sexta-feira, 29 de setembro de 2017

SALVEM O CERRADO

O bioma do cerrado é considerado a caixa d’água do Brasil. A devastação desta floresta esta furando este reservatório natural. Esta vegetação precisa de uma grande interação natural entre plantas, animais, solo e clima, para sobreviver. O fogo natural é essencial para a sobrevivência do bioma do cerrado, ele ativa várias sementes e destrói as gramíneas secas abrindo caminho para a substituição por plantas novas.


Poucos se dão conta de que, atualmente, o desmatamento no Cerrado, é duas ou três vezes maior do que na Amazônia. A Caatinga também sofre pressões, por outras razões. Praticamente ninguém se manifesta, a não ser para expressar alívio que não se trata de desmatamento de floresta equatorial. Os principais rios brasileiros, que fluem de norte para sul, sul para norte e oeste para leste, nascem e crescem no Cerrado. Apenas o Solimões e alguns afluentes do Amazonas entram pelas fronteiras da Bolívia, do Peru e da Colômbia. O Aqüífero Guarani também depende de áreas de recarga que estão no Cerrado. Os rios e aquíferos que têm sua origem no Cerrado são essenciais para abastecimento de água para o consumo humano de água. No futuro, serão ainda mais importantes com o avanço da desertificação e a integração das bacias do Nordeste.
O desmatamento acima de determinado patamar irá interromper o fluxo norte-sul. Tampouco haverá água suficiente drenando para o rio São Francisco, menos ainda para sua transposição. Além da importância para o consumo humano e para a agropecuária, sem falar na indústria e no transporte, a chuva e os rios no Brasil central são vitais para a matriz energética brasileira.
Água, biodiversidade e clima são interdependentes. A água depende da cobertura vegetal, ou seja, da flora, cuja reprodução, por sua vez, depende da fauna para polinizar flores e dispersar sementes e esporos. A flora e a fauna dependem das chuvas e dos fluxos das veredas, córregos e rios. Retirando-se qualquer um dos elos, rompe-se a cadeia vital e o ecossistema todo pode entrar em colapso. A diversidade é fator importante na adaptação a mudança climática. Se os ecossistemas centrais do Brasil entrarem em colapso, os outros ecossistemas também serão prejudicados.


Entenda  a importância e como funciona o  bioma do cerrado

O rio São Francisco está secando, haverá cada vez menos água em Brasília e a cidade de São Paulo terá de aprender a conviver com racionamentos. O alerta é do arqueólogo e antropólogo baiano Altair Sales Barbosa, que há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios da América do Sul. A rápida destruição do bioma está golpeando um dos pilares do sistema: a gigantesca rede de raízes que atua como uma esponja, ajudando a recarregar os aquíferos que levam água a torneiras de todas as regiões do Brasil.
Muitas plantas do Cerrado têm só um terço de sua estrutura acima da superfície e, para sobreviver num ambiente com solo oligotrófico (pobre em nutrientes), desenvolveram raízes profundas e bastante ramificadas. Se você arrancar uma dessas plantas, vai contar milhares de raízes, e quando cortar uma raiz e levá-la ao microscópio, verá inúmeras outras minirraízes que se entrelaçam com as de outras plantas, formando uma espécie de esponja.
Esse complexo sistema radicular retém água e alimenta as plantas na estação seca. Graças a ele, as árvores do Cerrado não perdem as folhas nem mesmo no auge da estiagem - diferentemente do que ocorre entre as espécies do Semiárido. Quando há excesso de água, as raízes agem como esponjas encharcadas, vertendo o líquido não absorvido para lençóis freáticos no fundo. Dos lençóis freáticos a água passa para os aquíferos.
Essa dinâmica começou a ser afetada radicalmente nos anos 1970, com a expansão da pecuária e de grandes plantações de grãos e algodão pelo Cerrado. A nova vegetação tem raízes curtas e não consegue transportar a água para o fundo. Pior, entre a colheita e o replantio, as terras ficam nuas, fazendo com que a água da chuva evapore antes de penetrar o solo. Em alguns pontos do Cerrado, como no entorno de Brasília, o uso de água subterrânea para a irrigação prejudica ainda mais a recarga dos aquíferos.

Migração de nascentes
Conforme os aquíferos deixaram de ser plenamente recarregados, acelerou na região um fenômeno conhecido como migração de nascentes. É como uma caixa d'água com vários furos. Quando diminui o nível da caixa d'água, o líquido deixa de jorrar dos furos superiores. Com os aquíferos ocorre o mesmo: se o nível de água cai, nascentes em áreas mais elevadas secam.
Este fenômeno ocorre num dos principais afluentes do São Francisco, o rio Grande, cuja nascente teria migrado quase 100 quilômetros a jusante desde 1970. O mesmo se deu, , nos chapadões no oeste da Bahia e de Minas Gerais: com a retirada da cobertura vegetal, vários rios que vertiam água para o São Francisco e o Tocantins sumiram. A perda de afluentes reduziu o fluxo dos rios e baixou o nível de reservatórios que abastecem cidades do Nordeste, Centro-Oeste e Norte.

