sábado, 9 de setembro de 2017

A VERDADEIRA FAUNA DO LIVRO “O CASO DA BORBOLETA ATÍRIA”

A série vaga-lume foi, a mais bem sucedida de divulgação da literatura infanto-juvenil realizada no Brasil. Há mais de 40 anos no mercado, com mais de 100 títulos publicados, praticamente quase todos os brasileiros já leram algo dessa série.  É uma narração mista de ciências forense e a entomologia.



Vamos explorar um pouco o livro “O caso da Borboleta Atíria“, escrito pela premiada Lúcia Machado de Almeida. Originalmente publicado no ano de 1975, conta a história de Atíria, uma borboleta que nasceu com uma pequena falha em suas asas, impossibilitando que ela consiga voar direito. Criada por uma gentil Jitiranaboia, um dia encontra com o príncipe Gafanhoto e descobre que a futura princesa foi assassinada. Por trás do romance velado que acontece entre a protagonista e o príncipe dos insetos, ocorre uma trama de mistério envolvendo assassinatos, conspirações para matar a jovem borboleta e a tentativa de roubo do trono. A leitura é bem leve, e alguns capítulos fogem da narrativa principal para que assim, mais do universo possa ser apresentado. O destaque desse livro, porém, está no profundo estudo que a autora realizou sobre o mundo dos insetos.
Minha mãe sempre incentivou a leitura e pesquisa.  No final dos anos 70, eu e meu grupo de amigos viramos exploradores dos jardins, quintais e matas, para encontrar os insetos descritos no livro. Numa caderneta deveria estar descrito as características do inseto, onde e como foi encontrado  e a passagem correspondente no livro. Naquele tempo não havia computador. Íamos a biblioteca pública depois da aula, para pesquisar sobre os insetos. Nosso google/wikipedia era  a enciclopédia Barsa. Ficava-se horas foleando livros e anotando os dados da pesquisa em fichas. Ficamos mais de seis meses caçando insetos mas nunca conseguimos completar a coleção. Somente depois de adulto descobri o motivo de não completar a coleção: Alguns insetos não existia na região.



ABELHAS
Aquela cortina escura nada mais é que um enxame de abelhas, amontoadas umas sobre as outras. A Rainha entrou triunfalmente na colmeia. Era linda! Um raio de sol atravessava-lhe as asas molhadas de orvalho, dando-lhes um maravilhoso reflexo de todas as cores.

ARLEQUIM-DA-MATA
Outro dos perigos que a protagonista tem que enfrentar é o Acrocinus longimanus. Também conhecido como Besouro-da-figueira os machos dessa espécie podem chegar a apresentar patas dianteiras maiores que o próprio corpo. O perigoso escaravelho-bandoleiro de corpo chitado de vermelho, preto e branco.

ATÍRIA
A protagonista do livro é conhecida pela sua cor amarela e preta, as Atyrias Ísis são facilmente encontradas na região do Amazonas. Ao contrário do título do livro, Atírias são mariposas e não borboletas.

BARATA
Não especifica qual espécie. A história passa num bosque, imagino que seja uma barata silvestre. As baratas do gênero Panchlora, comumente chamadas de baratas verdes ou baratas da banana são conhecidas por sua cor esverdeada, o que se torna único entre todas as baratas. Os indivíduos jovens, porém podem assumir cores pardas. São baratas com ampla distribuição nas Américas inclusive aqui no Brasil. 

BEIJA-FLOR
Que quer você? perguntou a Senhora Beija-flor. Atíria olhou para ela com tal aflição que não foi preciso mais nada. A ave abriu as asas. A borboleta deu um suspiro de alívio, e ficou bem quietinha debaixo das asas de mamãe Beija-flor.

BESOUROS BOMBARDEIROS
Nome científico Brachynus crepitans é a designação comum a diversas espécies de besouros da família dos carabídeos. Também são conhecidos pelo nome de besouro-artilheiro. Esse inseto vive a maior parte do tempo escondendo-se entre raízes de árvores ou debaixo de pedras.

BICHO-PAU
Tnha cerca de trinta centímetros de comprimento e era tal qual um pedaço de galho seco. Ctenomorphodes chronus é uma das espécies que provavelmente inspirou a autora. No livro, é ele que consegue levar Atíria de volta para a sua casa.

BOMBIX 
Era branca, pequenina, toda peluda, Conhecida cientificamente por Bombyx mori é uma das criaturas que Atíria encontra em suas aventuras, perdida pela floresta. No texto, ela se exibe por ser a famosa Bicho da Seda.

CARACOL
Caracóis são os moluscos gastrópodes terrestres de concha espiralada calcária, que também inclui as lesmas. Esse caracol atreveu-se a entrar escondido na colmeia, para fazer maldades. Foi descoberto e, para castigá-lo, resolveram-se empareda-lo vivo, dentro de sua própria concha, 

CÁLIGO
Borboleta grande, comum nos bosques sombrios do Brasil, Güianas, Peru, México, por toda América. Sua lagarta vive geralmente nas bananeiras. É chamada cientificamente de Caligo eurilochus e pertence à família assolidae. Também conhecida como Borboleta-coruja. No livro é uma das acompanhantes do príncipe grilo. Para proteger-se de predadores ela utiliza de uma técnica de camuflagem muito interessante que, nesse romance, foi utilizado como plot twist.

