As alterações ambientais causadas pelas atividades urbanas são sentidas pela população, tais como o aumento da temperatura nas áreas centrais, o aumento de precipitação e as enchentes.
As áreas urbanas são as que mais
expressam as intervenções humanas no meio natural. O desmatamento, as
edificações, a canalização, a mudança do curso dos rios, a poluição da
atmosfera, dos cursos de água e a produção de calor geram diversos efeitos
sobre os aspectos do ambiente. As enchentes são consequências do
processo de urbanização e tem como causa principal a construção de casas,
indústrias, vias marginais implantadas nas áreas de várzeas dos rios e
proximidades e é, atualmente, um problema constante nos períodos chuvosos nos
principais centros urbanos.
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
As enchentes são fenômenos naturais que ocorrem quando a precipitação é elevada
e a vazão ultrapassa a capacidade de escoamento, ou seja, quando a chuva é
intensa e constante, a quantidade de água nos rios aumenta, extravasando para
as margens dos rios (áreas de várzeas). Todos os canais de escoamento possuem
essa área de várzea para receber o "excesso" de água, quando ela
ultrapassa os limites dos canais. Entretanto, com as interferências antrópicas
(do homem), as inundações são intensificadas em vista de alterações no solo de
uma bacia hidrográfica, tais como a urbanização, impermeabilização,
desmatamento e o desnudamento (eliminação da vegetação). O processo de urbanização causa
mudanças no microclima das cidades. O intenso processo de desmatamento e a construção
de residências, edifícios, indústrias, ocupação das áreas de várzeas e a
impermeabilização do solo com asfalto acarretam no aumento de temperatura dos
centros urbanos em relação às áreas periféricas (afastadas do centro) e às
áreas rurais.
Em algumas cidades esta diferença de temperatura pode atingir até
10°C. Além do desmatamento e da impermeabilização do solo, o consumo de
combustíveis fósseis por automóveis e indústrias torna a cidade uma fonte de
calor. Esse fenômeno é denominado "ilha de calor". O aumento de
temperatura nos centros urbanos intensifica a evaporação; além disso, o
material particulado (poluentes) em suspensão favorece a formação de núcleos de
condensação na atmosfera. O resultado é o aumento da quantidade de chuvas. A
tabela 1 mostra que, nas áreas urbanas, a quantidade de chuva anual é 5% maior
e, em dias de chuva, a precipitação (quantidade de chuva medida) é 10% superior
se comparada com as áreas rurais. No entanto, as inundações não resultam apenas
do aumento da quantidade de chuva, mas - e principalmente - do aumento da
velocidade de escoamento superficial ocasionado pela impermeabilização do solo.
Além disso, diariamente, os rios recebem uma carga de água utilizada pela
população (esgoto), o que também contribui para aumentar a quantidade de água
no leito dos rios. Em condições naturais, parte da
chuva fica retida nos troncos e folhas, o escoamento superficial é retido por
obstáculos naturais gerando maior infiltração e retardando a chegada da água
nos cursos de água. Quando a cobertura vegetal é retirada, não há resistência
ao escoamento e a água atinge os rios com maior facilidade e rapidez, contribuindo
também com o assoreamento dos rios, pois, sem a cobertura vegetal, os
sedimentos são carregados pela água e acabam depositados no fundo dos leitos
dos rios. Este fato é agravado quando há impermeabilização do solo. Outro fator que agrava as
inundações nos centros urbanos é o entupimento dos bueiros ocasionado pelo lixo
jogado nas ruas pela população. Em dias de chuva, com a impossibilidade do
escoamento pelos bueiros, a água concentra-se nas ruas de forma rápida,
causando transtornos no trânsito e no comércio, além de atingir residências e
causar todo o tipo de estragos.
UM PERIGO PARA A VIDA URBANA
As enchentes representam uma
ameaça para a população, especialmente nas áreas periféricas, onde há
deficiência de coleta e tratamento de esgoto. Em épocas de inundações, a
população tem contato com a água contaminada, contribuindo para a propagação de
doenças como a leptospirose. O processo de urbanização no Brasil, atualmente,
ocorre de forma intensa e, na maior parte dos casos, sem planejamento. Áreas
inteiras são ocupadas e loteadas, de forma clandestina ou não, contribuindo
para os processos de erosão. Esta urbanização desmesurada também leva a
população a ocupar áreas dos leitos de rios ou de mananciais. Tudo isso só faz agravar a
problemática das enchentes nos grandes centros urbanos. As soluções encontradas
para conter, da maneira que é possível, as enchentes seguem uma linha
imediatista na tentativa de alcançar a resolução do problema em um período
curto de tempo. Dentre as ações, destacam-se as obras de desassoreamento dos
rios (retirada dos sedimentos depositados pela água) e, consequentemente, o
aprofundamento do leito, com canalização e construção de reservatórios regularizadores
de vazão.
As medidas preventivas ideais para a solução das inundações são
fundamentalmente institucionais. A atuação e fiscalização dos órgãos
responsáveis (estaduais e municipais) no que tange ao uso e ocupação do solo, à
utilização dos recursos hídricos e ao cumprimento da legislação seriam um bom
ponto de partida para a solução do problema. Neste sentido, a má definição de
atribuições, ausência de uma política unificada e de competição entre os órgãos
públicos e o conflito de projetos são fatores que influenciam na resolução dos
problemas em curto prazo e o grande investimento de capital. Portanto, frente
aos problemas elucidados, é necessário um planejamento urbano coerente com a
gestão dos recursos hídricos e uso e ocupação do solo, respeitando as áreas de
várzeas e as encostas. Ressalta-se que estas áreas podem ser ocupadas, mas de
forma planejada, e as atividades devem ser compatíveis com as suas
características, como, por exemplo, a implantação de parques, ciclovias, áreas
para práticas esportivas ou exposições nas áreas de várzea. A conscientização
dos técnicos e da população de que as enchentes são um processo natural do
regime hidrológico de um rio é essencial para a implantação de medidas
preventivas que evitem os prejuízos vistos atualmente e com os quais toda a
sociedade tem que arcar. As enchentes representam uma ameaça para a população,
especialmente nas áreas periféricas, onde há deficiência de coleta e tratamento
de esgoto. Em épocas de inundações, a população tem contato com a água
contaminada, contribuindo para a propagação de doenças como a leptospirose.
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