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sábado, 24 de novembro de 2012

COMO SURGIU O DINHEIRO


A história do dinheiro inclui alguns sucessos imediatos e uma série de fracassos vergonhosos.
A busca de uma convenção para medir riquezas e trocar mercadorias é quase tão antiga quanto a vida em sociedade.





 Ao longo da história, os mais diversos artigos foram usados com essa finalidade, como o chocolate entre os astecas, o bacalhau seco entre os noruegueses da Idade Média e mulheres escravizadas entre os antigos irlandeses. Já a criação de uma moeda metálica com um valor padronizado pelo Estado coube aos gregos do século VII a.C. “Foi uma invenção revolucionária. Ela facilitou o acesso das camadas mais pobres às riquezas, o acúmulo de dinheiro e a coleta de impostos – coisas muito difíceis de fazer quando os valores eram contados em bois ou imóveis”, afirma a arqueóloga Maria Beatriz Florenzano, da Universidade de São Paulo (USP). A segunda grande revolução na história do dinheiro, o papel-moeda, teve uma origem mais confusa. Já existiam cédulas na China do ano 960, mas não se espalharam para outros lugares e caíram em desuso no fim do século XIV. As notas só apareceram na Europa – e daí para o mundo – em 1661, na Suécia. Há quem acredite que cartões de crédito e caixas eletrônicos em rede já representam uma terceira revolução monetária. “Com a informática, o dinheiro se transformou em impulsos eletrônicos invisíveis, livres do espaço, do tempo e do controle de governos e corporações”, afirma o antropólogo Jack Weatherford, da Faculdade Macalester, Estados Unidos, autor do livro A História do Dinheiro.
Segundo o historiador grego Heródoto, foi Creso, rei da Lídia (atual Turquia), quem cunhou as primeiras moedas, entre 640 e 630 a.C.
EXPANSÃO COMERCIAL
Eis uma dracma do século VI a.C., cunhada em Atenas, a cidade-estado da Grécia Antiga que foi um dos primeiros lugares a produzir moedas. A invenção facilitou tanto o comércio que logo se espalhou por todo o Mediterrâneo.
IMPÉRIO IMPURO
As moedas romanas de prata pura eram fundamentais para pagar o exército e organizar as finanças do império. A partir de 64 d.C., a necessidade de arrecadar mais recursos fez os imperadores misturar esse material com outros metais – este antonianus, de 260 d.C., tinha apenas 5% de prata. O resultado foi uma inflação que enfraqueceu o império.
MONGES BANQUEIROS

A moeda ao lado, foi cunhada entre 1125 e 1152 pelo conde de Troyes, um dos fundadores dos Templários. Essa ordem de monges guerreiros, que se espalhava por toda a Europa, guardava dinheiro, arrecadava fundos para as Cruzadas e oferecia diversos serviços financeiros aos governantes. Constituíram, assim, um dos primeiros sistemas bancários da história.
GRANA PESADA
Em 1644, a Suécia, que não possuía prata mas era rica em cobre, começou a cunhar as maiores moedas já feitas: esses dalers, que pesavam 19,7 quilos cada um. O incômodo incentivou a rainha Cristina a substituí-los pelas primeiras cédulas de papel-moeda a circular na Europa.
BOLA FORA
A França foi uma das pioneiras no uso de papel-moeda, mas a primeira tentativa de implantá-lo, em 1716, foi abaixo quando descobriram que as notas emitidas equivaliam a mais que o dobro do ouro presente no país. Em 1790, a Revolução Francesa emitiu estes assignats. Mas o medo de que a monarquia voltasse e a grande quantidade de notas levou-as ao fracasso.
CRÉDITO OBRIGATÓRIO
Em 1776, o Congresso americano precisava de um exército para lutar pela independência do país, mas não possuía dinheiro para financiá-lo. A solução foi emitir estas cartas de crédito, apelidadas de continentals, e aplicar duras penas a quem se recusasse a aceitá-las.
PARECE, MAS NÃO É
O grande poder de troca e o baixo custo de produção atraiu falsificadores de papel-moeda desde a sua invenção. Um dos casos mais famosos de fraude foram as cédulas inglesas que os alemães imprimiram durante a Segunda Guerra para desvalorizar a moeda do adversário.
ENCHE O TANQUE!
O cartão de crédito foi inventado no início do século XX pelas companhias de combustível, para que os clientes pudessem comprar seus produtos em lojas distantes da sua casa e em lugares onde era difícil conseguir dinheiro.


