O DESMATAMENTO A AÇÃO PREDATÓRIA HUMANA SOBRE O MEIO AMBIENTE É ESPECIALMENTE DRAMÁTICO NAS FLORESTAS TROPICAIS, COM CONSEQUÊNCIAS CATASTRÓFICAS SOBRE A BIODIVERSIDADE, O CLIMA E A PRÓPRIA SOCIEDADE HUMANA.
A
partir do equador, por toda a superfície da Terra estende-se um largo cinturão de
florestas tropicais de grande diversidade e produtividade... em rápido
desaparecimento. Embora o desmatamento supra algumas necessidades humanas, ele
provoca profundas consequências, por vezes devastadores, como conflitos
sociais, extinção de plantas e animais e alterações climáticas – desafios não apenas locais, mas global.
IMPACTOS NA BIODIVERSIDADE
As
florestas tropicais contêm mais espécies do que qualquer outro ecossistema, bem
como uma maior proporção de espécies endêmicas (exclusivas) da espécie. Como
cada vez mais se desmata grandes áreas de florestas tropicais, espécies
inteiras estão desaparecendo, muitas delas desconhecidos. Embora as florestas
tropicais cubram apenas sete por cento
das terras secas da Terra, elas provavelmente abrigam cerca da metade de todas
as espécies planetárias. Muitas delas são tão especializadas em micro habitats
no interior da floresta que só podem ser encontradas em reduzidas áreas. Esta
especialização torna-as supervulneráveis à extinção. Além das espécies perdidas
quando uma área é totalmente desmatada, as plantas e os animais instalados nos fragmentos
remanescentes também se tornam crescentemente vulneráveis, por vezes até mesmo
fadados à extinção. As franjas dos
fragmentos secam e são varridos por ventos quentes; as árvores da floresta
caduca muitas vezes morrem de pé nessa margem. As alterações em cascata que se
abatem sobre árvores, plantas e insetos que sobrevivem nesses fragmentos
rapidamente reduzem a Biodiversidade florestal
restante. Alguns discordam do fato de a extinção de espécies pela ação humana
ser uma questão ética, mas há poucas dúvidas sobre os problemas práticos
colocados pela extinção. O maior agente devastador são os mercados mundiais
consumidores de produtos da floresta que dependem de colheita sustentável:
látex, cortiça, frutas, madeira, fibras, condimentos, óleos, resinas naturais e
medicamentos. Além disso, a diversidade genética das florestas tropicais constitui
sem sombra de dúvida o mais importante patrimônio genético do planeta. Estão
embutidos nos genes de plantas, animais, fungos e bactérias – sequer ainda descobertos
– promissores componentes para a cura de cânceres e de outras doenças, além de
elementos-chave para aprimorar a produtividade e a qualidade nutricional das
culturas alimentares – fato crucial para garantir a alimentação dos quase dez
bilhões de indivíduos previstos para a Terra em 2050. Enfim, no âmbito da
diversidade genética planetária, o pool genético encerrado nas florestas
tropicais será crucial para a “resiliência” de todas as formas de vida da
Terra, sobretudo em caso de eventos ambientais catastróficos imponderáveis,
como impactos de meteoros ou vulcanismo extremo e contínuo.
IMPACTOS NO SOLO
Embora
a cobertura vegetal das florestas tropicais seja luxuriante e de imensa
produtividade, não deixa de ser surpreendente saber que os solos destas
florestas são muito finos e pobres em nutrientes. As rochas subjacentes à
camada superficial dissolvem-se com facilidade sob a ação das altas
temperaturas tropicais e das chuvas torrenciais que, ao longo do tempo,
carreiam e lavam a maioria dos minerais no solo. Quase todo o conteúdo
nutricional de uma floresta tropical provém das plantas vivas e da decomposição
dos resíduos que elas depositam no solo.