Bastaria então replantar o Cerrado para garantir a recarga dos aquíferos?
A solução não é tão simples. O Cerrado é o mais antigo dos biomas atuais do planeta, tendo se originado há pelo menos 40 milhões de anos. Olhar para o Cerrado é como olhar para uma fotografia do passado. Este bioma já atingiu seu clímax evolutivo e precisa, para o seu desenvolvimento, de uma série de fatores que já não existem mais. Há plantas do Cerrado que só são polinizadas por um ou outro tipo de abelhas ou vespas nativas, várias das quais foram extintas pelo uso de agrotóxicos nas lavouras. Essas plantas poderão sobreviver, mas não serão mais capazes de se reproduzir.
O Cerrado também é uma espécie de museu porque muitas de suas plantas levam séculos para se desenvolver e desempenhar plenamente suas funções ecológicas. É o caso dos buritis, uma das árvores mais famosas do bioma, que costuma brotar em brejos e cursos d'água. Mesmo plantas de pequeno porte costumam crescer bem lentamente. O capim barba-de-bode, por exemplo, leva mais de mil anos para atingir sua maturidade. Barbosa diz ter medido as idades das espécies com processos de datação em laboratório.

Parceria com animais
Sabe-se hoje da existência de cerca de 13 mil tipos de plantas no Cerrado, número que o torna um dos biomas mais ricos do mundo. Dessas espécies, não mais que 200 podem ser produzidas em viveiros. A ciência ainda não consegue reproduzir em laboratório as complexas interações entre os elementos do bioma, moldadas desde a era Cenozoica. Muitas plantas do Cerrado têm sementes que são ativadas apenas em situações bem específicas. Algumas delas só têm a dormência quebrada quando engolidas por certos mamíferos e expostas a substâncias presentes em seus intestinos. Há ainda sementes que precisam do fogo para germinar. Contrariando o senso comum. Incêndios naturais são essenciais para a sobrevivência do Cerrado e podem ocorrer de duas formas.
  1. Uma delas se dá quando blocos de quartzo hialino, um tipo de cristal, agem como lentes que concentram a luz do sol, superaquecendo a vegetação.
  2. A outra ocorre pela interação entre algumas plantas e animais do Cerrado, entre os quais a raposa, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato-vinagre. Esses mamíferos carregam no pelo uma carga eletromagnética que, em contato com gramíneas secas podem provoca faíscas.
O fogo é necessário não só para ativar sementes, mas para permitir que gramíneas secas, que não têm qualquer função ecológica, sejam substituídas por plantas novas. Se a gramínea seca fica ali, não tem como rebrotar, então é preciso dessa lambida de fogo natural pra limpar aquele tufo. Os incêndios também são importantes, para que o solo do Cerrado continue pobre - afinal, foi nesse solo que o bioma se desenvolveu. O fogo é paradigma para quem pensa na preservação. Se você pensa como agrônomo, o fogo é nocivo, porque acentua o oligotrofismo do solo. ( é a designação dada a um ecossistema pobre em nutrientes e com reduzida produção primária ou, na sua variante oligótrofo, a um organismo adaptado a viver num ambiente que disponibiliza um nível muito baixo de nutrientes.)

Estancar os danos
Quando deixa de haver incêndios naturais, os animais e insetos nativos desaparecem e as plantas do Cerrado são derrubadas, é quase impossível reverter o estrago. Mesmo assim, deve preservar toda a vegetação remanescente para estancar os danos. Claro que não vai reocupar toda a área que está produzindo [alimentos], mas pode pelo menos tentar amenizar a situação nas áreas de recarga de aquíferos.
Se continuar esta devastação no bioma do Cerrado, os aquíferos rapidamente se esgotarão. Os rios vão desaparecer e, consequentemente, vai desaparecer toda a atividade humana da região, a começar das atividades agropastoris.

Trocar cerrado por lavoura altera ciclo das águas
Poucas chuvas e tarifas elétricas mais altas até o fim do ano. Um estudo sobre o ciclo da água no cerrado acaba de ser publicado na Global Change Biology. O cerrado está sendo ocupado cada vez mais por lavouras, principalmente de soja, milho e algodão. Nos últimos dez anos, a área ocupada por lavouras no cerrado dobrou de 1,2 milhões de hectares para 2,5 milhões de hectares. Analisando dez anos de fotos de satélite, os pesquisadores constataram que as lavouras alteram o regime das águas original. Na estação das chuvas, o comportamento é semelhante, mas na estação seca, a evapotranspiração cai pela metade. Isto afeta a própria região e, como os ventos vão geralmente para oeste, a Amazônia oriental também acaba sendo afetada. Entretanto, os pesquisadores constataram que nas áreas com duas safras anuais, de soja e milho, a evapotranspiração é  praticamente a mesma do cerrado original.

Referência Bibliográfica
http://revista.rebia.org.br
http://www.soscerrado.com.br

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