Misto de religiosidade e magia, a benzeção é uma prática sagrada que hoje tem cada vez menos adeptos. Na cultura popular, ela é considerada uma forma de promover cura de doenças em pessoas, animais e plantas, seguindo rituais específicos para cada mal. Está desaparecendo porque há falta de convivência com o sagrado. Aliado a isso, hoje o acesso aos médicos é mais fácil do que antigamente, quando a prática era uma das alternativas para cuidar das doenças e males do povo.
O QUE É?
A benzeção e sua magia mescla preceitos religiosos, saberes populares, conhecimentos empíricos das ervas medicinais e performance corporal. Tem a oralidade como seu alicerce e busca fundamentar-se no poder dos enunciados. O ato de benzer, também chamado de benzedeira, curandeira e rezadeira, ainda pode ser utilizado para levar bem-estar a um lugar.
O PODER DAS PALAVRAS
Há muito tempo tem-se associado as palavras ao poder que elas carregam(PNL). Quando a nossa intenção é depreciar e ferir, geramos no outro um sentimento doloroso que vai ao encontro do nosso intento no momento da fala. Quando proferimos palavras doces e amáveis, geramos no nosso interlocutor um sentimento semelhante, de satisfação e prosperidade. Na tradição das rezas de cura, a palavra presente nas orações (sendo ela vocalizada ou não) representa o pensamento positivo, suas memórias e suas crenças, sendo ela capaz de curar aqueles que porventura estejam fragilizados, mas que, mesmo inconscientemente, acreditam e confiam na eficácia de seus saberes.
CRENÇA NA EFICÁCIA
As benzedeiras(os) afirmam que não basta simplesmente conhecer as orações para praticar a benzeção, para se tornar um curandeiro é preciso ter o dom e acreditar no poder dessas práticas e, sobretudo, ser escolhido, atendendo a um chamado, seja ele divino ou familiar. Por conseguinte, muitas rezadeiras recusaram-se a fornecer os mantras das suas benzeções, justificando que ao passá-los, mesmo que para um leigo, suas orações perderiam a força.
No universo das religiões é comum a existência de palavras sagradas proferidas no ritual da benzeção, e devem ser mantidas inalteradas, para não perder seu poder. Pensa-se que as palavras ditas pelas benzedeiras(os), no momento hipnótico da reza, designa uma ação, que tem como reação a cura. É por meio das palavras que os rezadores estabelecem uma comunicação com o transcendente. Já que é por meio de uma comunicação com o Sagrado que elas atingem a cura, podemos pensar então na existência de uma interação dialógica.
Vale considerar que os curandeiros rezam em tom de voz baixo, quase indecifrável, como murmúrios, que são acompanhados de vários gestos, com ervas, copo d‘água, terço, vela, entre outros aparatos do imaginário simbólico presentes nessa prática. A maioria das benzedeiras usa plantas do próprio quintal e, ao final do ritual, indicam procedimentos a ser realizados, tais como: acender velas, fazer o uso de chás, tomar banhos de ervas, sal grosso, entre outros. Essa maneira de dirigir tais rituais, e mais especificamente, a maneira como as palavras são proferidas (audíveis ou não) está ligada à conexão que se estabelece entre elas e o Divino.
O silenciamento na hora de proferir as rezas, também diz respeito à manutenção do caráter sigiloso dessas práticas, sob pena de a força das orações ser perdida. O silêncio adotado pelos benzedores no ato da benzeção funciona como um recurso de fortalecimento do poder dessas palavras. Como as palavras são dirigidas a Deus, elas podem ser apenas mentalizadas e/ou sussurradas e, mesmo assim, alcançarão seus propósitos de cura.
Por ser uma manifestação de cunho religioso e por tentar solucionar as mazelas do dia a dia da comunidade (tais como quebranto, cobreiro, dor de cabeça, mau olhado, azar, espinhela caída, dores diversas, vento virado, etc.). A benzeção caracteriza-se também como uma prática social, na medida em que ela passa a ser uma alternativa, um meio de obter-se a cura, ressignificando as doenças do cotidiano.
As tradições orais são sempre acompanhadas por um conjunto de ações linguísticas e performáticas que juntas dão sentido às práticas dessa tradição. Cientes da importância de seu ofício, benzedeiras(os) organizam-se no sentido de buscar a preservação de uma memória coletiva, social, cultural que mantém de pé os pilares da tradição em que estão inseridas, principalmente no que se refere à oralidade, usando a palavra e a fé como veículo para a obtenção da cura.
Sou adepta a natureza, amante da wicca, sempre me benzo quando vou ao interior e encontro uma rezadeira.
ResponderExcluirMuito legal seu artigo, com a modernidade a pratica de benzer com rezadeiras ou mesmo em terreiro espirita esta em desuso. Sobra somente a benzeção nos ambientes sagrados de evangelhos e católicos. Há pouco tempo visitei um benzedor, quando entrei no local bem humilde, fiquei hipnotizado, com o cheiro de ervas, imagens sacras, velas. Um misto de divindade, amor e esperança tomou conta do local. Saí de lá com a alma lavada, espirito leve. Precisamos nos benzer!!
ResponderExcluirA benzeção não deixa de ser uma terapia breve, preconizada na PNL. Tuatamento de fobias na PNL tem tudo para ser uma benzeção com cunho terapêutico. O cliente já chega em trnse induzido ao aceitar uma benzação, disposto a aceitar todas as formas de tratamento. O ritual da benzeção pode ser até mesmo um transe profundo, em algumas ocasiões. As benzedeiras não têm palavras cabalística, mas fazem a indução ao transe hipnótico a seu modo. E funciona.
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