As
florestas tropicais são o lar de milhões de povos nativos (indígenas) que vivem
da caça, da agricultura e da coleta de subsistência ou da extração de baixo
impacto de produtos florestais, como borracha, nozes e sementes. O desmatamento
em terras indígenas por madeireiros, colonos e refugiados acaba por provocar conflitos
violentos. A preservação da floresta também pode ser fator social decisivo. Os
governos nacionais e internacionais, as ONGs e as agências de ajuda humanitária
enfrentam questões para balizar:
- o nível de presença humana (se imperiosa) é compatível com as metas de conservação em florestas tropicais;
- o equilíbrio das necessidades dos povos indígenas com a expansão das populações rurais e o desenvolvimento econômico nacional;
- se o estabelecimento e proteção de grandes áreas intocadas e desabitadas - mesmo que se tenha de retirar os residentes correntes – deve ser prioridade nos esforços de conservação em florestas tropicais
IMPACTOS NO CLIMA - CHUVA E TEMPERATURA
Até
trinta por cento da chuva que cai em florestas tropicais é água que a floresta
recicla para a atmosfera. A água evapora do solo e da vegetação, se condensa em
nuvens, e volta a cair como chuva em um ciclo de auto rega perpétuo. Além de
garantir a manutenção das chuvas tropicais, a evaporação esfria a superfície da
Terra. Em muitos modelos de simulação do clima futuro, a substituição das
florestas tropicais por pastagens e culturas agrícolas gera um clima mais seco
e quente nos trópicos. Alguns modelos também predizem que o desmatamento tropical
pode alterar o padrão pluviométrico muito além dos trópicos, afetando China,
norte do México e centro-sul dos Estados Unidos. A maioria destas previsões climáticas sobre
redução do padrão pluviométrico se baseia em uma substituição uniforme e quase
completa das florestas tropicais por pastagens
e lavouras. No entanto, o desmatamento, muitas vezes produto em uma colcha de
retalhos – em clareiras que se ramificam por trilhas num padrão espinha de peixe,
por exemplo, ou em ilhas de desmate num mar de floresta. Nestas escalas locais,
o desmatamento pode realmente aumentar a precipitação, criando “ilhas de calor”
que ao acelerar a ascensão e circulação do ar (convecção) levam a formação de
nuvens e de chuva. Nuvens e chuva se concentram mais de clareiras. Só não se
sabe se persistirão as chuvas localizadas em cada vez maiores parcelas de
floresta derrubadas. As respostas podem vir a ser dadas por modelos climáticos
mais sofisticados que representem fielmente a evolução dos retalhos da paisagem
parcialmente desmatada.
O CICLO DO CARBONO E O AQUECIMENTO GLOBAL
Somente
na Amazônia, os cientistas estimam que as árvores contenham mais carbono do que
10 anos de gases de efeito estufa produzidos pelo homem. Quando se desmatam as
florestas, geralmente com fogo, o carbono armazenado na madeira retorna à
atmosfera, aumentando o efeito estufa e o aquecimento global. Uma vez que a floresta
é desmatada para instalação de lavoura ou pastagem, os solos podem se tornar
uma grande fonte de emissões de carbono, dependendo de como os agricultores e
pecuaristas controlam o uso da terra. Em lugares como a Indonésia, os solos das
florestas de planície pantanosa são ricos em matéria orgânica em decomposição
parcial – a turfa. Durante a seca prolongada, como ocorre na vigência do El
Niño, as florestas de turfa tornam-se inflamáveis, especialmente se foram
degradadas pela exploração madeireira ou por queimada acidental. Ao queimar,
liberam enormes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de efeito
estufa. Não se pode afirmar com certeza se as florestas tropicais intactas são
fonte de emanação ou sumidouro de carbono. Certamente, os troncos das árvores
constituem reservatório estável de carbono, que cresce à medida que as
florestas envelhecem ou regeneram terras previamente desmatadas. Só que árvores,
plantas e microrganismos no solo também respiram, liberando dióxido de carbono
já que quebram os carboidratos para obter energia. Na Amazônia, enormes volumes
de dióxido de carbono são liberados da decomposição de folhas e de outros materiais
orgânicos em rios e córregos que inundam a floresta durante a estação chuvosa.
Florestas tropicais intocadas podem ser quase neutras em termos de carbono, mas
o desmatamento e a degradação são atualmente fonte de emissão de carbono para a
atmosfera e têm o potencial de transformar os trópicos em uma fonte ainda maior
nas próximas décadas.
