Além dos mais variados problemas causados pelo homem que assolam as grandes cidades, outros fenômenos que contam com grande participação da natureza também dificultam a vida nos centros urbanos: as enchentes.
As áreas urbanas são as que mais expressam as
intervenções humanas no meio natural. O desmatamento, as edificações, a
canalização, a mudança do curso dos rios, a poluição da atmosfera, dos cursos
de água e a produção de calor geram diversos efeitos sobre os aspectos do
ambiente. As alterações ambientais causadas pelas atividades urbanas são
sentidas pela população, tais como o aumento da temperatura nas áreas centrais,
a canalização dos ventos, a perda da vegetação,
a impermeabilização dos solos,o aumento de precipitação e as enchentes.
Essa última consequência do processo de urbanização teve como causa principal a
construção de casas, indústrias, vias marginais implantadas nas áreas de
várzeas dos rios e proximidades e é, atualmente, um problema constante nos períodos
chuvosos nos principais centros urbanos.
Precipitação - É o nome técnico utilizado para denominar o fenômeno climático de queda de água do céu para a superfície terrestre. A precipitação pode ser sólida (granizo); sólida em cristais (neve, ocorre quando o esfriamento da água é mais lento) e líquida (chuva propriamente dita).
As enchentes são fenômenos naturais que ocorrem
quando a precipitação é elevada e a vazão ultrapassa a capacidade de
escoamento, ou seja, quando a chuva é intensa e constante, a quantidade de água
nos rios aumenta, extravasando para as margens dos rios (áreas de várzeas).
Todos os canais de escoamento possuem essa área de várzea para receber o
"excesso" de água, quando ela ultrapassa os limites dos canais.
Entretanto, com as interferências antrópicas (do homem), as inundações são
intensificadas em vista de alterações no solo de uma bacia hidrográfica, tais
como a urbanização, impermeabilização, desmatamento e o desnudamento
(eliminação da vegetação).
O processo de urbanização causa mudanças no
microclima das cidades. O intenso processo de desmatamento e a construção de
residências, edifícios, indústrias, ocupação das áreas de várzeas e a
impermeabilização do solo com asfalto acarretam no aumento de temperatura dos
centros urbanos em relação às áreas periféricas (afastadas do centro) e às
áreas rurais. Em algumas cidades esta diferença de temperatura pode atingir até
10°C. Além do desmatamento e da impermeabilização do solo, o consumo de
combustíveis fósseis por automóveis e indústrias torna a cidade uma fonte de
calor. Esse fenômeno é denominado "ilha de calor". O aumento de
temperatura nos centros urbanos intensifica a evaporação; além disso, o
material particulado (poluentes) em suspensão favorece a formação de núcleos de
condensação na atmosfera. O resultado é o aumento da quantidade de chuvas. No
entanto, as inundações não resultam apenas do aumento da quantidade de chuva,
mas - e principalmente - do aumento da velocidade de escoamento superficial
ocasionado pela impermeabilização do solo. Além disso, diariamente, os rios
recebem uma carga de água utilizada pela população (esgoto), o que também
contribui para aumentar a quantidade de água no leito dos rios.
Diariamente os
rios recebem a água do esgoto nas cidades brasileiras, o que contribui para
aumentar a ocorrência de enchentes.
Em condições naturais, parte da chuva fica retida nos troncos e folhas, o escoamento superficial é retido por obstáculos naturais gerando maior infiltração e retardando a chegada da água nos cursos de água. Quando a cobertura vegetal é retirada, não há resistência ao escoamento e a água atinge os rios com maior facilidade e rapidez, contribuindo também com o assoreamento dos rios, pois, sem a cobertura vegetal, os sedimentos são carregados pela água e acabam depositados no fundo dos leitos dos rios. Este fato é agravado quando há impermeabilização do solo.
Outro fator que agrava as inundações nos centros
urbanos é o entupimento dos bueiros ocasionado pelo lixo jogado nas ruas pela
população. Em dias de chuva, com a impossibilidade do escoamento pelos bueiros,
a água concentra-se nas ruas de forma rápida, causando transtornos no trânsito
e no comércio, além de atingir residências e causar todo o tipo de estragos.
