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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

OPILIÃO, O PAPAI PROTETOR


Ficar no ninho, protegendo os ovos, enquanto a fêmea vai cuidar da vida, não é nenhum problema para os opiliões da espécie Iporangaia pustulosa. Na verdade, esta é uma estratégia para fugir de predadores e atrair outras fêmeas para o ninho. 


O cuidado paternal com a prole ainda é um fenômeno raro entre os animais.
Antes de explicar como funciona a malandragem, é bom apresentar esse animal pouco conhecido. Os opiliões são um dos 11 grupos de aracnídeos. São numerosos, embora menos falados e conhecidos do que as primas aranhas, escorpiões e ácaros. Existem mais de 6.300 conhecidos. É um grupo diverso, com espécies que vivem em áreas bastante restritas. Segundo os pesquisadores, o I. pustulosa foi encontrado em grande concentração em uma área de 5 por 200 metros, na Mata Atlântica do Sudeste Paulista, onde Requena realizou os estudos. “Fora dessa área, a concentração de bichos fica pequena”, disse o pesquisador. O Iporangaia postulosa é robusto. Um adulto tem comprimento de 10 centímetros no total, com um corpo de cerca de 1,5 centímetro. Os opiliões até se parecem com as aranhas, têm o corpo pequeno em comparação com as longas pernas, mas guardam diferenças importantes. Primeiro, os opiliões não têm veneno, embora tenham glândulas que secretam substâncias que ajudam na sua proteção e reprodução. Diferente das aranhas, que têm o corpo dividido em duas porções, o corpo do opilião funde essas duas porções em apenas uma. Além disso, entre invertebrados, os opiliões são um caso raro de possuir pênis.
Para essa espécie de opilião, parente da aranha com patas mais finas e longas, cuidar dos ovos significa ficar pelo menos um mês sem se alimentar. Mas o sacrifício é recompensado. Ao serem vistos cuidando dos ovos por outras fêmeas, eles passam a imagem de bons pais. Em alguns casos, filas de quatro ou cinco interessadas se formam para namorar os garanhões. Cerca de metade dos machos não chega a copular durante a vida. Mas aqueles que conseguem, tornam-se mais atraentes para as fêmeas após a primeira desova.
A cópula dura apenas dois minutos e ocorre sem que o macho abandone a primeira desova. A fêmea, então, coloca seus ovos juntos aos da fêmea anterior e segue sua vida – sem remorso nem ciúmes.  “A vantagem desse comportamento [da fêmea] é poder voltar a se alimentar logo após a desova. Em poucos dias, ela já está apta a colocar ovos novamente.”
Alguns machos, por outro lado, chegam a ficar quatro meses sem comer até que todos os ovos nasçam. Apesar dos esforços, a taxa de mortalidade do grupo dos “pais” é menor em relação aos que ficam soltos na natureza.
"O principal predador são espécies de aranhas que ficam paradas esperando para atacar suas presas. Quanto mais tempo o opilião também ficar parado, protegendo a desova, menores são as chances de se deparar com uma aranha ao longo da vida." Pequeno em relação às pernas, o corpo do macho da Iporangaia pustulosa tem cerca de 1,5 centímetro. O aracnídeo se alimenta basicamente de animais mortos e secreta uma substância amarelada e malcheirosa para se defender – por isso, é popularmente conhecido como aranha de cheiro. "Eles lembram uma aranha, à primeira vista, mas não têm veneno nem a capacidade de produzir teia. Além disso, seu corpo não é dividido como o das aranhas."
Machos seletivos
O estudo foi feito com base em observação de centenas de opiliões do Parque Estadual Intervales, área de Mata Atlântica no sul do Estado de São Paulo. Na região, há grande concentração da espécie, uma das poucas de opilião que adotam o cuidado paternal dos ovos  – ao todo, são mais de 6.000.  Durante o estudo, o grupo da USP observou várias situações em que uma fêmea aparecia na desova disposta a copular e era expulsa pelo macho. Requena explica que deve haver de algum mecanismo pelo qual o macho identificaria fêmeas que têm esperma de outro macho estocado, tornando-o seletivo. Outra explicação, diz ele, é  "que, após vários acasalamentos, o macho precisa de um tempo para repor seu estoque de espermatozoides".
Estratégia  do macho
Existem dois motivos para que um opilião enfrente o perigo da floresta: procurar fêmeas ou buscar comida. No caso do I. pustulosa, após a postura dos ovos, a fêmea vai em busca da própria sobrevivência, enquanto o macho faz o sacrifício de ficar semanas sem se alimentar, para proteger os ovos de predadores, que podem ser grilos, formigas, aranhas e até mesmo outros opiliões.
Aí é que começa a malandragem do bicho. Requena explica que o maior risco na floresta está nos deslocamentos, já que os principais predadores do opilião adulto são aranhas que ficam paradas, aguardando a presa cair na armadilha. “A espécie tem atividade diurna e esperávamos que fosse predada por pássaros, mas isso é raro”, conta o pesquisador. “E na região encontramos também poucas formigas.” Ou seja, no ninho, o opilião fica sem comer, mas também evita virar comida de outro bicho.
Além de proteger contra um esbarrão letal com um predador, cuidar dos ovos é estratégia de sedução entre os opiliões. Fêmeas interessadas em botar ovos e se mandar logo em seguida buscam parceiros que possam cuidar bem da prole. O pai abandonado, então, mantém a casa em ordem na expectativa de atrair outras candidatas. Eles podem se acasalar com várias fêmeas e podem ficar até 4 meses sem se alimentar. Os ovos demoram cerca de um mês para eclodir e os juvenis rapidamente desaparecem na floresta. Requena conta que é difícil o macho pai passar mais de dois meses no mesmo ninho. Eles ficam muito fracos e é possível que em alguns casos abandonem os ovos para buscar comida. Mas o bom macho resiste, enquanto pode. 


fonte: g1.com/ ambientebrasil.com.br

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