CATAGRAMA
Asas negras e veludosas, com enfeites em vermelho e azul vivo. Borboleta pouco comum no Brasil. Seu nome científico é Catagramma lyrophila, também chamada Callicore hydaspes. Enquanto ouvia as utilidades da seda, afirmava que a sua beleza trazia alegria para quem a visse.

CIGARRA
Dona Cigarra, a famosa soprano-ligeiro do bosque. Aparecendo várias vezes durante o livro, a Cicadoidea é mundialmente conhecida pelo seu canto estridente. O livro também apresenta uma curiosidade da sua larva: O período de dormência varia muito entre as espécies. Uma norte-americana fica 17 anos enterrada, até completar sua evolução.

CUPIM
Um cupim, que estava perto, meteu-se logo na conversa e começou a contar bravatas

DETETIVE PAPÍLIO CAPYS
Borboleta comum nos campos, prados e jardins do Brasil. Sua lagarta vive nas laranjeiras. Conhecido cientificamente por Papilio anchisiades capys, da família papilionidae. O Papílio é o detetive do reino dos insetos. Encarregado de descobrir o mistério envolvendo a morte da futura esposa do príncipe grilo.

DINASTES HÉRCULES
Gigante Dinastes Hércules. Outro dos insetos escondidos para matar Atíria. o horrível besouro gigante de chifres pontiagudos. Foi um grande guerreiro que lutou contra o exército do príncipe grilo.

DONA JITIRANA
A Fulgora lanternaria, Mais conhecida como Jequitiranaboia ou Cobra-voadora, é um parente das cigarras, sofre metamorfose incompleta. O seu nome vem da mistura de duas palavras do tupi-guarani: Iakinára (Cigarra) e Mbóia (Cobra). No livro ela é a doce senhora que recebe a protagonista como filha. A Jitiranaboia mede cerca de sete centímetros, pertence à ordem dos homópteros.

ESQUELETO-VIVO
A corajosa borboleta enfrenta grandes perigos, como o encontro com Esqueleto-Vivo na Gruta dos Horrores. A autora não especifica a espécie do esqueleto-vivo, o mais próximo que conseguir chegar foi ao grilo cavernícola.

GAFANHOTO
A nuvem escura, que parecia não ter fim, cobriu o sol, e veio baixando, baixando, como se a noite houvesse desabado subitamente sobre o pequeno sítio. Ao saque! Ordenou o Gafanhoto-Chefe. Os terríveis acrídios, entre gritos de alegria e voracidade, deram início ao banquete.

HELICÔNIA
A futura esposa do príncipe grilo que infelizmente foi assassinada era do gênero Helionius, que abrange um número muito grande de borboletas. Uma delas, a Maria-boba (Heliconius ethilla narcaea) é uma das várias de espécies presentes em quase toda a América do Sul. Muito comum no Brasil.

JOANINHA VERDE
Chorava sem parar por causa de um espinho que estava fincado nas costas e com medo maior da dor quando o médico fosse arranca-lo.

LACRAIA
Também chamadas de “Samambaias da morte”, as Scolopendras foram escolhidas para matarem o príncipe grilo.

LIBÉLULA 
Linda senhorita, assistente do mágico, que é partida ao meio na apresentação, depois sai voando, batendo as asas inteira.

LOUVA-DEUS
O Mantis religiosa que aparece no livro é um dos melhores amigos da protagonista. O seu nome nasceu do fato de que esse inseto mantém quase sempre as suas duas patas dianteiras juntas, como se estivesse rezando, o que contrasta muito com a sua personalidade brincalhona e travessa. Na natureza, porém, o Louva-a-deus ataca outros insetos para alimentação e é muito conhecido por matar os seus parceiros sexuais depois do coito.

MARIPOSA-ABELHA
O detetive sempre tinha ouvido falar de lepidópteros semelhantes aos insetos das colmeias, na forma e no colorido, mas nunca tinha tido ocasião de observa-los pessoalmente. Num instante compreendeu tudo. As borboletas, aproveitando-se de sua semelhança com as abelhas, entravam na colmeia, matavam as larvas e roubavam o mel dos alvéolos. A Hemaris tityus é uma espécie de insetos lepidópteros, mais especificamente de traças.

MORPHO MENELAUS
Quando Atíria se perde no meio da floresta, a primeira borboleta que aparece é a Morfo Menelaus, porém como ela não conhecia a Alameda dos Pinheiros, não pode ajudar a nossa protagonista.

PRÍNCIPE GRILO
O visual do Grilo da série é baseado no chamado Grilo-pardo ou Grilo-subterrâneo (Anurogryllus muticus). Essa espécie não costuma ser muito grande. Na fábula o Grilo é governante do bosque onde habita. Tem como melhor amigo o detetive Papílio Capys, e ficou viúvo de Helicônia, sua esposa que foi morta misteriosamente.