UM PERIGO PARA A VIDA
URBANA
As enchentes representam uma ameaça para a
população, especialmente nas áreas periféricas, onde há deficiência de coleta e
tratamento de esgoto. Em épocas de inundações, a população tem contato com a
água contaminada, contribuindo para a propagação de doenças como a
leptospirose. O processo de urbanização no Brasil, atualmente, ocorre de forma
intensa e, na maior parte dos casos, sem planejamento. Áreas inteiras são
ocupadas e loteadas, de forma clandestina ou não, contribuindo para os
processos de erosão. Esta urbanização desmesurada também leva a população a
ocupar áreas dos leitos de rios ou de mananciais. Tudo isso só faz agravar a
problemática das enchentes nos grandes centros urbanos. As soluções encontradas
para conter, da maneira que é possível, as enchentes seguem uma linha
imediatista na tentativa de alcançar a resolução do problema em um período curto
de tempo. Dentre as ações, destacam-se as obras de desassoreamento dos rios
(retirada dos sedimentos depositados pela água) e, consequentemente, o
aprofundamento do leito, com canalização e construção de reservatórios
regularizadores de vazão.
As medidas preventivas ideais para a solução das
inundações são fundamentalmente institucionais. A atuação e fiscalização dos
órgãos responsáveis (estaduais e municipais) no que tange ao uso e ocupação do
solo, à utilização dos recursos hídricos e ao cumprimento da legislação seriam
um bom ponto de partida para a solução do problema. Neste sentido, a má
definição de atribuições, ausência de uma política unificada e de competição
entre os órgãos públicos e o conflito de projetos são fatores que influenciam
na resolução dos problemas em curto prazo e o grande investimento de capital.
Portanto, frente aos problemas elucidados, é necessário um planejamento urbano
coerente com a gestão dos recursos hídricos e uso e ocupação do solo,
respeitando as áreas de várzeas e as encostas. Ressalta-se que estas áreas
podem ser ocupadas, mas de forma planejada, e as atividades devem ser
compatíveis com as suas características, como, por exemplo, a implantação de
parques, ciclovias, áreas para práticas esportivas ou exposições nas áreas de
várzea. A conscientização dos técnicos e da população de que as enchentes são
um processo natural do regime hidrológico de um rio é essencial para a
implantação de medidas preventivas que evitem os prejuízos vistos atualmente e
com os quais toda a sociedade tem que arcar.
As enchentes representam uma ameaça para a população,
especialmente nas áreas periféricas, onde há deficiência de coleta e tratamento
de esgoto. Em épocas de inundações, a população tem contato com a água
contaminada, contribuindo para a propagação de doenças como a leptospirose.
Prof. Omar Fürst
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
O escoamento superficial é o segmento do ciclo
hidrológico que estuda o deslocamento da água na superfície da terra. Tem origem,
fundamentalmente, nas precipitações a mais importante das fases do ciclo
hidrológico, uma vez que a maioria dos estudos está ligada ao aproveitamento da
água superficial e à proteção contra os fenômenos provocados pelo seu
deslocamento (erosão do solo, inundação, etc.). Para a ocorrência do escoamento
superficial consideram-se os seguintes fatos.
Prof. Omar Fürst
Quando uma chuva atinge uma determinada área, parte de suas águas é interceptada pela vegetação e outros obstáculos, de onde se evapora posteriormente. O restante atinge a superfície do solo (durante a chuva, é razoável admitir-se que as quantidades evaporadas ou evapotranspiradas são desprezíveis). Do volume que atinge a superfície do solo, parte é retido nas depressões do terreno, parte se infiltra, e o restante escoa pela superfície. O escoamento pela superfície do terreno acontece após a intensidade da precipitação superar a capacidade de infiltração do solo e depois que os espaços nas superfícies retentoras tenham sido preenchidos. Convém destacar, neste ponto, que o escoamento superficial abrange desde o excesso de precipitação posterior a uma chuva suficientemente intensa, até o escoamento de um rio, que pode ser alimentado tanto pelo excesso de precipitação como pelas águas subterrâneas.
