Não falta água no nosso planeta, menos ainda no Brasil. Mas é, sim, um desafio administrá-la. A água que se bebe precisa ser capturada, purificada e canalizada para que chegue onde quer que esteja o homem.
Também é necessário tratar a água que sujamos e
mandamos pelo esgoto, sobretudo para garantir a nossa saúde. Esse processo todo
exige esforço, dinheiro e planejamento. As mudanças climáticas tornam ainda
mais complexas, assim como o crescimento da população, a necessidade de se ter
cada vez mais comida e a urbanização veloz planeta afora. Daí a importância de
economizar e manter limpo esse líquido precioso – que em seu formato potável anda
em falta, infelizmente, em pontos diversos do nosso país e do mundo. A proposta
deste manual é fornecer informações gostosas de ler que permitam entender o ciclo
da água, e portanto, o que se pode fazer com inteligência e ajudar a
conservá-la.
Mas pode não ser eterna para nós. Estamos sujando e
alterando seu comportamento a tal ponto que está cada vez mais difícil ter água
doce para beber, plantar, cozinhar... Apenas 2,5% da água no mundo é doce, e
boa parte dela (2%) está congelada nos polos. Sobram 0,5% para o consumo, mas consegui-la
não é fácil. E há cada vez mais pessoas no planeta. A quantidade de água permanece
a mesma desde a formação do planeta. Ela
apenas vai se “reciclando”. A água do suor em seu rosto pode ter sido parte de uma
planta engolida por um brontossauro há 150 bilhões de anos. A poluição atinge
rios, lençóis freáticos e o litoral, espalhando-se
pelo bairro vizinho, cidade vizinha, país vizinho... E é dessas fontes que
precisamos obter novamente a água. Com o aquecimento global, secas e enchentes
ficarão mais intensas e frequentes, inclusive no Brasil. O cotidiano e os
planos para o futuro terão de ser adaptados. É preciso mudar hábitos para
reduzir o nosso impacto sobre o planeta. Pratique escolhas sustentáveis em seu
dia a dia.
Água invisível
A cadeia produtiva dos alimentos exige mais água do
que você imagina. Para cada quilo de carne bovina são gastos 15 mil
litros de água, desde o plantio do alimento para o gado até a limpeza de seus
dejetos. A indústria consome 20% da água
disponível para produzir vários objetos.
A melhor maneira de economizar água é comendo
melhor. Usamos 70% da água disponível no mundo para produzir comida. Por isso,
ao evitar o desperdício, você poupa esse recurso natural. A irrigação no País é
principalmente aérea, por aspersão, e pouco eficiente: só metade chega às
raízes das plantas. O resto perde-se na evaporação ou é levado pelo vento. Pela
comida suprimos 20% do que necessitamos de água. Mas um terço dos alimentos se
perde pelo caminho, na produção, na estocagem, na distribuição e em casa. A
água que não vemos, mas que é usada em tudo que é produzido, é chamada de
pegada hidrológica, e precisa ser levada em conta para se fazer melhor uso desse recurso.
Rios e lagos acumulam apenas 0,5% da água doce do
planeta. Mas é de onde se tira o maior volume para abastecimento. Crianças com acesso a água tratada e coleta de
esgoto têm mais qualidade de vida e saúde. Por isso faltam menos e passam mais
tempo na sala de aula. A diferença de aproveitamento escolar entre quem tem ou
não tem saneamento básico é de 18%, segundo o Instituto Trata Brasil. No
Brasil, em 2013, houve 340 mil internações por doenças associadas à falta de
saneamento. São doenças como diarreia, hepatite A, esquistossomose, leptospirose,
entre outros. Metade dos casos era de crianças de até 14 anos. Exija boas condições
de saneamento em sua região – em casa e nas escolas. Pergunte se há coleta de
esgoto e verifique se a caixa-d’água é limpa regularmente.
Metade dos municípios brasileiros usa água subterrânea.
Existe água debaixo de quase 50% da extensão do País, que retiramos cada vez
mais para suprir nossas necessidades. Uma das nossas principais fontes de água
é o aquífero Guarani, um imenso corpo d’água com 33 mil quilômetros
cúbicos de líquido, a 1.500 metros de profundidade. O Guarani abastece 80% dos municípios
de São Paulo. Nos últimos 50 anos, a quantidade de água retirada dos aquíferos dobrou. Em regiões com menos chuvas e solo com
pouca absorção, a natureza pode não dar conta da recarga. Essa
"reserva" ainda sofre ameaça de contaminação por causa da poluição do
solo e das águas que chegam até ela. Temos o maior aquífero do planeta: o Alter do Chão. Sua água seria o suficiente para atender ao uso doméstico de toda a
população mundial por 100 anos. Por enquanto, ele supre cidades do Amazonas.Não
abra poços artesianos sem consultar um especialista. Poços clandestinos podem
causar contaminação das águas subterrâneas.
A água já causou muitas guerras
Nos últimos 50 anos, aconteceram 37 disputas
violentas por água no mundo. No Brasil também existem tensões. Atualmente, as
águas dos rios Tigre e Eufrates são disputadas por três países. A Turquia, que
quer construir hidrelétricas, e Síria e Iraque, que temem ter o abastecimento prejudicado.
No Brasil, só em 2013 foram 93 disputas, a maioria no Nordeste, envolvendo principalmente
mineradoras, construção de barragens e açudes, e disputas territoriais entre comunidades
pobres e fazendas. O debate mais recente no país foi em torno das águas do rio Paraíba
do Sul, que nasce em São Paulo, mas abastece a Baixada Fluminense.
