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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

MONTANHAS DE FOGO


As erupções vulcânicas fascinam e assustam. Já arrasaram cidades, causaram tragédias de arrepiar. Mas fertilizam o solo e esculpem o relevo. Mostram que a Terra é um planeta vivo.


É difícil existir, na face da Terra, um espetáculo mais deslumbrante do que um vulcão soltando imensas fagulhas no breu da noite. Parece uma gigantesca festa de Ano Novo. Só que, em vez de fogos de artifício, o que sai da cratera são toneladas e mais toneladas de lava, a rocha derretida expelida das entranhas do planeta, misturada com cinza, poeira e gases. É difícil, também, uma catástrofe mais assustadora. Desde a Antiguidade, as erupções vulcânicas sempre inspiraram um misto de fascínio e terror. Cidades inteiras já foram destruídas pela fúria que emana das profundezas – de Pompeia, cidade italiana soterrada por uma erupção do Vesúvio no ano 79, a Saint-Pierre, capital da Martinica, destruída em 1902 por uma avalanche de lava que só poupou dois dos 29 000 habitantes.
As tragédias provocadas por vulcões pontuam a trajetória de muitos povos. Mesmo assim, a humanidade insiste em viver ao lado das montanhas de fogo. Será que é por causa de sua beleza? Ou porque elas tornam mais férteis o solo ao seu redor?
A relação entre a humanidade e os vulcões tem sido como um romance tempestuoso. Os seres humanos sempre conheceram a destruição causada por eles. Ao mesmo tempo, nunca deixaram de se fascinar pela sua beleza. Para os antigos romanos, as montanhas flamejantes eram a morada do deus do fogo e dos metais, Vulcano daí o nome. Para os primeiros cristãos, eram janelas do inferno. Nesses poucos milênios de convívio, os vulcões já destruíram cidades e, quem sabe, civilizações inteiras. Desde os primeiros registros históricos, por volta de 5 000 anos atrás, as catástrofes provocadas por eles fizeram mais de 500 000 mortos.
Mas a Terra só se tornou um planeta aprazível graças à existência de vulcões. Foi ao redor deles que surgiram os primeiros seres vivos, há quase 4 bilhões de anos. Foram eles que trouxeram das profundezas o gás carbônico necessário para a formação da atmosfera e elementos químicos como o sódio, que ajudaram a compor o sal dos oceanos – substâncias essenciais à manutenção dos ecossistemas. Também levantaram continentes e ilhas: 80% das terras do mundo se originaram de atividade vulcânica, há mais de 3 bilhões de anos. De lá para cá, a Terra tem ficado mais calma e cada vez mais fria. Mas os vulcões continuam a existir – e devem continuar por bilhões de anos mais. Eles são testemunhas barulhentas de um passado distante, uma época em que o mundo inteiro cheirava a enxofre.
DEPOIS DA TORMENTA, O RENASCIMENTO
Os vulcões são senhores da morte. Mas são também, de alguma maneira, senhores da vida. Na ilha de Krakatoa, um ano depois da catástrofe de 1883, a flora e a fauna começam a retornar lentamente à montanha Rakata. Primeiro vêm as plantas rasteiras, cujas sementes foram carregadas das ilhas vizinhas, pelos ventos. Quinze anos mais tarde, existem já quase trezentas espécies de gramíneas. Depois é a vez de árvores maiores. A vegetação atrai caracóis, aranhas, escorpiões, formigas e besouros. Pouco mais de um século depois do desastre, a antes estéril montanha está coberta por uma fechada floresta tropical, povoada por aves, répteis, borboletas e ratos selvagens. Krakatoa é de novo uma típica ilhota do Sudeste Asiático. O vulcão funcionou como um verdadeiro maná, fertilizando o solo no qual antes despejara sua ira. É que, depois de lançar jatos de gases venenosos e lava incandescente, essas “bocas-do-inferno” se acalmam e deixam o terreno pronto para o ressurgimento de animais e plantas. O material que jorra do interior da Terra vem carregado de substâncias nutritivas, que adubam o solo. “Não é à toa que o solo da região sul de São Paulo e norte do Paraná está entre os mais férteis do país”. A chamada terra roxa é formada por basalto pulverizado.