CRONOLOGIA
 
Troca - Até 2500 a.C.
Para conseguir leite, um artesão que só faz sapatos precisa encontrar um produtor disposto a trocar leite por sapatos. Numa sociedade sem moeda, a saída é a troca de bens, que limita muito o comércio.
Primeiras moedas - Até 650 a.C.
Soldados romanos precisam receber algo que valha para trocas. O pagamento é feito com sal (origem do nosso “salário”), conchas, pregos e manteiga
Especialização - A partir de 640 a.C.
Já que é possível trocar produtos por uma moeda, os artesãos não precisam se preocupar em diversificar a produção. Quanto melhores forem seus sapatos, mais moedas você vai ganhar por eles. Assim, vale a pena se especializar em um só serviço
Moeda moderna - 575 a.C.
Ouro, sal e prata valem seu peso, mas nem toda moeda tem valor tão literal. Os gregos fazem a primeira desvalorização: em vez de converter 6 mil dracmas em 1 talento, que seria natural, a cotação passa a ser de 6 300. A diferença vai para os cofres públicos
Inflação - A partir do século 1 a.C.
O excesso de moeda faz com que ela valha menos (é a lei da oferta e da procura). É necessária mais moeda para comprar algo, os preços sobem e surge a inflação.
Voltando ao passado - Século 5
A ruína do Império Romano faz nascer pequenos e fracos reinos feudais. Sem um Estado forte, o comércio internacional quase desaparece e deixa de haver interesse na cunhagem de moedas em alta escala. Volta o escambo
Renasce a moeda - Século 12
Para financiar as cruzadas, nobres vendem seus bens. A Igreja, através da Ordem dos Templários, cumpre o papel dos banqueiros e também passa a financiar as expedições.
Contra a usura - Século 12
A Igreja proíbe que a dívida do nobre que parte para a Cruzada seja cobrada com juros – alegava que tirar proveito do esforço da evangelização é pecado. No Concílio de Viena, um século e meio depois, manda excomungar governantes que admitirem a usura
Casas bancárias - Século 15
Em Veneza, Florença e Gênova, casas bancárias assumem o papel de financiadoras. Para driblar a Igreja, desenvolvem letras cambiais: o comprador acerta com o banco para que ele emita um papel com determinado valor. A comissão que cabia aos banqueiros era descontada
Tulipas na Holanda - Século 17
Primórdio das ondas especulativas: a flor é usada como dote e trocada por empresas. Logo surge o mercado futuro de tulipas: leva-se um vale para ser trocado na época da colheita Sistema de law - Século 17. Em Paris, em troca de assumir as dívidas da Coroa, John Law obtém permissão de Luís XIV para fundar um banco. Os depósitos são garantidos não pelas reservas de ouro ou prata, mas pela posse de terras
Papel-moeda - Século 17
Na colônia americana, há um erro de cálculo no soldo dos soldados. Como faltava ouro e prata, eles recebem uma promessa de dinheiro na forma de notas promissórias. Essas notas passam a circular de mão em mão exatamente como o nosso papel-moeda
Prisão - O caso Barings. - Em 1995, Nicholas Leeson, um simples operador, quebrou o banco de investimentos onde trabalhava, o ING Barings. Leeson comprou contratos futuros apostando na recuperação da Bolsa japonesa, o que não aconteceu.
Bancos centrais - A partir do século 17
A Inglaterra funda o primeiro banco central: o Banco da Inglaterra. Os financiadores obtêm o direito de fazer empréstimos. Com o passar do tempo, o banco assume o monopólio de emissão da moeda. Bancos Centrais passam a ser fundados em todos os países
Muita moeda - Século 18
Revolucionários da América do Norte começam a imprimir um papel-moeda chamado continental. Essa emissão indiscriminada provoca desvalorização e estimula a inflação
Padrão-ouro - Século 19
Na Inglaterra, surge o primeiro padrão monetário internacional. A quantidade de moeda dos países passa a ser determinada por suas reservas em ouro
Abalo de ouro - Século 20
Instituído no Brasil a partir de 1870, e na França e EUA na segunda metade do século 20, o padrão ouro sofre seu primeiro grande abalo em 1914, com a 1ª Guerra. Os países envolvidos têm que emitir papel-moeda sem lastro para arcar com os gastos militares
O fim do ouro - Século 20