Água, onde está?
No mundo, mulheres andam até 6 km por dia para conseguir
água. Em alguns países africanos, elas caminham até oito horas - e nem sempre a
água obtida está limpa. Mais de 1 bilhão de pessoas, principalmente na Ásia e na
África, não têm acesso à água potável. E mais de 2,5 bilhões não têm saneamento
básico. Por falta de água tratada, quase 4 mil crianças morrem diariamente no
mundo. No semiárido do Nordeste brasileiro, onde vivem 22 milhões de pessoas,
mais de 60% das famílias rurais não têm abastecimento de água. Muitas pessoas caminham
bastante para conseguir um pouco desse líquido precioso. A seca ou estiagem é um fenômeno climático causado pela insuficiência de chuva numa determinada região por um período de tempo muito grande.
De cada dez litros de água tratada quase quatro se
perdem por vazamentos e fraudes. No estado de São Paulo, mais de metade da zona
urbana e 90% das indústrias são abastecidas parcial ou totalmente por poços
artesianos. De acordo com a ONU, cada habitante do planeta precisa de pelo
menos 5 litros de água por dia para beber e cozinhar e 25 litros para higiene
pessoal. Essa água desaparece antes mesmo de chegar até as casas ou indústrias.
Esse índice é alto, se comparado a outros países. De toda a água tratada no Brasil,
40% nunca chegam a seu destino. Em 17 das 100 maiores cidades do Brasil, esse
índice alcança 60%. São Paulo é o estado em melhor situação: a perda é de 26%.Canos
rompidos ou furados são os principais responsáveis por essa perda. Quanto maior
a rede de distribuição, maior o desafio de encontrar esses pontos. Outra causa
de perda são os “gatos”, ligações clandestinas que desviam a água. Avise a companhia de abastecimento de água e
exija o conserto de vazamentos na rua. Se sua conta de água subir sem
justificativa, procure por vazamentos em casa. Se tudo estiver normal, suspeite
de "gatos".
Mesmo que você esteja longe da praia ou de um rio,
tudo o que se joga fora do lugar correto sempre vai para a água. Papelzinho de
bala, sacola plástica, bituca de cigarro – esses e outros objetos, quando jogados
na rua, além de sujá-la, acabam nas galerias de águas, carregados pelo vento ou
pelas chuvas. A contaminação da água e a morte de peixes prejudicam quem depende
deles para viver, já que a atividade pesqueira no Brasil gera 3,5 milhões de
empregos diretos e indiretos, dos quais 1 milhão de pescadores. Mesmo que você
esteja longe da praia ou de um rio, tudo o que se joga fora do lugar correto
sempre vai para a água. A sujeira deixada na areia da praia, seja o coco do
cachorro ou o palitinho de sorvete, acaba arrastada pela maré alta para
alto-mar. Parte dela permanece na água e outra parte volta, poluindo os mangues
e a praia novamente. Bitucas de cigarro são o lixo mais encontrado em praias e
cursos d’água. Composta por 4,7 mil substâncias tóxicas, uma única bituca foi
capaz de levar à morte metade dos 20 peixes em um aquário-teste. A bituca, quando
se degrada no chão, também contamina a água subterrânea e o solo. Jamais jogue
lixo na rua, na praia ou em qualquer outro local que não seja a lata de lixo. Separe
o que for reciclável, para que o material possa ser reaproveitado.
Cabelo e pelo de animais causam entupimentos nas estações de tratamento de esgoto. Jogadas no ralo ou na privada, essas fibras
representam metade do lixo que para nas grades de retenção das estações e
causam panes. Uma pesquisa feita em duas estações do estado de São Paulo
mostrou que mais de 50% dos detritos sólidos retidos nas grades por onde passa
a água são formados por cabelos, fiapos e pelos de animais como cachorro e
gato. Também são encontradas fibras de tapetes, de vassouras e de escovas,
plástico, preservativos e cápsulas usadas para armazenar drogas. Os brasileiros
produzem diariamente 8,4 bilhões de litros de esgoto, mas nem metade disso é
tratado antes de ser devolvido ao ambiente. As estações de tratamento são
importantes para que a água que usamos não seja devolvida sem o devido cuidado
aos rios e mares - fontes de onde muitos tiram água para beber e cozinhar. Também
não jogue pelo ralo ou pela privada: óleo de cozinha usado, solventes, lubrificantes
e tintas que não sejam à base de água. Eles podem ser levados a pontos de
coleta especiais. Jogue fios de cabelo, pelos e resto de varrição – assim como
qualquer tipo de detrito – no lixo.
Falar em mudança climática pode soar distante e até chato, mas ela está acontecendo. Inclusive no Brasil. O aumento da temperatura do planeta, causado pela emissão de gases nocivos à atmosfera, vai tornar os climas mais extremos: onde é árido, ficará mais seco, e onde chove bastante, a chuva será ainda mais intensa. A redução de chuvas vai deixar o Nordeste mais seco e árido, o que torna a agricultura mais difícil. Enchentes e deslizamentos de terra no Sul e Sudeste do País se tornarão mais frequentes. O aquecimento global é causado pela atividade humana. A boa notícia é que também podemos atenuar seus impactos.
referência
http://planetasustentavel.abril.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
CAROS LEITORES, SEJAM BEM VINDOS!