A rainha de todas as florestas. Embora o planeta inteiro fique de olho na Amazônia, andar no meio dela é desafio para poucos. Além da beleza, da magnitude e do exotismo, a floresta impõe a força de seu aspecto selvagem.
Não só pelo tamanho, mas pelas mudanças bruscas de luminosidade, quantidade de sons bizarros em diversos momentos do dia, visibilidade complicada, perigos. Por dentro é um mundo aparentemente homogêneo, uma massa de verde que se altera com a escuridão das sombras. As árvores estão muito próximas, observa-se só o que está perto, não é como andar num campo ou numa praia. Um quati pode pular na sua frente, um bando de porcos selvagens virem em bando. Galhos caem, insetos aparecem. Faz um calor de até 40º C. Chove muito. Aventura incrível para alguns, ambiente inóspito para outros, a Amazônia é um santuário complexo, exuberante e necessário para a vida de todos. Vitória-régia
Ocupa mais da metade da área do Brasil,
que possui 67% da Amazônia em seu território. O bioma alarga-se pelos estados
do Acre, Amazonas, Rondônia, Amapá, Pará, Roraima, Maranhão, Tocantins e Mato
Grosso. O restante está em vários países: Peru, Colômbia, Venezuela, Bolívia,
Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Equador. A América do Sul é a região mais
rica da terra em biodiversidade só por causa da Amazônia.
Vista de cima, a paisagem é completamente irregular. A vegetação
vai de pedaços de cerrados a verdadeiras savanas, passando até por pedaços de
pequenas praias de rios e circundando cachoeiras inesperadas. Em linhas gerais,
a floresta divide-se
em terra firme e alagada e tem o aspecto de um composto de ilhas separadas entre
si por grandes ou pequenos rios. Cada um desses pedacinhos ainda pode ser
cortado por igarapés – riachos menores, alguns têm quase a largura de uma
canoa. Na floresta de terra firme, as árvores de até 50 metros de
altura lembram a paisagem da mata Atlântica. Mais abaixo da altura dessas
árvores há palmeiras e cipós.
É mais fácil andar numa floresta conservada
do que numa regenerada. Nas florestas secundárias, revividas de um
desmatamento, é mais difícil penetrar porque arbustos e emaranhados de galhos
novos impedem a passagem. Na floresta antiga,
basta caminhar com um facão na mão para cortar os cipós pela frente. Aliás, até
os cipós, tipo de planta que começa a vida na terra e se apoia em suportes para
chegar a grandes alturas, viraram objeto de estudo. Para as áreas de extração de
madeira, são considerados pragas. Mas ajudam os macacos e preguiças a se
locomover entre as árvores, produzem flores bonitas e têm função medicinal.
Pena que não é fácil ver macacos pendurados em cipó. Na verdade, é fantasia
imaginar na Amazônia um festival de bichos à mercê dos olhares de quem chega
por ali. Há momento e lugares certos para observar a fauna.
Nas terras alagadas, por exemplo, ninguém vai encontrar muitos
macacos. Essa parte da Amazônia sofre enchentes entre março e setembro, quando
os capins se destacam do solo e boiam na superfície d’água, com as
vitórias-régias. Os mamíferos mais presentes nessas áreas são as antas e as
capivaras, ótimos nadadores. As águas dos rios também são diferentes entre si.
Turistas lotam os barcos para ver o fenômeno de encontro das águas escuras do
rio Negro com a água turva do Solimões.
Os macacos estão aos montes na terra firme. Não necessariamente em
terra. No chão é mais fácil encontrar sapos, pererecas e formigas gigantes.
Animal considerado um dos principais símbolos da Amazônia, há mais de 100
espécies de macaco. Para vê-los, é melhor esticar o pescoço. De comportamento
arisco, dificultam a aproximação dos pesquisadores, escondendo-se e pulando
entre os galhos das árvores de 30 a 50 metros de altura. Dividem o espaço com
papagaios, tucanos, pica-paus, pavões etc. Sempre a dezenas de metros de altura
do chão, onde está a grande diversidade animal, para tristeza dos curiosos.