ALIMENTO ONDE HAVIA VENENO
Enfim, a aridez acaba dando lugar à exuberância. Nem que seja debaixo d’água. Pesquisadores americanos encontraram, no fundo do Oceano Pacífico, entre 1991 e 1993, uma estranha colônia de animais num dos mais inóspitos habitats conhecidos. A geóloga marinha Rachel Haymon, da Universidade da Califórnia, e o ecologista Richard Lutz, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos, usaram o submarino Alvin para estudar as atividades de um vulcão submerso, a mais de 2,5 quilômetros de profundidade. No início, depois da erupção, o cenário estava coberto por lava e cinzas. Apenas bactérias conseguiam sobreviver no ambiente árido. Mas, dois anos e meio depois, eles encontraram estranhas criaturas sobrevivendo à beira de uma das bocas do vulcão. As minhocas sugavam nutrientes e energia da corrente de gases vulcânicos. “A Terra é assim mesmo: depois dos grandes acidentes naturais, os ecossistemas voltam a nascer”.

UMA JANELA PARA O CENTRO DO PLANETA
O vulcão é o único lugar onde as camadas subterrâneas do planeta entram em contato, sem intermediários, com a superfície em que vivemos. Aqui em cima, as rochas são sólidas e a temperatura raramente ultrapassa os 40 graus. Lá embaixo, reina um calor de mais de 1 000 graus e as rochas incandescentes fluem como asfalto derretido. Quando o mundo escondido embaixo da crosta terrestre irrompe na nossa paisagem, na forma de um derramamento de magma, o resultado só poderia ser um cataclismo. A maioria das erupções tem origem no movimento das placas sobre as quais estão assentados os continentes e os oceanos. As exceções ficam por conta dos chamados vulcões intraplacas, como os da África e os do Havaí. No fundo do Pacífico, as placas estão afundando lentamente para baixo das placas continentais. Você não precisa se preocupar, porque uma nova placa vai surgindo o tempo todo a partir das erupções submarinas, no meio dos oceanos. Ao afundarem, as placas se derretem parcialmente, adicionando novas quantidades de rocha derretida, ou magma, na camada que vem logo abaixo da crosta, o manto superior. Uma parte do magma sobe para a superfície, como bolhas de ar num mingau fervente, e se acumula numa caverna subterrânea, as câmaras magmáticas. Quando o magma entra em contato com lençóis de água, gera vapor que impulsiona a mistura escaldante para cima. A pressão dentro dessas câmaras vai crescendo, crescendo, até o ponto em que o magma se liberta, sobe e irrompe na superfície, onde passa a se chamar lava. Assim nasce um vulcão.

UMA FONTE DE ENERGIA E FERTILIDADE
Diante de todos os horrores causados pelos vulcões, torna-se difícil perceber que eles, como quase tudo no mundo, também têm o seu lado bom. Sem as erupções, que trouxeram das profundezas do solo gigantescas quantidades de gás carbônico, essencial à vida, a atmosfera não teria se formado, milhões de anos atrás. Ainda hoje, os gases expelidos pelos vulcões ajudam a proteger o planeta da radiação do Sol e a manter o calor na sua superfície. Nem todos os fenômenos vulcânicos são destrutivos. Depois de uma erupção, o solo se torna mais fértil. As cinzas e a lava que saem das crateras trazem substâncias que servem como adubo. Na ilha de Java, na Indonésia, o solo vulcânico propiciou a formação de imensos arrozais, que alimentam uma população enorme. Do outro lado do mar está a ilha de Kalimantan (parte do Bornéu), com clima parecido, mas sem vulcões. O solo de Kalimantan é pobre e sua população, menor. Os vulcões também ajudam a desenhar o mapa-múndi. O Havaí, por exemplo, está em constante crescimento, graças à lava expelida pelos seus numerosos vulcões. Boa parte das ilhas que você conhece não passam de vulcões aposentados. A Islândia é a parte visível de uma cordilheira vulcânica submarina. Lá existem mais de 200 vulcões, a maioria deles ativos.
Outro ponto positivo dos vulcões é a energia que eles trazem de dentro da Terra. O calor de origem vulcânica é usado para o aquecimento de casas, águas térmicas e a geração de eletricidade. Os vulcões produzem uma energia barata e inesgotável. A desvantagem é que, a qualquer momento, algum deles pode resolver despertar.




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fonte: superinteressante/ geografia em revista/ uol/ portalsaofrancisco/

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