CAUSAS DIRETAS DO DESMATAMENTO
A
humanidade vem desmatando a Terra há milhares de anos, principalmente para
abrir espaço para o plantio e a pecuária. Embora as florestas tropicais estejam
em sua maioria confinadas aos países em desenvolvimento, elas não satisfazem
apenas as necessidades locais ou nacionais. A globalização econômica fez com
que as necessidades e os desejos da população mundial também recaíssem sobre
elas. Entre as causas diretas do desmatamento figuram: expansão agrícola,
extração de madeira (uso geral, combustível e carvão) e expansão da infraestrutura
(construção de estradas e urbanização). Raramente existe uma única causa direta
para o desmatamento. Na maioria das vezes, vários processos agem
simultaneamente ou em sequencia para causar o desmatamento. A maior causa
direta do desmatamento tropical é a conversão da floresta em lavouras e pastagens,
principalmente na economia de subsistência (cultivo ou criação para atender as
necessidades diárias). A conversão em terras agrícolas geralmente resulta de
múltiplos fatores diretos. Por exemplo, a construção de estradas em áreas
remotas para melhorar o transporte terrestre de mercadorias. A abertura da
estrada em si traz uma quantidade limitada de desmatamento. Mas as estradas
também proporcionam a chegada humana a locais antes inacessíveis e, muitas
vezes, sem dono. Quase sempre a extração de madeira – quer legal como ilegal –
segue a trilha de expansão da estrada (e em alguns casos, é a razão para a
estrada). Quando os madeireiros acabam de colher a valiosa madeira de uma área,
eles mudam. As estradas e as áreas desmatadas se tornam ímã para os colonos, agricultores
e pecuaristas, que cortam e
queimam a floresta remanescente para o estabelecimento de terras agrícolas ou
de pastagens, completando a cadeia de desmatamento que começa com a abertura de
estradas. Em outros casos, as florestas que foram degradadas pela exploração
madeireira se tornam propensas a incêndios e, eventualmente, são desmatados por
sucessivos incêndios acidentais provocados por fazendas adjacentes ou
pastagens. Embora as atividades de subsistência nos trópicos tenham até hoje
dominado o desmatamento por motivação agrícola, as atividades em grande escala
do agronegócio agora desempenham papel cada vez mais significativo no desmatamento.
Na Amazônia, a pecuária em escala industrial e a produção de soja para os
mercados mundiais são cada vez mais importantes causas de desmatamento. Na
Indonésia, a conversão de floresta tropical em plantações comerciais de
palmeiras de dendê para biocombustível de exportação é uma das principais
causas do desmatamento em Bornéu e Sumatra.
Embora
a pobreza seja frequentemente citada como a causa subjacente do desmatamento
tropical, vários estudos científicos indicam que essa explicação é uma
simplificação. A pobreza não leva os indivíduos a migrar para as margens da floresta,
para se dedicar a cortar, queimar e derrubar a floresta para garantir a
subsistência. Raramente um fator isolado pode ter responsabilidade exclusiva
pelo desmatamento tropical. As políticas estatais de incentivo ao
desenvolvimento econômico, tais como projetos de expansão rodoviária e
ferroviária, são a causa de significativo desmatamento não intencional na Amazônia
e na América Central. Os subsídios agrícolas e as reduções de impostos, bem
como as concessões florestais, também têm incentivado o desmatamento. Fatores
econômicos globais, como dívida externa, expansão da demando dos mercados
globais por produtos florestais (madeira, celulose) ou os preços baratos da
terra, da mão de obra e do combustível pode incentivar o desmatamento sobre o
uso mais sustentável da terra. Acesso à tecnologia pode aumentar ou diminuir o
desmatamento. A disponibilidade de tecnologias que possibilitam a agricultura
em “escala industrial” pode estimular o desmatamento acelerado, enquanto a
tecnologia ineficiente na indústria madeireira aumenta os danos colaterais no
entorno das florestas, tornando mais provável subsequentes desmatamentos.
Fatores subjacentes são raramente isolados. Ao invés disso, múltiplos fatores
globais e locais exercem influências sinérgicas sobre o desmatamento tropical
em diferentes localidades geográficas.
PRESERVAR AS FLORESTAS TROPICAIS
As
estratégias de preservação das florestas tropicais podem ser colocadas em
prática em escala local como internacional. Em escala local, os governos e as
organizações não governamentais operam junto às comunidades florestais para
incentivar atividades de baixo impacto agrícola, tais como agricultura à sombra,
exploração sustentável de produtos florestais não madeireiros (borracha,
cortiça, sementes, plantas medicinais). Parques e áreas protegidas, que atraem
turistas – ecoturismo – podem gerar oportunidades de emprego e educação para a
população local, bem como criar ou estimular a economia do setor de serviços
relacionados. Em escala nacional, os países tropicais devem integrar as
pesquisas em andamento sobre os impactos humanos nos ecossistemas tropicais relativos
ao uso do solo e aos planos nacionais de desenvolvimento econômico. Para as
florestas tropicais sobreviverem, os governos devem desenvolver cenários
realistas de desmatamento futuro, que levem em conta o que os cientistas já informam
sobre as causas e consequências do desmate, incluindo a derrubada não
intencional resultante da construção de estradas, incêndios acidentais, cortes seletivos
e incentivos ao desenvolvimento econômico (como concessões para exploração de
madeira e subsídios agrícolas).
fonte: ecodebate.com.br
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