Um dos espetáculos mais incríveis da vivência na floresta Amazônica,
porém, pode ser apreciado de olhos fechados: o barulho dos bichos que sobressai
aos sons do vento nas folhas e o estalar dos galhos. Os sons da noite são
diferentes dos do dia, e as aves são os bichos mais barulhentos. As diurnas mostram
mais tipos de canto, caóticos e ritmados, a partir das 5 da manhã, depois de os
bichos da noite se calarem. Aves noturnas são, entre outras, corujas e
bacuraus, de canto mais simples e agudo, que aparecem ao cair da tarde. O pico
da barulheira é por volta das 9 da manhã. Desse horário em diante, a
temperatura esquenta e, de repente, um intrigante silêncio invade a mata,
durando mais de três horas. Provavelmente, os bichos fogem do calor, para se
alimentar e cuidar de suas crias.
A despeito da dificuldade em lidar com a mata e o pesadelo do
desmatamento, a população sobrevive em pequenas cidades ou conglomerados na
beira dos rios. O ribeirinho usa a canoa para movimentar-se, vive de caça e
pesca e mantém viva uma cultura cabocla de folclores religiosos e pagãos.
Índios geralmente habitam aldeias ao longo dos rios e abrem
trilhas que seus pés descalços percorrem com facilidade. Algumas comunidades
entraram em contato com a sociedade nacional (estudiosos preferem chamar assim
os “não-índios”), mas felizmente se estima dezenas de comunidades ainda
selvagens. Ou, como no caso dos zo’és, indígenas que são protegidos pela Funai
e vivem em estado praticamente isolado (à custa de muito trabalho por parte dos
indigenistas). Esses índios, como ocorre com muitas tribos amazônicas, andavam
vestidos e trabalhavam para o governo. A Funai lhes ajudou a retomar na medida
do possível os hábitos genuínos da tribo, que nunca viu televisão e pouco sabe
do que se passa além dos limites da mata. Quando os colonizadores europeus chegaram
na região, nos idos do século 16, milhões de índios viviam lá. Até o fim da
década de 40, quatro séculos depois, não houve interferência humana na paisagem
vegetal. Depois dessa data, muito foi destruído, até mesmo as tribos. Sobraram
poucos dos selvagens moradores mais respeitosos da Amazônia.
Área total - 6 683 926 km²
Área intacta - 80%
Área protegida - 8,3%
Conservação e ameaça peixe-boi
Infelizmente, o jeito com que as pessoas mais olham a Amazônia não
é de cima ou de baixo: mas de fora. As ameaças a esse santuário são tão grandes
quanto seu tamanho. O desmatamento continua sendo a pior delas. Em 2003, foi
registrado o segundo maior da história da Amazônia: 23750 quilômetros
quadrados. Na parte brasileira. Já foram desmatados nada menos que 652908 quilômetros
quadrados dentro do país. É uma situação bastante grave. Empresas de alto porte
investem pesado milhões de dólares para comprar milhões de hectares com o
objetivo de sempre: extrair madeira. As reservas minerais também atraem
exploradores de cobre, chumbo, ouro, estanho e outros. O Brasil pouco
conseguiu proteger de forma adequada a região dos Carajás. A caça de animais
silvestres e a pesca também são motivo de alerta, tanto pelo prejuízo da fauna quanto
da flora.
Um dos principais grupos envolvidos na prevenção da destruição de algumas
regiões da floresta são os índios, que cuidam de 397 reservas
indígenas, 24,4% da Amazônia brasileira. Os kayapós são os mais engajados. O
governo brasileiro, depois que recebeu a notícia do crescimento de 40% do
desmatamento, criou um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), que propõe
medidas de redução do desmatamento. É uma união de esforços da Presidência da
República com os ministérios do Meio
Ambiente, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Ciência e
Tecnologia, da Defesa, do Desenvolvimento Agrário, da Justiça, da Indústria e
do Comércio Exterior, da Integração Nacional, das Minas e Energia, dos
Transportes e do Trabalho. Ainda existem grandes oportunidades de conservação
nesse bioma que deveriam ser aproveitadas ao máximo pelas autoridades.
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