Animal mais ameaçado da Amazônia, sauim de coleira pode ser extinto em poucas décadas. Desmatamento, pressão imobiliária e crescimento desordenado de Manaus têm reduzido população do primata, que é endêmico da capital amazonense.
Dos
bichos amazônicos, o sauim-de-coleira é o mais ameaçado de extinção. Integra o
nível mais grave (criticamente em perigo) do Livro Vermelho da Fauna Brasileira
Ameaçada elaborada do Governo Federal, com base em levantamento da União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). O
sauim-de-coleira supera em vulnerabilidade o peixe-boi, a onça pintada e outros
primatas e felinos selvagens. A principal causa é o desmatamento sem controle
da cidade onde vive: Manaus (AM). Na linha evolutiva da ocupação de
territórios, seus grupos ancestrais não “imaginavam” que o local escolhido para
viver se transformaria na maior metrópole da região Norte, que sua casa seria
transformada em asfalto e cimento, que sua floresta de onde tira alimento se
reduziria drasticamente. Que, diferente do que acontece com outros parentes
primatas, a ameaça de sumir do mapa é tão real quanto iminente. Macaco da
espécie Saguinus, o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) está encurralado.
Uma significativa barreira geográfica (os rios Negro e Solimões) e o receio de
competir com outra espécie provavelmente mais forte, o sauim-de-mãos-douradas (Saguinus
midas), impedem que este primata de duas cores tente sobreviver em outro local.
Por mais ameaçados que estejam, animais como peixe-boi, boto e onça têm uma
área de distribuição abrangente. Já o sauim-de-coleira ocorre em uma área
extremamente restrita. Só existe em Manaus e em algumas áreas ainda pouco
conhecidas dos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara. Mas neste último,
somente até a região do rio Urubu.
Se
nada for feito para salvá-lo, em um futuro próximo (estimativa de 50 anos ou,
para alguns menos otimistas, 20 anos), ele só poderá “ser visto em
fotografias”, como alerta o diretor do Centro de Primatologia do Rio de
Janeiro, Alcides Pissinatti, um dos maiores especialistas em primata do mundo.
AZAR
Também
conhecido como sauim-de-manaus (nome que os especialistas preferem não adotar),
este pequeníssimo primata pode ser considerado um “azarado”? Para o veterinário
e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), Diogo Faria, sim. O
sauim-de-coleira teve o “azar” de optar por viver no que seria, muito mais
tarde, Manaus. Azar do sauim-de-coleira, sorte dos manauenses que, contudo,
ainda não reconhecem o privilégio de ter nas mãos uma espécie exclusiva de
animal silvestre. A prova está no avanço descontrolado de canteiros de obras
nos já poucos fragmentos florestais de Manaus, na ausência de ações de salvaguarda
por parte dos grandes empreendimentos, no desconhecimento sobre sua condição
vulnerável e até mesmo nos mais banais atos de crueldade, como pedradas,
atropelamentos e confinamento em cativeiro doméstico. “Temos uma espécie de
animal lindíssima que ocorre no nosso quintal e que está sumindo. Ao invés das
pessoas terem o comportamento de admirar, de gostar, de amar, elas tacam pedra,
dão paulada, atropelam, desmatam”, comenta Diogo Faria, um dos vários
integrantes de um programa lançado em dezembro 2011 pelo Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e cuja execução conta com a
participação de várias instituições de pesquisa e órgãos públicos: o Plano de
Ação Nacional de Conservação (PAN) do Sauim-de-Coleira. A constatação do grave
perigo vivido pelo sauim-de-coleira levou o ICMBio a se articular com
instituições do Amazonas e de outras regiões e com pesquisadores que estudam o
sauim-de-coleira. Desta forma, o animal tornou-se o primeiro primata da
Amazônia a receber as ações de um PAN do ICMBio.
PORTARIA
A
portaria 94 de 2 de dezembro de 2011, assinada pelo presidente do ICMBio,
Rômulo Fernandes Barreto Mello, estabelece planos de ação para proteger o
sauim-de-coleira e tentar salvá-lo da extinção. A proposta pretende reduzir a
taxa de declínio populacional e assegurar áreas protegidas para a espécie com
pelo menos oito populações viáveis de 500 indivíduos cada. O plano tem uma
vigência até 2016. Uma das maiores dificuldades da viabilização do plano é a
falta de financiamento. O PAN estabelece as metas, mas seus integrantes
precisam correr atrás do dinheiro, o que tem sido um dos obstáculos para que o
plano avance. Diogo Faria, por exemplo,
que faz parte da ação dedicada à implementação de campanhas de educação ambiental,
tenta produzir um filme destinado especialmente às crianças sobre a importância
de proteger o sauim-de-coleira. Marcelo
Gordo, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e um dos principais
especialistas em sauim-de-coleira, diz que a grande relevância do plano é que
ele dá o direcionamento à elaboração de projetos que se destinam a conseguir
financiamento. Mas ele reconhece que ainda falta muito.
“Sabe
por que o plano não corre do jeito que a gente deseja? Por que não tem
dinheiro. Mas esse plano dá uma norteada e facilita para quem está tentando
conseguir recursos”, diz Gordo, membro do PAN e do comitê de monitoramento de
avaliação do plano.
METAS DO PLANO DE CONSERVAÇÃO
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Inserção de, pelo menos, 30% da área de distribuição de sauim-de-coleira em
unidades de conservação.
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Aumento da conectividade entre as áreas ocupadas, priorizando áreas acima de 10
mil hectares e em pelo menos 30% dos fragmentos urbanos de interesse para a
conservação da espécie.
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Entre estes fragmentos estão Bacia do Mindu, Tarumã-Ponta Negra e Distrito
Industrial.
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Programa de pesquisa que compreenda mecanismos relacionados à expansão do
sauim-de-mãos-douradas sobre as áreas do sauim-de-coleira.
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Criação de um programa de manejo e em cativeiro para a conservação da espécie.
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Programa de educação ambiental para reduzir em 50% mortalidade do animal
causada pelos seres humanos.
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Implementação de 100% das áreas verdes municipais e manutenção e/ou recuperação
de pelo menos 20% da cobertura florestal dos loteamentos urbanos.
fonte:uol.com.br
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