PROFESSOR TUCO-TUCO
O famoso mágico era um escaravelho vermelho, com o corpo todo pintado de luas verdes. Com seus poderes sobrenaturais, serrava a senhorita libélula ao meio. O escaravelho-vermelho (Rhynchophorus ferrugineus) é um gorgulho principal característica é a cara comprido com bico encurvado.

REDUVIUS 
O misterioso fantasma que assombrava os insetos acabou revelando-se apenas a larva do Reduvius pesonatus. Quando pequeno, ele junta elementos da natureza para se proteger, como areia, folhas e pedras pequenas.


SR. ESCARAVELHO 
Besouro, não. Escaravelho. Ignorais porventura que meus avós eram adorados como objetos sagrados pelos antigos faraós do Egito. Escaravelho é a designação comum a insetos coleópteros e coprófagos (especialmente os que vivem de excrementos de mamíferos herbívoros). Esta espécie de Besouro Rola-Bosta Dichotomius tem o hábito de rolar pedaços de fezes de mamíferos até galerias no solo, que servem para postura de ovos pela fêmea e alimento às larvas ao nascer.

SR. MOSQUITO
Culicidae é uma família de insetos habitualmente chamados de mosquitos e pernilongos. O Culex, espécie de mosquito comum, também causa doenças. "Você, por exemplo, amigo mosquito, só serve para atrapalhar. Para que nasceu? "

TARÂNTULA DAS FURNAS
Uma das criaturas da gruta onde Caligo e o Esqueleto-vivo se escondiam. Escondida no primeiro cubículo, uma das mortes reservadas para Atíria e uma das criaturas que atacaram o exército do príncipe grilo. Theraphosidae é uma família de aranhas, que inclui as espécies conhecidas pelos nomes comuns de tarântulas ou caranguejeiras,

TATURANA DE FOGO
A larva de vários tipos de mariposas, a mais comum no Brasil é a Lonomia obliqua. Esta taturana possui espinhos venenosos que, em contato com a pele podem causar sangramentos graves. Essa era o maior medo que Atíria tinha e foi a morte escolhida para ela.

TOURO-VOADOR 
Apesar de existirem várias espécies conhecidas como Touro-Voador, o Enema pan (Oryctini), besouro rinoceronte- é uma possível referência que a autora utilizou como inspiração para o primeiro perigo que a protagonista tem que enfrentar. Trata-se de um besouro preto enorme, com grandes chifres na testa, que metiam medo. Ai, que feio! . . . E dava uns estalos de vez em quando, tal qual motor elétrico.

VANESSA ATALANTA 
A Almirante vermelho europeu (Vanessa atalanta) é uma borboleta da família Nymphalidae encontrada em regiões temperadas da Europa, Ásia e América do Norte  e vem visitar o príncipe grilo. Tornando-se a atração de quase todos os insetos do bosque. A denominação de Almirante Vermelho se dá devido as suas cores que fazem lembrar divisas do uniforme naval americano.



13 comentários:

  1. Amei... q ideia maravilhosa.. parabéns!

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  2. Parabens.... muito legal, lembrei do meu tempo de escola quando li o livro

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  3. Esplendido, perfeito, belo incentivo para leitura deste clássico

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  4. Que leitura mais deliciosa, revivi o livro da Atíria. Parabéns prof.! Acho que vou copiar sua mãe e incentivar a curiosidade do meu filho

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  5. Lembro de ler esse livro criança e me apaixonar pelas borboletas, mas na época não tinha Internet para procurar mais informações. Não lembro da história, mas foi uma leitura que me marcou muito, queria poder reler!

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  6. eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

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  7. Incrível. Sou professor há 29 anos é desde que entrei em sala pela primeira vez como professor até hoje, sempre recomendei aos meus alunos.
    Um livro atemporal que fez parte da minha infância!

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  8. Material muito bacana. Li este livro aos 10 anos e gosto de estar sempre apresentando o mesmo para outras pessoas de 10 anos.

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  9. Parabéns pelo trabalho.Excelentes imagens;Ótima forma de envolver a criançaa com os personagens do livro e sua história

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  10. Olá, Omar.
    Estou finalizando a leitura do livro O Caso da Borboleta Atíria e nas minhas pesquisas que eu fiz para ver como era o esqueleto-vivo, descrito no livro, encontrei seu blog através da postagem em questão e gostaria de aproveitar para parabenizá-lo e agradecer a você pela pesquisa tão atenciosa e cuidadosa. Gostei muito e ela deu vida colorida aos personagens do livro na minha cabeça! 🦋💐🎈

    ~Cartas da Gleize. 💌💕

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  11. Olá, professor Omar.
    Estou finalizando a leitura do livro O Caso da Borboleta Atíria e nas minhas pesquisas que eu fiz para ver como era o esqueleto-vivo, descrito no livro, encontrei seu blog através da postagem em questão e gostaria de aproveitar para parabenizá-lo e agradecer a você pela pesquisa tão atenciosa e cuidadosa. Gostei muito e a postagem deu vida colorida aos personagens do livro na minha cabeça! 🦋💐🎈

    ~Cartas da Gleize. 💌💕

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