Recentemente a legislação passou a exigir reformas
para que os cemitérios não sejam fontes de problemas. A maior preocupação é com a
contaminação de solo e do lençol freático pelo necrochorume, substância
originária dos cadáveres em decomposição que pode conter microrganismos
patogênicos sob determinadas condições. O manuseio dos resíduos produzidos pela
rotina do cemitério e dos funerais, o odor e o estado de manutenção dos túmulos
podem também ser preocupantes. Em razão do crescimento da população e contaminação
das águas superficiais, o que compromete os padrões de potabilidade a custos
razoáveis, o abastecimento de regiões quase sempre de maior densidade
demográfica é um desafio crescente e de alto investimento, limitando a
exploração de fontes hídricas subterrâneas. O aumento populacional também exige áreas cada vez
maiores para sepultamento de corpos humanos. Assim, áreas destinadas à
implantação de cemitérios geralmente são escolhidas entre as de baixa
valorização econômica, quase sempre em regiões de reduzido desenvolvimento
socioeconômico. Essas áreas muitas vezes têm características geológicas e
hidrogeológicas não avaliadas devidamente, o que pode levar a problemas
sanitários e ambientais de enorme complexidade. Cemitérios são áreas que geram
alterações no meio físico e por isso devem ser considerados fontes sérias de impacto
ambiental.
Os problemas relativos ao sepultamento convencional e portanto às áreas ocupadas por cemitérios se iniciaram com a comunidade cristã, na Idade Média, quando os corpos eram enterrados próximos às igrejas. Mas relatos e estudos mais avançados dessas áreas são recentes. É possível identificar, na maioria dos cemitérios, desafios relacionados a planejamento, gestão, depósito inadequado de resíduos, entre outros desafios técnicos que afetam tanto as unidades de propriedade públicas quanto privadas.
Os problemas relativos ao sepultamento convencional e portanto às áreas ocupadas por cemitérios se iniciaram com a comunidade cristã, na Idade Média, quando os corpos eram enterrados próximos às igrejas. Mas relatos e estudos mais avançados dessas áreas são recentes. É possível identificar, na maioria dos cemitérios, desafios relacionados a planejamento, gestão, depósito inadequado de resíduos, entre outros desafios técnicos que afetam tanto as unidades de propriedade públicas quanto privadas.
No Brasil, a maioria dos cemitérios é muito antiga
e, exatamente por isso, descompassados em termos de estudos técnicos e
ambientais. Considerando essa situação, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
publicou, em 3 de abril de 2003, a Resolução nº 335 estabelecendo que todos os
cemitérios horizontais e verticais deverão ser submetidos ao processo de
licenciamento ambiental. Mas que impactos podem ser produzidos por cemitérios?
Os cemitérios, como qualquer outra instalação que
afete as condições naturais do solo e das águas subterrâneas, são classificados
como atividade com risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o solo
em que estão instalados funciona como um filtro das impurezas depositadas sobre
ele. O processo de decomposição de corpos libera diversos metais que formam o
organismo humano, sem falar nos diferentes utensílios que acompanham o corpo e
o caixão em que ele é sepultado. O principal contaminante na decomposição dos
corpos é um líquido conhecido como necrochorume. Em solos com alta
umidade há um processo conhecido como saponificação pelo qual ocorre a quebra
das gorduras corporais e a liberação de ácidos graxos. Esse composto liberado
exibe alta acidez, o que inibe a ação de bactérias putrefativas, retardando
assim o mecanismo de decomposição do cadáver e tornando o mecanismo tanto mais
duradouro quanto mais contaminante. Urnas funerárias confeccionadas em madeira
estão fora das fontes significativas de contaminação do solo, ao contrário do
que ocorre com as metálicas. A menos que conservantes da madeira contenham
metais pesados, principalmente cromo, ou substâncias do grupo dos
organoclorados, como pentaclorofenol ou tribromofenol. Os caixões construídos
com madeiras não tratadas se decompõem em curtos períodos, permitindo uma
rápida disseminação de líquidos da putrefação dos corpos. Caixões de metal,
pouco utilizados, no entanto, podem provocar contaminação do solo por metais
como ferro, cobre, chumbo e zinco. Outra fonte significativa de impactos
contaminantes por caixões funerários é a prata, com frequência utilizada nas
alças. Na decomposição ela é liberada no ambiente. Além dos metais convencionais, outro contaminante
significativo é a radioatividade. Corpos que, antes da morte, ou mesmo depois
dela, passaram por aparelhos com emissão de radiação podem estar contaminados.
