Segundo uma lenda árabe, um elefante e um dragão lutaram até a morte na ilha africana de Socotra, a sudeste do Iêmen, fazendo brotar lá uma árvore cuja seiva é vermelha como sangue.
Mas
a ciência sabe que foi a batalha pela sobrevivência que encheu o lugar de
plantas exóticas como sangue-de-dragão.
Há 10 milhões de anos, Socotra não era uma ilha. Seus 3 600 quilômetros
quadrados estavam colados na África e faziam parte da atual Somália. De lá pra
cá o nível do mar subiu e ela ficou isolada no Oceano Índico. Enquanto
rinocerontes acabaram com a vegetação costeira em terra firme, a flora da ilha
sobreviveu às mudanças ambientais. As espécies mais resistentes ao clima semiárido, com ventos de até 43 quilômetros por hora, transformaram
Socotra em um dos maiores celeiros de espécies endêmicas .
Testemunha da história
A
Dracaena cinnabari, ou sangue-de-dragão, é a planta que mais se espalhou
pela ilha. É uma espécie endêmica remanescente, quer dizer, uma
sobrevivente da flora que desapareceu no continente. Tem folhas carnudas,
semelhantes às da babosa e do pau-d'agua, que se encontram no Brasil. Só que
é bem mais alta. Pode atingir cinco metros de altura. Seu nome está ligado
à resina de cor vermelho vivo chamada cinábrio, extraída das folhas e das
cascas do tronco e dos galhos. A população local usa essa substancia para
tingir lã e também como antisséptico bucal, matéria-prima para fazer batom e
remédio para dor de estômago, desinteria e queimaduras.
O
tronco bojudo da figueira socotrana, classificada cientificamente como
Dorstenia gigas, mostra que o endemismo de Socotra se caracteriza por
desenvolver plantas com mais tecido, capazes de armazenar a água da chuva que
cai no inverno para sobreviver durante a seca do verão. Apesar do nome, ela não
produz figo, mas um fruto que se assemelha à abóbora. Pode medir mais de um
metro, enquanto seus parentes mais próximos, encontrados no continente, ficam
entre 20 e 30 centímetros de altura.
Paraíso
perdido
A
região é formada por planícies costeiras semi-áridas, platôs e morros de
pedra calcária. Bem no centro estão as montanhas Haggier, de granito. Graças a
elas há um pouco de umidade durante o inverno, com as chuvas provocadas pelas
nuvens que se instalam nos picos que atingem até 1500 metros de altitude.
Por isso Socotra é conhecida como "a ilha das névoas".
Embora
seja chamada de pepineiro, a Dendrosicyos socotrana dá um fruto mais parecido
com os da paineira brasileira. É um prodígio botânico seu tamanho
ultrapassa os quatro metros e o tronco chega a um metro de diâmetro .
Vidas secas
A Asdenium obesum é conhecida como rosa do deserto. Suas flores são pequenas e o tronco grosso o suficiente para guardar água e sobreviver à seca.
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