Ficar no ninho, protegendo os ovos, enquanto a fêmea vai cuidar da vida, não é nenhum problema para os opiliões da espécie Iporangaia pustulosa. Na verdade, esta é uma estratégia para fugir de predadores e atrair outras fêmeas para o ninho.
O cuidado paternal com a prole
ainda é um fenômeno raro entre
os animais.
Antes de explicar como funciona a
malandragem, é bom apresentar esse animal pouco conhecido. Os opiliões são um
dos 11 grupos de aracnídeos. São numerosos, embora menos falados e conhecidos
do que as primas aranhas, escorpiões e ácaros. Existem mais de 6.300
conhecidos. É um grupo diverso, com espécies que vivem em áreas bastante
restritas. Segundo os pesquisadores, o I. pustulosa foi encontrado em grande
concentração em uma área de 5 por 200 metros, na Mata Atlântica do Sudeste
Paulista, onde Requena realizou os estudos. “Fora dessa área, a concentração de
bichos fica pequena”, disse o pesquisador. O Iporangaia postulosa é robusto. Um
adulto tem comprimento de 10 centímetros no total, com um corpo de cerca de 1,5
centímetro. Os opiliões até se parecem com as aranhas, têm o corpo pequeno em
comparação com as longas pernas, mas guardam diferenças importantes. Primeiro,
os opiliões não têm veneno, embora tenham glândulas que secretam substâncias
que ajudam na sua proteção e reprodução. Diferente das aranhas, que têm o corpo
dividido em duas porções, o corpo do opilião funde essas duas porções em apenas
uma. Além disso, entre invertebrados, os opiliões são um caso raro de possuir
pênis.
Para essa espécie de opilião,
parente da aranha com patas mais finas e longas, cuidar dos ovos significa
ficar pelo menos um mês sem se alimentar. Mas o sacrifício é recompensado. Ao
serem vistos cuidando dos ovos por outras fêmeas, eles passam a imagem de bons
pais. Em alguns casos, filas de quatro ou cinco interessadas se formam para
namorar os garanhões. Cerca de metade dos machos não chega a copular durante a
vida. Mas aqueles que conseguem, tornam-se mais atraentes para as fêmeas após a
primeira desova.
A cópula dura apenas dois minutos
e ocorre sem que o macho abandone a primeira desova. A fêmea, então, coloca
seus ovos juntos aos da fêmea anterior e segue sua vida – sem remorso nem
ciúmes. “A vantagem
desse comportamento [da fêmea] é poder voltar a se alimentar logo após a
desova. Em poucos dias, ela já está apta a colocar ovos novamente.”
Alguns machos, por outro lado,
chegam a ficar quatro meses sem comer até que todos os ovos nasçam. Apesar dos
esforços, a taxa de mortalidade do grupo dos “pais” é menor em relação aos que
ficam soltos na natureza.
"O principal predador são
espécies de aranhas que ficam paradas esperando para atacar suas presas. Quanto
mais tempo o opilião também ficar parado, protegendo a desova, menores são as
chances de se deparar com uma aranha ao longo da vida." Pequeno em relação
às pernas, o corpo do macho da Iporangaia
pustulosa tem cerca de 1,5 centímetro. O aracnídeo se alimenta basicamente de
animais mortos e secreta uma substância amarelada e malcheirosa para se
defender – por isso, é popularmente conhecido como aranha de cheiro. "Eles
lembram uma aranha, à primeira vista, mas não têm veneno nem a capacidade de
produzir teia. Além disso, seu corpo não é dividido como o das aranhas."
Machos seletivos
O estudo foi feito com base em
observação de centenas de opiliões do Parque Estadual Intervales, área de Mata
Atlântica no sul do Estado de São Paulo. Na região, há grande concentração da
espécie, uma das poucas de opilião que adotam o cuidado paternal dos ovos – ao todo, são mais de
6.000. Durante o estudo, o grupo da USP
observou várias situações em que uma fêmea aparecia na desova disposta a
copular e era expulsa pelo macho. Requena explica que deve haver de algum
mecanismo pelo qual o macho identificaria fêmeas que têm esperma de outro macho
estocado, tornando-o seletivo. Outra
explicação, diz ele, é
"que, após vários acasalamentos, o macho precisa de um tempo para repor
seu estoque de espermatozoides".
Estratégia do macho
Existem dois motivos para que um
opilião enfrente o perigo da floresta: procurar fêmeas ou buscar comida. No
caso do I. pustulosa, após a postura dos ovos, a fêmea vai em busca da própria
sobrevivência, enquanto o macho faz o sacrifício de ficar semanas sem se
alimentar, para proteger os ovos de predadores, que podem ser grilos, formigas,
aranhas e até mesmo outros opiliões.
Aí é que começa a malandragem do
bicho. Requena explica que o maior risco na floresta está nos deslocamentos, já
que os principais predadores do opilião adulto são aranhas que ficam paradas,
aguardando a presa cair na armadilha. “A espécie tem atividade diurna e
esperávamos que fosse predada por pássaros, mas isso é raro”, conta o
pesquisador. “E na região encontramos também poucas formigas.” Ou seja, no
ninho, o opilião fica sem comer, mas também evita virar comida de outro bicho.
Além de proteger contra um
esbarrão letal com um predador, cuidar dos ovos é estratégia de sedução entre
os opiliões. Fêmeas interessadas em botar ovos e se mandar logo em seguida
buscam parceiros que possam cuidar bem da prole. O pai abandonado, então,
mantém a casa em ordem na expectativa de atrair outras candidatas. Eles podem
se acasalar com várias fêmeas e podem ficar até 4 meses sem se alimentar. Os ovos demoram cerca de um mês
para eclodir e os juvenis rapidamente desaparecem na floresta. Requena conta
que é difícil o macho pai passar mais de dois meses no mesmo ninho. Eles ficam
muito fracos e é possível que em alguns casos abandonem os ovos para buscar
comida. Mas o bom macho resiste, enquanto pode.
fonte: g1.com/ ambientebrasil.com.br
fonte: g1.com/ ambientebrasil.com.br
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