Nesse caso essa radioemissão também é liberada no solo. Durante o processo de
decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns
tipos de gases, entre eles principalmente os característicos da decomposição
anaeróbica, como o gás sulfídrico (H2S), identificados popularmente
como cheiro de “ovo podre”, incluindo dióxido de carbono, gás carbônico (CO2),
metano (CH4), amônia (NH3) e hidrato de fósforo, a
fosfina (PH3). Além desses elementos característicos, outros gases
são emitidos, caso dos óxidos metálicos (titânio, cromo, cádmio, chumbo, ferro,
manganês, mercúrio e níquel entre outros) lixiviados dos adereços das urnas
mortuárias, incluindo formaldeído e metanol utilizados na prática do
embalsamento.
CONTAMINAÇÃO
DAS ÁGUAS
O necrochorume, produzido no processo de decomposição orgânica, por exemplo, é liberado de forma constante por cadáveres em decomposição e apresenta um grau variado de patogenicidade. Grande parte dos organismos patogênicos não tolera a presença de oxigênio disponível na zona insaturada do solo e acaba eliminada. Mas a uma maior profundidade, nos aqüíferos por exemplo, a escassez de oxigênio permite abundante desenvolvimento de microrganismos. No caso de a captação de água para consumo humano ou animal ser feita a partir de poços com pequena profundidade, pessoas e animais que se servirem dela estão sob risco de doenças provocadas pela presença desses organismos. Outra ameaça produzida por cemitérios é a ineficiente gestão de resíduos como as vestimentas que envolvem os corpos, incluindo restos de caixões. Esses resíduos geralmente são depositados nas proximidades das áreas de sepultamento e, em contato com a água da chuva, podem fazer com que diversas substâncias indesejáveis se infiltrem no solo e também atinjam as fontes hídricas.
DOENÇAS
LIGADAS A CEMITÉRIOS
Diversos estudos de natureza ambiental associam áreas
que abrigam cemitérios a aterros sanitários, considerando que em ambos estão
disponíveis materiais orgânicos e inorgânicos com potencial contaminante. Mas,
no caso de cemitérios, esses resíduos podem estar associados a um número ainda
maior de patógenos, com potencial de levar à morte pessoas eventualmente
contaminadas por eles. Entre os riscos de degradação de fontes por cemitérios
destacam-se os provocados por compostos nitrogenados. Com a decomposição dos
corpos, substâncias nitrogenadas são liberadas pelo necrochorume. Esses
compostos são responsáveis por doenças como a meta-hemoglobinemia, popularmente
conhecida como “síndrome do bebê azul”. Essa doença está intimamente associada
ao consumo de água com elevados teores de nitrato. A polêmica em torno do potencial contaminante de
cemitérios levou órgãos de vigilância e proteção ambiental a fiscalizar e
multar cemitérios tanto públicos como privados que não se adequarem às novas
normas da legislação. Áreas ocupadas por cemitérios exigem a necessidade de
monitoramento contínuo do solo, águas, superficiais e subsuperfíciais, levando
em conta que essas unidades são sempre fontes potenciais significativas de
contaminação. Esses padrões estão contidos na Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama nº 335 de abril de 2003), onde constam informações
necessárias para o licenciamento ambiental das áreas destinadas ao sepultamento
de corpos humanos. A partir da data de vigência dessa resolução órgãos
ambientais estaduais e municipais passaram a ter obrigação de licenciar e
fiscalizar a implantação de novos cemitérios. Já no caso de unidades mais
antigas, foi homologada uma nova resolução do Conama (no 402/2008) que
estabeleceu prazo máximo até dezembro de 2010 para definição de critérios de
adequação das unidades disponíveis antes de 2003.
CREMAÇÃO
Cemitérios verticais são uma alternativa a instalações convencionais sujeitas a todos os impactos ambientais considerados. Nessas unidades os corpos são depositados em instalações com finalidades específicas e geralmente se assemelham a edifícios comuns, como é o caso do Memorial de Santos, no litoral de São Paulo, que chega a 14 andares. Esse tipo de instalação tem diversas vantagens em relação ao cemitério horizontal, entre elas um número comparativamente reduzido de exigências legais. Cemitérios verticais também oferecem a facilidade de menor espaço físico, ausência de interferência do necrochorume e resíduos nas águas subterrâneas, baixa exigência quanto ao tipo de solo, facilidade de sepultamento e visitas em dias chuvosos. Aqui, no entanto, há exigência de cuidados em relação à liberação de gás sem tratamento e atenção especial na construção para evitar vazamento de necrochorume e eventual emissão de odor. Quanto aos impactos provocados ao meio ambiente, destaca-se que nos cemitérios verticais também não há contato direto do corpo com o solo, diminuindo os riscos produzidos pela contaminação tanto do solo quanto dos recursos hídricos.
Fonte: uol.com.br/ aguassubterraneas.abas.org/ floraisecia.com.br/ ecodebate.com.br/ CONAMA
Achei o texto didático e informativo, muito bom!
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