Em 1971, o então presidente dos EUA, Richard Nixon, desvincula o dólar do ouro, motivado pela necessidade de emitir papéis para financiar a Guerra do Vietnã. O dinheiro passa a ter como único lastro a confiança que a sociedade deposita nele
Bolsas de valores - Século 20
Em Amsterdã, as primeiras bolsas – locais onde se negociam papéis e ações – surgem no século 17. A ascensão do mercado nos EUA só ocorre a partir da década de 1920
A crash da bolsa - 1929
Wall Street é o centro do mundo. A festa acaba em 1929, quando uma corrida inexplicável para vender papéis quebra a Bolsa de Nova York e o mercado entra em colapso. A queda da renda e dos níveis de consumo nos Estados Unidos afeta o mundo todo
Sob controle - 1933
Para impedir um colapso do capitalismo, o presidente americano Franklin Roosevelt implanta o New Deal, um programa de investimentos públicos para estimular a economia
Moeda de plástico - A partir da década de 20
Cartões de crédito surgem nos EUA para que usuários do automóvel, que começa a se popularizar, não tenham que transportar grandes quantias em viagens. Nos anos 80, surgem cartões inteligentes, com valores predeterminados, e, mais tarde, cartões de débito.
Internet - Anos 90
Disponibilidade de dinheiro + mercado ávido por novidades = investimentos em novas tecnologias. A falta de lucros faz empresas e investidores perderem muito dinheiro
Só na confiança - Anos 90
A hiperinflação, mal das economias latino-americanas, era combatida com a paridade fixa entre a moeda local e o dólar. A medida cria déficit comercial, que é compensado por investimentos estrangeiros. Hoje, o câmbio é flutuante: a confiança externa determina o valor da moeda.
O dragão acorda - Hoje
A China é a economia que mais cresce no mundo (10% ao ano). Para manter o ritmo, precisa resolver a escassez de energia elétrica e os problemas do sistema bancário
Adam Smith - *1723 +1790
O escocês era filósofo social e defendia o liberalismo. Para ele, o próprio mercado deveria se auto-regular, sem intervenção do governo
Quebra-quebra
A paridade fixa derrubou muitas economias
1994 - México
1997 - Tailândia
1998 - Rússia
2001 - Argentina
Vivendo de juros
Perseguidos durante a Idade Média, os judeus convertiam riquezas em bens transportáveis: metais preciosos e joias. A eles era vetada uma série de profissões e a posse de terra. Emprestar a juros era uma das formas de obter dinheiro
A crise brasileira
Em 1994, a paridade fixa permitiu o controle da inflação. O problema é que havia uma percepção geral de que o real não valia tanto quanto o dólar. A inevitável desvalorização, em 1999, forçou o país a adotar o câmbio flutuante
John M. Keynes - *1883 +1946
O mais influente economista do século 20 defendia uma política de intervenção do Estado que, além de garantir a oferta da  moeda também deveria assegurar gastos.
Dois lastros - Até a metade do século 20, uma moeda só tinha valor se tivesse um equivalente em ouro. Mas o mundo já conviveu com o sistema bimetálico: ouro e prata eram usados como lastro. O ouro só se tornou padrão no século 19
George Soros
Em 1992, o investidor apostou US$ 10 bilhões na desvalorização da libra. O Banco da Inglaterra tentou proteger a moeda, mas perdeu a batalha. Soros embolsou US$ 1 bilhão
Ninharia
A Bíblia diz que Judas recebeu 30 moedas de prata pela traição a Jesus. A quantia em denários romanos, a moeda da época, não comprava nada além de um escravo, artigo muito barato naquele tempo.
Do barulho
Os suprimentos do governo francês sempre chegavam com atraso às colônias. Assim, os soldados recebiam “promessas” de pagamento. A matéria-prima mais à mão eram cartas de baralho, que passaram a ser usadas oficialmente
O truque de Law
Mapas de terras com minas convenciam os interessados em comprar seus papéis. A expectativa de ganhos fez a procura subir, transformando-se em violenta especulação. Nem terras nem ouro apareceram para restituir os papéis
FMI- Fundo Monetário Internacional.
Em 1944, representantes de 44 nações (entre elas o Brasil) decidiram criar o Fundo Monetário Internacional. Seu papel era auxiliar países na regulamentação do padrão ouro, evitando inflação e desequilíbrios – a qualquer custo.
fonte: superabril

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