sábado, 4 de abril de 2020

GARIMPO ILEGAL

A mineração ilegal no Brasil é vista por muitos como um mal que polui, envenena e rouba a nação de sua riqueza. Para outros, é um modo de vida e sobrevivência, buscam ouro em minas ilegais em todo território brasileiro. Mas deixa rastro de contaminação e danos ao ambiente. Entre risco de morte e clandestinidade, pequenos garimpeiros arriscam em busca do ouro em uma corrida que já dura séculos. 


FRONTEIRAS
O Brasil deve suas atuais fronteiras e sua extensão continental à polêmica atuação dos bandeirantes do período colonial. A busca por minas de ouro levou vários aventureiros a entrarem na mata, rumo ao interior, e delimitando as terras brasileiras. A descoberta de ouro no Brasil foi celebrada em Portugal como solução para a crise econômica da produção açucareira. Mas, na prática, boa parte do minério foi parar nos cofres britânicos, de quem os lusitanos eram dependentes militarmente. Nesse caminho, os desbravadores protagonizaram atos de heroísmo de um lado, e de atrocidades de outro. É difícil não associar essa expansão territorial ao extermínio de indígenas e à escravidão de negros. Várias casas de fundição foram criadas no Brasil para deixar o ouro em forma de barras e, assim, tentar conter o contrabando crescente. O ouro do Brasil, no entanto, era de aluvião (encontrado nas margens dos rios), o que facilitava a extração e o rápido esgotamento das jazidas.

GARIMPO ILEGAL
Os garimpos continuam como nos tempos do "Velho Oeste", única alternativa para sobrevivência econômica, pouco importando se estão em áreas proibidas como terras indígenas ou unidades de conservação. Garimpeiros cavando o o solo, derrubando matas, assoreando rios, contaminando águas, corrompendo indígenas, chamando violência, prostituição, armas, doenças e drogas. Criou-se um clima de vale tudo, e as pessoas acham que não serão punidas se desmatarem. 
Até agora, pouco se ouviu sobre políticas que diversifiquem as cadeias produtivas, reduzindo a dependência do ouro e incentivando a transição econômica. A cultura econômica que se criou, com alguns poucos se apropriando da riqueza que é de todos, cometendo crimes ambientais em cascata, lucrando sem pagar impostos. Quem paga a conta do estrago somos todos nós.


Toda essa ilegalidade acontece a vista de todos, Ibama, ICMBio, Funai, PF, secretarias ambientais e governos. O ouro continua falando mais alto do que a fiscalização e a punição. Questionar isso não é ser contra o desenvolvimento, mas contra esse modelo que compromete tudo e todos para favorecer só alguns. 

A bateia é uma das ferramentas mais identificadas com o garimpo artesanal. Fazendo movimentos circulares – e pela diferença de densidade entre os minérios e o cascalho –, o garimpeiro consegue separar pedras preciosas como diamante e ouro.

Os garimpos irregulares são operados por pequenos grupos de homens, muitas vezes cobertos de lama e trabalhando com bateias, pás e calhas rudimentares usadas há séculos. Operações mais sofisticadas usam canhões de água e dragas que sugam lama do fundo de rios. Independentemente do método, garimpar ouro e outros minerais é sujo, perigoso e, muitas vezes, ilegal. Pequenos garimpos escapam do processo de licenciamento e ignoram totalmente as regulamentações. A grande totalidade está num limbo precário. O governo não os oferece estrutura e condições decentes, eles(garimpeiros) estão presos lá sem as condições mínimas para sobrevivência. Há pequenos vilarejos que sobrevivem somente deste ouro. 
Imensas clareiras que rasgam a Floresta Amazônica podem ser vistas no Google Earth. Trata-se das fronteiras da mineração na Amazônia. Fortunas famosas foram extraídas daquelas porções de terra através da atividade garimpeira. A corrida por minério, principalmente ouro, levou milhares à região e resultou em uma sangrenta disputa fundiária. Ao longo dos anos, pessoas foram violentamente mortas, pela disputa dos minerais, ou somente pela imposição de poder. 

Clareira e cratera aberta no meio da floresta, para caça ao ouro.

Em seu apogeu, a corrida do ouro chegou a reunir mais de 100 mil trabalhadores. Hoje, está em aparente decadência. Alguns ainda insistem no sonho do ouro escondido no garimpo. Homens trabalham aos pés de desfiladeiro de quase cinco metros. Franjas do que restou da floresta podem ser vistas no horizonte da cratera que segue por quilômetros pela Amazônia. Medo e risco de morte são parte da rotina. Mangueiras a jato cospem as águas bombeadas de um igarapé em direção à base do penhasco. A atividade parece ter uma lógica suicida. 

Jato de água bombeado para "lavar" a terra no veio de ouro. Destruição de encostas e aceleração no processo de assoreamento.

De dentro de uma poça de água enlameada, um garimpeiro liga uma bomba de sucção. A fumaça, o cheiro de óleo e o barulho indicam que a água barrenta começou a engolir toda a terra alaranjada derrubada das paredes da cratera. O material é jogado para o topo da montanha. O destino é uma calha rudimentar, instalada sobre tocos de árvores. São mais de dez metros de altura entre o local e o buraco de escavação. Possibilidade de uma queda fatal não parece assustar o controlador do garimpo que aguarda para finalizar a busca pelo ouro. Alguns trabalham no garimpo há mais de duas décadas. Mesmo assim, sabem que a empresa dona da terra pode pedir a reintegração de posse a qualquer momento. 

Rudimentar calha para separação de material dragado.

Danos ao meio ambiente 
Acredita-se que a área total explorada por garimpeiros ilegais no Brasil seja pequena. Entretanto, elementos químicos como o mercúrio, que usam para separar ouro de areia, podem deixar uma grande marca de contaminação. Em março do ano passado, um estudo revelou níveis alarmantes de mercúrio em aldeias indígenas. 
  • Envenenamento dos igarapés 
  • Mortandade de peixes 
  • Desmatamento 
  • Assoreamento 
  • Doenças 
  • Drogas 
  • Prostituição 
  • Corrupção 
  • Violência, etc.. 
Explorar de forma sustentável a imensa riqueza mineral já mapeada em seu subsolo, sem repetir os estragos do passado e eliminar os garimpos clandestinos é um dos desafios atuais do Brasil.


Um comentário:

  1. Suas pesquisas e artigos são muito completos e com um excelente conteúdo.Parabems.

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