Cientistas brasileiros e chineses descobriram fósseis de um réptil voador até agora desconhecido. A espécie inédita de répteis alados - ou pterossauros - tinha um aspecto inusitado, com crânio alongado e uma grande crista óssea na mandíbula, mas não na cabeça. O novo réptil foi batizado de Ikrandraco avatar, em referência à sua semelhança com um animal alado fictício do filme "Avatar".
O estudo que descreve a nova espécie foi publicado 09/2014,
na revista Scientific Reports. Os pesquisadores encontraram os fósseis de dois
indivíduos em rochas com cerca de 120 milhões de anos no nordeste da China. De
acordo com um dos autores do estudo, o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu
Nacional (Rio de Janeiro), a diferença mais marcante entre o Ikrandraco e
outras espécies de pterossauros é seu crânio - bem mais baixo e alongado - e
sua crista inferior, bem desenvolvida, que termina em uma estrutura óssea
peculiar, em forma de gancho.
"Essa estrutura nos surpreendeu. Diversos
pterossauros, em especial os que viveram no período cretáceo, tinham cristas
apenas na cabeça, outros também na arcada inferior. Mas nunca tínhamos encontrado
uma espécie com crista apenas abaixo do queixo", disse Kellner. Animal tinha uma garganta semelhante a de um
pelicano. Essa estrutura peculiar, com sua forma de gancho, levou os
paleontólogos a levantarem a hipótese de que ela servisse como uma âncora para
tecidos moles. "Essa localização sob a arcada inferior nos leva a imaginar
que o Ikrandraco tivesse uma extensão de tecido mole semelhante à bolsa gular
que vemos atualmente em animais como o pelicano" disse. Para os paleontólogos, é provável que essa bolsa
gular tivesse um papel de auxílio na alimentação desses pterossauros. Segundo
eles, o Ikrandraco possuía dentes pequenos e provavelmente se alimentava de
peixes. Os animais tinham cerca de 2,5 metros de envergadura - a medida entre
as pontas das asas abertas. Os pesquisadores encontraram evidências de que a
nova espécie se alimentava de uma forma singular. Os pterossauros possivelmente
davam rasantes sobre o espelho d'água e arrebatavam os peixes ao visualizá-los,
impulsionando a crista dentro d'água. "A cabeça é muito aerodinâmica, como um
torpedo. A estrutura em forma de gancho provavelmente dava estabilidade ao movimento,
enquanto a bolsa gular provavelmente tinha a função de permitir a captura de
vários peixes de uma só vez", explicou Kellner. Segundo Kellner, o Ikrandraco é um dos poucos
répteis voadores conhecidos por mais de um indivíduo. A identificação da nova espécie
foi feita a partir de dois indivíduos cujos esqueletos incluíam crânios,
mandíbulas, algumas vértebras e parte das asas.
Os fósseis foram descobertos há dois anos e meio
por uma equipe que incluía Kellner, Taissa Rodrigues, da Universidade Federal
do Espírito Santo e o cientista chinês Xiaolin Wang. Segundo Kellner, as
pesquisas que resultaram na descoberta começaram em 2004, envolvendo uma
parceria entre a Academia Brasileira de Ciências e a Academia Chinesa de
Ciências. O estudo teve financiamento da Faperj. Especialista em pterossauros, Kellner vai uma vez
por ano, desde 2003, para a China. A
descoberta foi feita na Formação Jiufotang, que segundo o cientista
brasileiro é uma unidade geológica extremamente rica em fósseis e da qual são
conhecidas várias outras espécies de pterossauros - algumas delas semelhantes
às espécies encontradas no Brasil. "Essa formação foi uma área de intenso
vulcanismo. Por isso, é provável que houvesse momentos de intensa mortandade de
pterossauros no local. Isso explicaria porque a região é tão rica em fósseis
desses répteis, explicou. Apesar desses répteis serem conhecidos de vários
locais do mundo, seus fósseis são relativamente raros. A unidade de pesquisa da
China representa uma importante exceção, que tem permitido aos paleontólogos
aprofundar os conhecimentos sobre a biologia desses animais.
Fonte. Ciência.estadao
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