FATORES QUE INFLUENCIAM O ESCOAMENTO
SUPERFICIAL
Os principais fatores que exercem influência no
escoamento superficial são: de natureza climática (relacionado à precipitação),
fisiográficos (relevo da bacia) e decorrentes da ação do homem (realização de obras hidráulicas no rio).
a) Fatores Climáticos
Os fatores de natureza climática que influenciam o
escoamento superficial resultam das características de intensidade e duração da
precipitação, bem como da ocorrência de uma precipitação anterior. Quanto a
essas características, pode-se afirmar:
➥ quanto maior a intensidade da
precipitação, mais rápido o solo atinge a sua capacidade de
infiltração (o excesso de precipitação poderá,
então, escoar superficialmente);
➥ a duração da precipitação tem
influência direta no escoamento superficial, pois, para chuva de intensidade
constante, haverá tanto mais oportunidade de ocorrer escoamento quanto maior
for a duração da chuva;
➥ a precipitação que ocorre quando o
solo está úmido (devido a uma chuva anterior) terá maior chance de produzir
escoamento superficial.
b) Fatores
Fisiográficos
Os fatores fisiográficos mais importantes a
influenciar o escoamento superficial são a área e a forma da bacia hidrográfica, a permeabilidade e a
capacidade de infiltração do solo e a topografia da bacia.
➥ A influência da área da bacia é
óbvia, pois esta é a coletora da água de chuva: quanto maior a sua extensão,
maior a quantidade de água que pode captar. Além disso, a área constitui-se em
elemento básico para o estudo das demais características físicas.
➥ Na análise da influência da forma da
bacia hidrográfica sobre o escoamento superficial gerado por uma dada chuva
pode-se dizer que as bacias compactas tendem a concentrar o escoamento no canal
principal que drena a bacia, aumentando os riscos de inundação.
➥ A permeabilidade do solo influi
diretamente na capacidade de infiltração, isto é, quanto mais permeável for o
solo, maior será a velocidade com que ele pode absorver a água e, logo, maior a
quantidade de água que penetrará pela superfície do solo por unidade de tempo –
o que diminui o escoamento superficial.
➥ O efeito da topografia sobre o
escoamento superficial se faz sentir, principalmente, através da declividade da
bacia, da presença de depressões acumuladoras na superfície do solo, bem como
do traçado e da declividade dos cursos d’água que drenam esta bacia. Bacias
íngremes produzem escoamento superficial mais rápido e mais volumoso, por ser
menor a chance de infiltração. Já a presença de depressões acumuladoras de água
retarda o escoamento superficial, que passa a ocorrer somente após terem sido
excedidas estas capacidades retentoras. O traçado e a declividade dos cursos
d’água definem a maior ou menor velocidade com que deixa à bacia a água de
chuva que, escoando superficialmente, atinge as calhas naturais.
c) Obras Hidráulicas Construídas na Bacia
➥ Uma barragem, acumulando a água em seu reservatório,
reduz as vazões máximas do escoamento superficial e retarda a sua propagação para jusante.
➥ Já a retificação de um rio produz um efeito inverso ao da
barragem; em um curso d’água retificado tem-se aumentada a velocidade do escoamento superficial.
➥ Ainda, a derivação de água da bacia,
ou para a bacia, bem como o uso da água para irrigação ou a drenagem do
terreno, podem constituir-se em fatores a considerar.
Obs.: É interessante destacar ainda que:
➥
Em uma dada seção transversal de um curso d’água, as variações das vazões
instantâneas são tanto maiores quanto menor a área da bacia hidrográfica;
➥
Para uma mesma área da bacia de contribuição, as variações das vazões
instantâneas no curso d’água serão tanto maiores e dependerão tanto mais das
chuvas de alta intensidade quanto:
-
maior for a declividade do terreno;
-
menores forem as depressões retentoras de águas;
-
mais retilíneo for o traçado e maior a declividade do curso d’água;
-
menor for a quantidade de água infiltrada; e
-
menor for a área coberta por vegetação.
Fonte:
DREW, D. Processos Interativos homem-meio ambiente. São Paulo: Difel, 1986.
http://geografia.uol.com.br/ http://www.em.ufop.br/
As imagens foram muito bem selecionadas, despertam desejo pela leitura do texto, porém estão sem a fonte...gostaria de usar os dois gráficos como faço a referência? atribuo ao site? aguardo e agradeço a atenção.
ResponderExcluirAdriane. obrigado pelo elogio. Os gráficos foram elaborados e/ou modificador por mim. Atribui ao blog a referência.
ResponderExcluir