41,1%, em 2012, com relação aos níveis de
2005. Contudo, ao assumir uma meta de mitigação absoluta para o conjunto
da economia, o Brasil adotará uma modalidade de contribuição mais
rigorosa, quando comparada com suas ações voluntárias pré-2020.
Qual é a proposta brasileira para o Acordo de Paris?
O Brasil tem sido país de vanguarda no tema e, para a COP 21, manterá
o posicionamento ambicioso e propositivo. Mais uma vez, pode-se esperar
que o Brasil seja construtivo ao facilitar as negociações sobre um dos
itens mais controversos até o momento: a diferenciação. A proposta
brasileira, conhecida como diferenciação concêntrica, tem sido acolhida
de maneira positiva. O intuito da proposta é chamar os países
desenvolvidos para que assumam compromissos ambiciosos de redução de
emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que fortaleçam o
apoio aos países em desenvolvimento em suas ações de mitigação e
adaptação. Do lado dos países em desenvolvimento, a proposta é que
fortaleçam suas ações e progressivamente apresentem metas de redução de
emissões cada vez mais ambiciosas ao longo do tempo para o conjunto da
economia de acordo com as respectivas condições de desenvolvimento.
O que será feito pelo Brasil no período de 2015 a 2020 (antes de o Acordo de Paris começar a valer)?
No final de 2009, foi promulgada a Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC), que apresentou o compromisso nacional voluntário de
redução de 36,1 a 38,9% das emissões de gases de efeito estufa
projetadas para o ano de 2020. O decreto que a regulamenta, de 2010,
apresentou as ações necessárias para o alcance desse objetivo: os planos
setoriais e de combate ao desmatamento nos biomas. Assim, foram
revisados os planos já existentes (de Prevenção e Combate ao
Desmatamento na Amazônia – PPCDAm e no Cerrado – PPCerrado, Plano
Decenal de Energia) e, em 2013, lançados novos planos setoriais (Plano
ABC, Indústria, Mineração, Saúde, Transporte e Mobilidade Urbana). As
ações são transversais e têm sido implantadas em coordenação por vários
ministérios. Todo esse esforço tem sido feito em articulação com
representantes da sociedade civil, academia e setor privado. O
resultado, até agora, é a redução de 41,1% de emissões de gases de
efeito estufa no período entre 2005 e 2012. É a maior redução que
qualquer país já alcançou. Contudo, é preciso esclarecer que o
compromisso é até o ano de 2020, portanto os esforços realizados para o
alcance desse resultado devem permanecer para que o compromisso nacional
voluntário seja totalmente cumprido em 2020.
LINHA DO TEMPO
1992
Rio 92: criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)
Rio 92: criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)
1997
Protocolo de Kyoto: metas obrigatórias para os países desenvolvidos com o objetivo de reduzir 5% das emissões com base nos dados de 1990
Protocolo de Kyoto: metas obrigatórias para os países desenvolvidos com o objetivo de reduzir 5% das emissões com base nos dados de 1990
2002
Adesão voluntária do Brasil ao Protocolo de Kyoto
Adesão voluntária do Brasil ao Protocolo de Kyoto
2004
Implantação do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM)
Implantação do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM)
2005
Entrada em vigor do Protocolo de Kyoto
Entrada em vigor do Protocolo de Kyoto
2009
Anúncio da meta voluntária brasileira de reduzir entre 36,1% e 38,9% das suas emissões projetadas até 2020
Anúncio da meta voluntária brasileira de reduzir entre 36,1% e 38,9% das suas emissões projetadas até 2020
2012
Menor taxa de desmatamento na Amazônia (4.571 km2), uma redução de 83% em relação aos índices de 2004 – ano de implantação do PPCDAm
Menor taxa de desmatamento na Amazônia (4.571 km2), uma redução de 83% em relação aos índices de 2004 – ano de implantação do PPCDAm
2015
Acordo de Paris: previsão de negociação e estabelecimento durante as duas primeiras semanas de dezembro
Acordo de Paris: previsão de negociação e estabelecimento durante as duas primeiras semanas de dezembro
2020
Ano em que deverá começar a valer o Acordo de Paris
Ano em que deverá começar a valer o Acordo de Paris
2025
Ano em que o Brasil pretende alcançar a redução de 37% das emissões de carbono com base nos valores registrados em 2005
Ano em que o Brasil pretende alcançar a redução de 37% das emissões de carbono com base nos valores registrados em 2005
2030
Ano em que o Brasil pretende alcançar a redução de 43% das emissões de carbono com base nos valores registrados em 2005
Por: Lucas Tolentino – Editor: Marco Moreira
Ano em que o Brasil pretende alcançar a redução de 43% das emissões de carbono com base nos valores registrados em 2005
Por: Lucas Tolentino – Editor: Marco Moreira
Informe do MMA, in EcoDebate, 23/10/2015
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